Amélia aparece na porta da escola e sorri assim que vê os filhos. Ela acena de longe e assim que os liberam, Clarinha corre para abraçar a mãe.
– OWEN, A MAMÃE ESTÁ AQUI! – Clarinha berra no meio do caminho e m*l aguenta a felicidade em seu coraçãozinho.
Com sua enorme mochila nas costas, que é quase do seu tamanho, ela se move com dificuldade, mas nada a impede de pular nos braços magros da pessoa que mais ama no mundo.
Ficando na altura de sua filha, Amélia inala seu cheirinho de bebê e beija sua bochecha várias vezes.
– Mamãe está aqui, florzinha.
Owen corre com a mesma intensidade e brilho nos olhos ao ver a mãe, que assim que põe os olhos no filho abraça o menino com bastante força e beija o topo de sua cabeça. Ainda preocupada por causa de sua febre, ela põe as mãos em seu rosto bonito e verifica sua testa. Em instinto protetor, ao se levantar puxa Clarinha para perto dela mantendo-a entre os dois.
– E você meu homenzinho? Como passou na escola? Teve dor de cabeça? O nariz ainda está entupido, né? – Pergunta encarando o filho com os olhos imensos.
– Eu passei bem, mãe. Não se preocupa. Meu nariz está escorrendo e as vezes fica entupido sim. – Ele abraça seu corpo e Clarinha dá risada por ficar no meio dos dois.
– Vamos, vamos para a casa, que eu vou fazer um almoço para gente e eu tenho uma surpresa. Vocês vão gostar – Amélia instiga pegando a mochila de Owen, bem pesada por causa dos cadernos, e Owen pega a mochila de Clarinha como sempre.
O caminho para a casa é repleto de conversa. Clarinha conta tudo o que faz na escola e depois é a vez de Owen. Amélia sempre ouve com muita atenção e fica feliz em saber que eles gostam de contar para ela o que fazem. Amélia se sente amiga de seus filhos. Jason não se interessa muito pelo o que fazem, ele liga apenas para os números que aparecem no boletim ao final de cada bimestre.
Ao chegar em casa ela começa seu segundo expediente. Faz o almoço, dá banho nos filhos, brinca um pouco dando a devida atenção, ajuda os dois com os deveres, o que leva um bom tempo, pois eles têm bastante lições, lava, passa e não para um segundo. Ela toma conta de tudo.
O dia passa rápido demais. Amélia tem muitos afazeres e queria ter mais tempo, mais ânimo, mais energia para fazer as coisas. Ela queria mesmo era ter mais ajuda. Só não percebe isso. Embora seja cansativo, ela gosta de passar o dia todo com as crianças.
Já é tarde quando seu marido chega. Ela termina de passar sua última camisa quando ouve o barulho do carro e põe a peça na pilha de roupas perfeitamente dobradas. Amélia observa Jason fazer as mesmas coisas que faz quando chega. Abre a porta devagar. Olha para ela de cima a baixo quando a põe os olhos nela e joga a mochila no primeiro canto que encontra. Sempre em cima do sofá. Amélia odeia. Tem o lugar certo para colocar.
Hoje em especial, ele sorri e chega perto dela. Ela sente um frio na barriga toda vez que ele a toca. Um frio na espinha bem r**m. Ela tem medo. Suas mãos ásperas tocam sua cintura fina e ele aproxima seu rosto ao rosto delicado dela. Um beijo macio é deixado lá e depois um abraço vago e frio é dado.
Eu queria que ele fosse carinhoso assim comigo sempre. Ele é bom, às vezes. Temos nossos momentos bons. Não são tantos quanto no começo do nosso namoro, são raros na realidade, mas seria bom um pouco de afeto. Seu toque é áspero. Às vezes me arranha. Seu abraço é indiferente. São tantos anos de casados que acho que perdemos a nossa magia. Ele não me procura com tanta frequência, mas às vezes faz. Ele podia se esforçar mais um pouco, sorrir mais, me beijar mais.
– Oi, meu amor. – Murmura e olha para mim.
– Oi. – Respondo baixinho. – Seu jantar está na geladeira.
– Como sempre. – Ele se fasta indo até a cozinha. O clima é sempre estranho quando ele está perto. – E as crianças?
