Kadu
O trono tem muitas vozes. Algumas sussurram lealdade; outras, lâminas. Acordei com o gosto metálico da noite ainda preso ao paladar — gosto de decisão e de sono interrompido — e senti no ar uma inquietação que não se explicava apenas pela rotina. O morro fala antes de agir. Hoje, sussurrava.
No café, Dinho trazia notícias com a calma de quem despeja água no copo: nem quente demais, nem fria. Mas, quando ele falou, havia um recorte novo na voz, aquele tom que eu ensino a reconhecer como sinal de perigo: “Chefe, tem boca solta lá embaixo. Dizem que a moça dos Ipês tá de ventre.”
O copo parou entre meus dedos. A fumaça do café subiu e, por um segundo, tornou-se vela a queimar um nome.
— Quem? — perguntei, controlado.
— Não é só um, não. Tem bilhete de banca, tem recado no bar, tem g
