O caminho até a casa de Judy sempre me trazia uma sensação peculiar. Não era medo, nem estranhamento... era um tipo de conforto difícil de explicar. Como se cada passo me levasse para um lugar fora do tempo, onde o mundo lá fora não pudesse me alcançar.
A casa dela ficava em um bairro tranquilo, cercada por árvores altas e jardins com ervas e flores silvestres. Assim que estacionei e caminhei até a entrada, o aroma suave de incenso e ervas secas já me envolveu antes mesmo que eu batesse à porta.
Judy abriu com um sorriso leve, seus olhos castanhos e intensos me analisando com aquela curiosidade que sempre parecia enxergar além da superfície. Ela usava uma blusa solta de mangas largas, levemente transparente, combinada com uma saia longa de tecido leve. O cabelo cacheado e n***o caía em ondas até os ombros, destacando sua pele morena.
— Até que enfim — ela disse, abrindo mais espaço para que eu entrasse.
Sorri e entrei, sentindo aquele calor familiar que sua casa sempre proporcionava. O ambiente era um reflexo de sua personalidade: intrigante, acolhedor, e carregado de significados ocultos.
A sala era iluminada por velas aromáticas e lâmpadas de sal, espalhadas estrategicamente pelos móveis. Pequenas prateleiras exibiam livros antigos sobre espiritualidade e astrologia, enquanto uma grande tapeçaria bordada com símbolos místicos adornava a parede principal.
No centro da mesa de madeira rústica, cristais estavam cuidadosamente organizados ao lado de um baralho de cartas de tarô e uma tigela de cerâmica que ainda soltava um fio de fumaça, como se tivesse sido usada para queimar ervas recentemente.
Suspirei, cruzando os braços e olhando ao redor.
— Sua casa sempre parece ter saído de um outro mundo.
Judy soltou uma risada baixa.
— Talvez tenha.
Ela caminhou até a cozinha e voltou com duas xícaras de chá fumegante, me entregando uma antes de se acomodar na poltrona em frente ao sofá onde eu estava.
— Então… esse tal de Zack — ela começou, mexendo distraidamente na alça da xícara. — Você sabe que isso foi muito estranho, né?
Revirei os olhos com um sorriso.
— Eu já esperava que você fosse dizer isso.
— Mas é verdade! — Ela insistiu, inclinando-se para frente. — Um cara lindo aparece do nada, praticamente ignora você no início, e depois pede seu número assim, do nada?
Suspirei, girando a xícara de chá entre as mãos.
— Eu sei… e o mais louco é que parecia certo. Não sei explicar. Eu olhei para ele e algo dentro de mim simplesmente… soube. Como se ele fosse alguém que eu já conhecesse de outra vida.
Judy me olhou com um misto de diversão e algo mais profundo, quase uma preocupação.
— Você acabou de descrever a premissa de um romance sobrenatural.
Dei uma risada curta, mas logo fiquei pensativa.
— Mas e você? Como tem passado? — perguntei, mudando de assunto.
O brilho descontraído nos olhos de Judy desapareceu um pouco. Ela apoiou o cotovelo no braço da poltrona, repousando o rosto na mão.
— Na verdade… é sobre isso que eu queria te falar.
Me ajeitei no sofá, sentindo um leve arrepio subir pela espinha.
— O que foi?
Ela suspirou, como se estivesse escolhendo as palavras certas.
— Eu tenho tido uns sonhos estranhos ultimamente.
— Que tipo de sonhos?
Ela ficou em silêncio por um instante antes de falar, como se estivesse tentando lembrar de cada detalhe.
— Eles são diferentes de qualquer coisa que eu já sonhei.
Judy soltou um longo suspiro, como se a cada palavra estivesse tirando um peso de seu peito.
— Eu estou em uma floresta, rodeada por pessoas. Elas estão com tochas, e todas estão cantando algo que eu não entendo. As palavras parecem antigas, mas… não é um medo o que eu sinto. Pelo contrário, sinto uma conexão profunda com aquilo, como se eu já tivesse vivido isso antes.
Meus olhos se arregalaram, e um calafrio percorreu minha espinha.
— E o que mais?
Judy hesitou antes de continuar.
— Eu ouço uma mulher, Maya. Ela está ao meu lado, sussurrando em meu ouvido: desperte. Eu acordo assustada, com o coração disparado e suada. É sempre assim. E sinto que preciso entender. Como se fosse uma mensagem.
Fico pensativa e percebo que Judy também, apesar de ela ser bem espiritualizada ela ficava incomodada com esses sonhos, eu conseguia perceber que aquilo tudo mexia com ela.