– Comendo... – Falo e me bate um desespero. Vou atrás dele, pois elas estão comendo o bolo que eu fiz hoje cedo. Ele vai reclamar eu tenho certeza.
Sigo Jason até a cozinha e fico na porta observando.
– Estão comendo bolo. Que gostoso. Não tem pra mim? – Pergunta pegando grosseiramente a colher da Clarinha que reclama na hora.
– Papai! – Fico com dó da minha menina ao vê-la com os olhos cheiros de lágrimas e tento pegar a colher de volta, mas ele não deixa.
Jason pega um pedaço do bolo, prova e me entrega o talher. Clarinha para de chorar quando Owen concede a colher dele para ela. Olho fixo para Jason que mastiga e levanta as sobrancelhas me encarando de volta com uma cara nada boa. Ele vai dizer que está r**m.
– É isso o que serviu para as pessoas no bar? Muito oleoso. Vai acabar matando as crianças. – Jason pega o prato com o doce e joga o pedaço no lixo.
– Ei! – Owen protesta, mas nada adianta.
– JASON! – Grito indo até o lixo rapidamente e olhando o bolo no meio de toda a sujeira.
Meus olhos ficam marejados e meu coração se parte quando vejo minha filha chorar. Owen abraça a irmã e olha com raiva para o pai. Sem acreditar no que ele fez eu passo a mão no rosto e fico imóvel. Que filho da p**a.
– É só aprender a fazer um bolo descente, meu amor. Aí não jogo no lixo – Ele beija minha têmpora e abre a geladeira pegando o prato dele.
– ERA O MEU BOLO – Minha filha grita me tirando do transe.
Jason olha com fúria para minha menina e depois relaxa o olhar. Ele nunca bateu nela e nunca levantou a mão. Ainda bem. Se não eu nem sei o que faço. Em mim ele até bate, mas em meus filhos não. Vou para perto deles e a pego no colo. Puxo Owen para perto de mim num abraço e levo os dois para o quarto, mesmo quando Jason protesta e ordena que eu volte para a cozinha.
Sento com ambos na cama de Owen e beijo a bochecha deles. O que Jason fez foi c***l. Ele não podia fazer isso com eles. São só crianças. Eles comem porcaria. E meu bolo não estava r**m. Ou será que estava? Meu bolo não era porcaria. Ou será que era?
– Mãe, ele não tinha o direito. Eu estava comendo. O bolo era nosso. A senhora trouxe para a gente. – Owen confessa frustrado por não ter comido o suficiente.
Depois de beijar a testa do Owen, limpo as lágrimas da minha pequena que não para de chorar.
– Eu sei, meu amor. Desculpa. A culpa é minha. Eu devia ter dado para vocês comerem mais cedo. Desculpa. Eu estava com tanta coisa pra fazer. Eu esqueci. – Falo chorando e abraço os dois – Perdoa a mamãe. Foi culpa minha.
– Era... Meu bolo... Mamãe – Clarinha soluça aos prantos toda vermelha e eu me sinto mais culpada ainda.
– Não chora. Não chora, que depois a mamãe vai fazer outro bolo e vai trazer pra vocês. Só pra vocês. Vou trazer um monte de bolo. – Falo fazendo Clarinha me olhar.
– Vai?
– Vou. Só pra você e pro seu irmão.
– Só... pra gente. Pra ele... não – Soluça parando de chorar aos poucos. Funga o nariz e eu sorrio com tanta fofura.
– É. Para ele não.
Amélia fica no quarto com os filhos por mais alguns minutos até Clarinha pegar no sono. Ela a deita na cama do filho e ajeita os dois juntos. Owen ainda está acordado então Amélia afaga seu cabelo bonito e sorri com amor para ele.
– Você foi forte. Deu sua colher para ela, a abraçou quando ela precisou e agora vai ficar com ela. Você é o meu homenzinho e é o dela também. Protege ela assim sempre, tá? – Beija sua testa e Owen e retribui beijando sua bochecha.
– Eu te amo muito, mãe. Mas só você.
– Eu também te amo muito, Owen. Você é o meu homem bom da casa., mas não fala assim, ele é seu pai.
Owen queria dizer que não gostava dele. Que queria que ele nunca mais batesse nela. Queria dizer que sabe que a mãe apanha e que ela tem que largar ele e não se casar nunca mais. Mas ele preferiu ficar quieto. Sabe que a mãe ficaria arrasada.
