Eu estava sentada no sofá de Judy, o cheiro de incenso ainda pairando no ar, tentando processar tudo o que tinha acontecido. O banho de sal grosso parecia ter me limpado de alguma forma, mas a sensação de angústia que ainda apertava meu peito não passava. Algo dentro de mim sabia que o sonho não era apenas um pesadelo. Havia uma força maior por trás de tudo isso, algo que eu ainda não entendia completamente. E o pior de tudo era que eu estava sozinha nessa jornada, sem respostas.
Judy parecia tranquila, como se já tivesse visto algo do tipo antes. Ela estava concentrada na tela do laptop, digitando com agilidade. Eu a observava, tentando absorver o que ela estava fazendo, e ao mesmo tempo, tentando acalmar minha mente. Eu sentia que estava à beira de um precipício, sem saber em que direção seguir.
"Eu pesquisei sobre sonhos estranhos, sonhos premonitórios. Eles podem ser sinais de algo, Maya", Judy disse, interrompendo meus pensamentos. Sua voz soava calma, mas havia uma certa seriedade que me fazia prestar atenção nas suas palavras. "A maioria das fontes fala sobre a possibilidade de espíritos ou energias que tentam se comunicar através dos sonhos. Esse seu pesadelo... eu sinto que ele pode ter uma origem além da sua mente."
As palavras de Judy me atingiram como um soco no estômago. Espíritos? Energias? Eu nunca tinha acreditado nessas coisas antes. Sempre fui cética, racional, mas algo me dizia que agora eu precisava olhar para isso de outra forma. Havia algo de muito estranho acontecendo, e talvez, só talvez, isso fosse a chave para entender tudo.
"Eu não entendo... por que comigo? Eu nunca... nunca senti nada assim antes. Como se fosse real demais", falei, minha voz vacilante, tentando expressar a confusão que tomava conta de mim.
Judy me olhou, seus olhos profundamente compreensivos, como se ela já soubesse o que eu estava sentindo. Ela colocou uma mão em cima da minha, e o toque gentil me acalmou por um segundo, mas a dor e o medo ainda estavam lá, como uma sombra.
"Eu sei, Maya. Eu sei que é difícil. Mas esses sonhos... eles podem ser muito mais do que um simples pesadelo. Às vezes, eles podem ser um aviso, ou... uma mensagem de algo que está tentando se comunicar com você. E eu sinto que esse não é um sonho comum", ela falou, com a voz suave, mas cheia de uma sabedoria que eu não conseguia compreender completamente.
Eu respirei fundo, tentando processar as palavras dela. Um aviso? Uma mensagem? Tudo isso estava ficando cada vez mais confuso. Eu nunca tinha sentido nada assim antes, nem mesmo quando estava passando por fases difíceis da minha vida. Esse sonho... era diferente.
Judy continuou digitando no computador, mas sua atenção estava completamente voltada para mim. Ela parecia estar considerando algo, como se estivesse tomando uma decisão importante.
"Eu tenho uma amiga... uma amiga que é espírita. Ela é muito experiente com essas coisas. Talvez ela possa ajudar", Judy sugeriu, interrompendo os meus pensamentos. "Podemos marcar uma sessão com ela. Às vezes, ter alguém que entende o espiritual pode trazer clareza."
Eu a olhei com uma mistura de ceticismo e curiosidade. Uma espírita? Eu não sabia o que pensar sobre isso. A ideia de ir a uma sessão com alguém que trabalhava com o espiritual era completamente nova para mim. Mas, ao mesmo tempo, eu sentia que talvez fosse a única maneira de entender o que estava acontecendo.
"Você acha que ela pode realmente ajudar?", perguntei, minha voz baixa, com uma ponta de dúvida. "Eu... eu não sei o que pensar de tudo isso."
Judy me olhou diretamente nos olhos, com um olhar que transmitia mais confiança do que eu me sentia capaz de ter naquele momento.
"Eu sei que é difícil, Maya. Mas acredito que sim. Essa amiga é muito boa no que faz. Eu confio nela, e ela pode ajudar você a entender o que está acontecendo", Judy disse, sua voz firme, sem vacilar.
Eu respirei fundo, e um peso que eu não sabia que estava carregando parecia aliviar um pouco. A ideia de conversar com alguém que entendesse essas questões, alguém com mais experiência, parecia uma boa opção. Talvez fosse a única opção.
"Ok. Vamos fazer isso", concordei, embora ainda estivesse dividida entre o ceticismo e o medo do desconhecido. "Quando podemos marcar?"
Judy sorriu suavemente, um sorriso tranquilizador que me fez sentir um pouco mais calma, mesmo que por um momento. Ela pegou o celular e começou a procurar o número de sua amiga. Eu observei, tentando afastar os pensamentos que me incomodavam, tentando focar no que estava por vir. Eu sabia que não teria mais paz até descobrir o que estava acontecendo com os meus sonhos.
"Ela está disponível amanhã à noite", Judy me disse, depois de alguns segundos. "Será uma boa oportunidade para você conversar com ela. Eu vou te acompanhar, claro."
Eu acenei, ainda tentando processar tudo o que estava acontecendo. Eu me sentia como se estivesse mergulhando em um mundo que nunca pensei que existisse, um mundo de espiritualidade e energias que eu não entendia. E agora, eu estava prestes a conhecer uma mulher que poderia me ajudar a entender esse universo.
"Amanhã à noite, então", falei, mais para mim mesma do que para Judy. Eu não sabia o que esperar, mas sentia que era o caminho certo.
O resto da noite passou lentamente, como se o tempo tivesse desacelerado, me deixando com minha mente cheia de perguntas. Eu não conseguia parar de pensar no sonho, na mulher que me empurrava para o precipício, nas palavras dela, na raiva em seu olhar. O que ela queria de mim? Por que ela me empurrava? E, mais importante, por que tudo isso parecia tão real?
Eu me deitei na cama naquela noite, os olhos abertos no escuro, e o sonho voltou à minha mente com força total. Eu sentia a queda, o vento no rosto, a sensação de desespero enquanto eu caía. E aquela mulher, sua raiva, sua voz gritando comigo, me chamando de empecilho. Eu me encolhi de medo, tentando afastar as imagens, mas elas continuaram a me assombrar, como se eu não pudesse escapar delas.
Eu sabia que tinha que enfrentar isso. Sabia que precisava entender o significado daquele sonho, o que ele estava tentando me dizer. E, por mais que eu estivesse com medo, a única coisa que eu podia fazer era ir em frente, sem olhar para trás.
Na manhã seguinte, depois de um café rápido, Judy me pegou em sua casa e nos dirigimos até a casa de sua amiga. Eu não sabia o que esperar, mas o sentimento de urgência parecia tomar conta de mim. Eu precisava de respostas. Eu não sabia se estava pronta para o que poderia descobrir, mas não havia outra opção.
A consulta com a espírita estava prestes a começar, e eu sentia uma mistura de ansiedade e curiosidade. O que quer que estivesse acontecendo comigo, com os meus sonhos, eu sabia que estava em um caminho que não tinha mais volta.
Eu olhei para Judy ao meu lado, sentindo o apoio dela. Eu não estava sozinha. E, talvez, com a ajuda dessa mulher, nós finalmente encontraríamos a resposta que estávamos buscando.