Kadu
A madrugada desceu densa sobre o morro. O cheiro de pólvora ainda pairava no ar, misturado ao da ferrugem e da terra molhada. O vento cortava os becos como um sussurro antigo, trazendo notícias que ninguém queria ouvir. A traição tinha nome, rosto e sangue.
Acordei com o toque seco no rádio às três da manhã. Voz trêmula de um dos meus homens:
— Don... pegaram o Leal na viela dos fundos. Tentou sair com dois fuzis escondidos.
Leal. Um dos meus mais antigos. O tipo que jurava lealdade com os olhos baixos e o sorriso fácil. Quando o sangue começa a subir rápido, não há tempo pra luto. Há só decisões.
Levantei da cama com o corpo ainda quente do toque de Anna. Ela dormia no quarto ao lado, e o silêncio que vinha dali era quase um pedido de paz. Por um segundo, pensei em ficar. Só um.