Eles ouvem o barulho da porta se abrir devagar e olham para ela. Jason está em pé já com a samba canção e de banho tomado.
– Estou te esperando no quarto, Amélia. Não demora. – Diz e fica parado encarando os três por alguns segundos. Depois se retira indo até o quarto deles.
– Não vai não, mãe. – Owen pede segurando sua mão. – Dorme aqui com a gente – Diz baixinho depois que Clarinha se mexe um pouco.
– Hoje... Hoje não dá. – Diz sem saber o que dizer. – Amanhã eu durmo. E prometo que trago outro pedaço de bolo. Pode ser? – Owen sorri para a mãe com seu sorriso igual ao dela.
– Tá bom.
– Eu te amo, meu homenzinho.
Amélia beija os filhos antes de ir ao seu quarto. Jason mexe no celular quando ela chega e bloqueia no mesmo momento. Ainda irritada e indignada por conta da atitude c***l que ele teve, Amélia cruza os braços parando na beira da cama e encara seu marido.
– Por que fez aquilo? Foi c***l, Jason! Sua filha está arrasada. O Owen pode não demonstrar, mas ele está bem triste. Foi ridículo o que fez.
Seus olhos ficam marejados mais uma vez e um nó tão grande se instala em sua garganta que quase a faz parar de respirar. Ela dá a volta na cama e deita em seu lado com lágrimas nos olhos.
– Eu já falei. É só fazer direito – Jason diz como se não magoasse os sentimentos de sua mulher, mas ele sabe que magoa.
Ele sabe que o bolo estava impecável. Então, porque fez isso? Por que ele é c***l. Ele não quer dar poder a Amélia. Ele não se deu conta, mas não é nada sem ela. Amélia faz tudo por ele e para ele. Jason não é nada. Ele não vai deixá-la ser independente. Não vai dar incentivo para seus bolos. E se ela se sucede? E se ela conhece alguém melhor? Jason jamais deixaria isso acontecer. Jason é um canalha, ele sabe disso, no fundo ele sabe. Só não admite.
Amélia deita de costas para seu marido na esperança de que ele não a tocasse. Ela não quer sexo. Mas ocorre exatamente ao contrário. Jason toca seu ombro e logo depois deposita um beijo. Ela sente um calafrio terrível pelo seu corpo todo. Sua incrível capacidade de ser bruto, e logo depois, carinhoso o torna temporariamente humano. Amélia não percebe isso. Jason puxa seu corpo pequeno e esbelto para si e deposita um beijo em seu pescoço.
– Já passou, logo ela esquece, meu amor. – Diz com um tom suave. – Logo eles esquecem. – Sussurra beijando seu braço em sinal de um amor estranho que ele sente por ela. Jason faz Amélia deitar de costas na cama e sobe em cima dela concedendo carícias e beijando-lhe o rosto em diversas partes. – Já passou, somos só eu e você agora, meu bem. – Limpa suas lágrimas e lhe dá um sorriso.
Mesmo não estando confortável o suficiente, sua carência extrema a permite passar por essa situação. Amélia deixa que Jason a possua. Amélia se rende por alguns minutos de carinho. Só para se sentir amada e desejada. Ela não tem muito disso. Não tem o toque de um homem o tempo todo, não recebe carinhos, elogios e carícias como uma mulher deveria receber. Apesar de ser tímida, odiar sexo e ser bem reservada, ela gosta de um abraço forte, um peito rígido e quente em suas costas, e uma boca em sua testa. Ela é amorosa, romântica, adora um chamego e é doce.
– Você é linda – Diz e toma seus lábios finos.
Jason tem um bom físico, apesar das cervejas, ele cuida do corpo, então ela se permite passar as mãos em suas costas. Ela aproveita enquanto ele ainda está sendo carinhoso. Pois geralmente, Jason não é nada calmo. Sempre lhe arranca as roupas com pressa ou pede que ela mesma as tire. Tudo muito mecânico. Ele pega em seu corpo com força, não tem jeito para segura-la e também nem para penetra-la. Ele é bruto e duro. Sexo com ele é assim. Ele sempre está no controle. Ele gosta com força e violência. Ele sente prazer ao ver a esposa frágil domada. Ele só não sabe que há uma linha tênue entre violências e fantasias.
Jason levanta a camisola de Amélia e tira sua calcinha preta sem delicadeza alguma. Depois de jogar o tecido no chão, aperta seus s***s com força e ela faz cara de dor. Com rapidez e pressa, ele abocanha o direito.
– Jason, calma. – Pede quando ele morde com um pouco mais de força.
– Fica quieta, Amélia. Toda vez isso. – Diz passando posicionando sua glande na entrada de Amélia. – Parece que vai quebrar. Sempre pedindo calma.
Como de costume, ele a penetra sem avisar. Apenas cospe em sua mão antes para lubrificar e a invade. Para Amélia, a dor de ser invadida é totalmente normal. Então, ela não reclama. Ela está acostumada. É sempre assim. No começo sempre dói. Sempre doeu, desde sua primeira vez. Desde sua Lua de Mel. Amélia é ingênua para muitas coisas. Não sabe que é estuprada pelo próprio marido. Não sabe que a dor "totalmente normal" que ela sente, não deveria estar ali. Ainda mais depois de anos com uma vida s****l ativa. Amélia simplesmente não sabe. O toque áspero, o jeito brusco, a violência e a força é o conceito que ela tem sobre sexo. Ela não tem orgasmos há anos. Sua realidade é essa.
Ela não gosta de contar sua vida privada para todos, não gosta de dizer o que acontece dentro de sua casa. Como vai saber que a realidade que ela vive poderia ser totalmente diferente? Não tem como. m*l conversa sobre esses assuntos com ninguém, embora Lúcia tente arrancar-lhe algo. Ela tem vergonha e não acha um assunto interessante.
Para ela, é a mesma coisa há muito tempo. Amélia já sabe de cor o que acontece. Há dois jeitos diferentes. Ele fica carinhoso e um pouco safado, pega em sua carne na frente dos filhos sem pudor algum o que faz Amélia morrer de vergonha e tentar fugir ao máximo quando ele acorda nesses dias. A noite o carinho continua, nessa situação, Jason a coloca em algumas posições e gosta de variar, mas tudo acaba com força, aspereza e falta de empatia. Ele a trata como se ele fosse uma boneca e não sentisse dor. Ele a invade por todos os lugares sem pedir. Pois na realidade deles, tem o direito a isso. É o marido dela, então ela pertence a ele. E ela tem que aceitar. Ela tem que estar ali pronta para ele. Tem que estar a mercê e fazer o que quiser. E ela faz.
Que ultrapassado, não?
O outro modo é quando ele simplesmente começa tocando nela, sobe em cima e faz o que tem que fazer. Ela já está acostumada com isso. Sua pele branca fica com hematomas, claro. Ele não tem jeito com ela. É um trasgo. Jason é bem maior que Amélia. Qualquer um é maior que Amélia. Talvez um dia a realidade dela mude.
Quando acaba, ele simplesmente sai de cima dela e vira para o lado. Muitas vezes, Amélia agradece a Deus por acabar logo e não durar muito. Jason deita de costas um pouco ofegante, mas logo vira para o lado e dorme. É sempre assim. Dolorida e com os pulsos doendo ela vai até o chuveiro. Jason segurou forte neles, além disso colocou todo seu peso em cima enquanto estocava com força.
Ela toma seu banho e se lava para se sentir melhor. Ela diz isso para si mesma, mas na verdade ela quer se sentir menos suja, ela quer tirar Jason dela, quer ficar limpa. Ela vê, mas não enxerga. Sente, mas não acredita! Ela se sente nojenta depois do sexo. Não se sente sexy e nem bonita. Tem vergonha de muitas posições e se acha horrível.
Amélia é uma mulher extremamente linda. É armada até os dentes, uma pena não saber manejar armas.
Ao deitar na cama, ela vira de costas e tenta cair no sono. Não é nada traumático para ela, mais uma vez ela se acha forte por aguentar toda sua rotina calada. E mais uma vez, infelizmente, está completamente errada.
***
A correria toma conta do bar. Várias pessoas almoçando e desta vez algo bem especial. Um grupo de 10 pessoas vieram conhecer as cachoeiras de Hills Valley e movimentaram bastante o bar. Tom está amando os turistas e os funcionários também. Amélia tem ganhado boas gorjetas por conta de seu atendimento e beleza. Alguns homens sempre deixaram dinheiro a mais para ela, mas sempre em segredo por conta de Jason. Agora com os novos turistas, eles não hesitam em lançar olhares para Amélia e seu corpo lindo. Eles deixam boas notas em seu bolsinho do avental.
Ela chega ficar até sem graça em algumas vezes, tem que recusar alguns convites e jogar fora alguns números de telefone que recebe anotados em pequenos guardanapos. Tom fica sempre de olhos em suas garotas como se fosse um cão de guarda. Ele sabe como tem homens que podem ser nojentos e por isso fica pelo salão quando a casa está cheia.
Amélia serve as bebidas dos 10 turistas e volta ao bar. Lucia prepara um drink para um homem do outro lado do balcão e o entrega. Um chopp geladinho acompanhado de uma porção de linguiça calabresa com cebola. Lucia sorri para a Amélia e anda até ela animada.
– Aqui está o fervo, Amélia! A cidade toda está almoçando aqui. – Lucia sorri abertamente olhando para o salão e conferindo se alguém precisa de algo.
– Sim, estamos trabalhando bem.
– Desse jeito, com tantos turistas e tanta gente nova, pode ser que Tom aumente nosso salário. – Sussurra aos risos bem próxima a Amélia e ambas se assustam quando Tom limpa a garganta.
– Eu vou pensar sobre esse aumento, Dona Lucia. Para Amélia é garantido. Para meus rapazes também, o Léo vem servindo mesas como ninguém, tem rodinha nos pés. Você está deixando a desejar – Brinca humorado como sempre e Lucia dá um beliscãozinho nele.
– Cara, você só me põe para baixo. – Os três riem juntos.
Tom vê que alguém o chama e vai diretamente para a mesa. Ele faz isso de tempos em tempos para saber se está tudo certo. Aproveitando estar sozinha com Lucia, Amélia cria coragem para perguntar sobre o bolo que fizera ontem cedo. Ela ficou insegura e mesmo com medo de ela perguntar o porquê, ela respira fundo e faz.
– Lucia. Seja sincera. O bolo que fiz ontem, ficou oleoso? – Pergunta aflita.
– Claro que não. Estava ótimo! – Lucia diz – Por que está preocupada com isso hoje? – Lucia cruza os braços e encara a imagem miúda, mas esbelta. Seu coque está preso e perfeito.
Ah, é tão linda – Lucia pensa. – Ela levou um pedaço quando fora para casa. O bruto do marido dela deve ter botado defeito, eu tenho certeza. Ah, como que pode? Uma dama, ela é uma dama, parece que saiu de um filme, uma dama estar casada com um grosso como Jason? Ele é bom às vezes, eu reconheço, eles se amam eu sei. Tem filhos e são uma família. Mas ela não combina com ele.
– Jason colocou defeito, né? – Lucia pergunta e Amélia fica vermelha. Ela não responde nada, põe sua mão direita no rosto, e cruza seu braço esquerdo apoiando o cotovelo direito. Ela assente com a cabeça e Lucia respira fundo. – Amiga, estava uma delícia, confia em mim. Eu sei que é seu marido, e que você o ama, mas as vezes ele põe defeito em coisas que não tem.
– É, ele faz isso às vezes – Diz.
Ele faz isso sempre
– Bom, desencana disso. Estava ótimo. Vamos terminar o nosso expediente. – Lucia deposita um beijo na bochecha dela e ambas retornam ao trabalho.
Quando acabam, Amélia se apressa para pegar a bolsa. Tem que buscar os filhos na escola. Vai até os fundos. Ajeita sua calça preta cintura alta. Coloca seu relógio, pendura a bolsa e o casaco no braço e finalmente passa pela porta vai e vem.
Amélia sente o baque em seu corpo todo quando seus olhos grandes miram em olhos castanhos, mandíbula marcada, barba alinhada, cabelos lisos e bem bonitos sob sua cabeça grande comparada a dela, mas proporcional ao corpo. É como se levasse um soco. De onde saiu o bonitão?
Ao lado do Xerife Joe, está parada uma muralha. Amélia pensa ter dois metros de altura, ela fica imóvel olhando toda a bagagem. Não consegue parar de observar. Está hipnotizada. Rosto bonito demais, postura de homem alfa, abaixo do maxilar marcado e duro como pedra, ele tem um grosso pescoço desenhado por veias saltadas no momento.
O peito é de um gladiador. Daquele que lutam bravamente em guerra. Os braços são tão fortes e grandes que num soco ele poderia quebrar a pedra do balcão. Pernas longas e grossas. Ele é um homem grande, sim. E como Amélia é miúda, sua percepção sobre ele é mais exagerada. O homem a qual Amélia não para de olhar usa uniforme como o do Xerife, mas na cor preta. Tem a estrela em ouro reluzente em seu peito rígido e tem uma arma em sua coxa imensa no suporte dela. Parece mais um policial militar do que um xerife. É sexy e Amélia se sente atraída por toda sua beleza inacabável. Ela sente um frio na barriga observando os traços masculinos que tanto a fascinaram. Amélia não via um homem tão intenso e bonito desde a adolescência.
Ela só tem olhos para Jason, que não é nada m*l, sua personalidade o deixa feio e podre. Se fosse alguém bom, seria um galã. Não tão galã quando os dois metros de puro t***o e perfeição, mas seria.
Seus pequenos olhos castanhos, com traços fortes, intensos, mas neste momento preguiçosos de sono, o que o deixa mais atraente ainda, se cruzam os olhos delicados e desta vez esbugalhados de Amélia em meio da conversa. Ele desvia uma vez, mas rapidamente mira a mulher como uma águia.
Assim que põe os olhos nela, m*l tem tempo de pensar em algo. Só em como tem olhos bonitos. Todos param de conversar e olham para a figura pequena e calada. Ela não consegue dizer nada. Apenas desfaz o contato, pois suas pernas tremem, e olha para todos de volta.
Lucia está debruçada no balcão apaixonada pelo bonitão. Óbvio. Ela olha para a Amiga e pisca aprontando para ele. Lúcia está mais que afim do gostosão e fica toda assanhada. Amélia sabe bem como Lúcia é e sorri para a amiga já sabendo que ela vai tentar algo. Lúcia não deixa passar ninguém.
– Ahhmm... Eu... – Tenta balbuciar alguma coisa, mas obviamente não consegue.
– Amélia. Que bom te ver. Venha conhecer o...
Amelia não deixa o Xerife terminar de falar. Apenas olha para o relógio no meio de tantos olhos que lhe encaram e desperta do transe.
– Meus filhos, Xerife. Meus Filhos. Fica para a próxima. Eu estou atrasada. – Se apressa a dizer enquanto dá a volta no balcão – Eu falo depois, eu... Meus filhos. – Manda beijo para todos saindo como um furacão dali.
Olha para a muralha como ela mesma pensou antes de ir e ele a encara de volta olhando para ela. Queria observá-la por mais tempo, não deu para contemplar a doçura dela e o frio que sentira na barriga indicava que ele estava bem fodido. Era o mesmo frio que sentira quando vira sua ex-mulher pela primeira vez. Mesmo curioso para saber quem era e porque saíra como um furacão, ele presta atenção na conversa e ouve atento o que os três tem a dizer sobre Amélia. Coisas boas apenas.
Ah, meus deuses. O que foi isso? O que? Meus Deus. Minhas pernas ficaram bambas e que frio na barriga. Ele dever achar que sou m*l educada. Não falei com ninguém. Mas tenho que buscar as crianças. Elas já me esperam demais na escola. Não dá.
Que homem lindo. Minha nossa. Quem será que era? Bom se eu tivesse ficado para conhecê-lo talvez eu saberia. Ah, fazia tempo que eu não via alguém assim. E como era grande, minha nossa, muito alto e grande. Ah, tenho que me apressar.
Amelia respira fundo e aperta o passo em direção a escola.
No bar, Joshua, ou a muralha, ao conversar com Tom e Lúcia percebe o quanto Amélia é querida. Ele não teve muito tempo para reparar nela, apenas nos olhos, claro, e em como ela é esbelta. E ela é mesmo. Amélia é uma das mulheres mais lindas da cidade toda. Muitas vezes nos festivais tradicionais da cidade, há concursos de beleza e Amélia só não participa, pois Jason a proíbe. Não quer ver ninguém a elogiando e muito menos vê-la em um concurso. Ela se daria conta de que tem mais poder na mão do que imagina e largaria ele em um segundo se soubesse a quantidade de homens que a deseja. Ela ganharia com certeza.
Bom, parece que entrou mais um na fila. E é uma fila longa. Até demais.