A escuridão me envolvia por completo. Eu estava em um lugar que não conhecia, mas que parecia familiar de uma forma estranha. O vento frio cortava a pele, e o som distante de algo se quebrando ecoava no ar. Olhei ao redor, mas não conseguia ver nada com clareza, apenas sombras que pareciam se mover. Eu estava sozinha, ou pelo menos era o que parecia.
De repente, senti uma presença atrás de mim. O ar parecia gelar, e uma sensação de medo começou a crescer dentro de mim. Não era apenas uma sensação comum de insegurança. Era uma sensação de que algo muito r**m estava prestes a acontecer, e eu não podia escapar.
Eu me virei, mas antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, uma mão fria e forte empurrou minhas costas. O impacto foi tão repentino que m*l tive tempo de reagir. O mundo ao meu redor girou, e eu fui arremessada para o vazio, como se estivesse sendo lançada para um abismo sem fim.
Eu gritei. Gritei de puro pavor, enquanto o vento rugia nos meus ouvidos e o chão desaparecia sob meus pés. Lá embaixo, eu via uma ponte, mas não havia nada mais além dela. Apenas o vazio.
— Você não deveria existir. — A voz sibilante ressoou nas profundezas da escuridão. Era uma voz cheia de ódio, uma voz que parecia desejar minha destruição.
Tentei me agarrar a algo, mas era inútil. A queda era inevitável. Medo. Desespero. Eu não conseguia respirar. A dor era iminente. O mundo girava, e eu caía cada vez mais rápido. Eu queria gritar, mas minha garganta estava fechada.
— Você nunca mais vai me atrapalhar! — a voz continuou, mais forte agora.
Eu não consegui compreender o que ela queria dizer, mas, antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, a queda terminou. O impacto foi brutal. Meu corpo atingiu as pedras com força, e tudo ao meu redor se desfez em um choque de dor. Eu sentia minha cabeça ser esmagada, como se fosse se partir ao meio.
E então, a escuridão tomou conta de mim novamente.
Eu acordei.
O som do meu próprio grito ainda ressoava em meus ouvidos, e o coração batia forte, como se eu estivesse correndo de algo. Eu estava deitada na cama, coberta de suor. O quarto estava silencioso, mas a sensação de medo ainda me envolvia, e minha cabeça pulsava de dor.
Levei a mão à testa, tocando a área onde a dor parecia mais forte. A sensação de impacto… de ter batido a cabeça em uma pedra… ainda estava vívida. Eu respirei fundo, tentando me acalmar, mas não conseguia afastar a sensação de insegurança. Algo estava errado. O sonho… não parecia apenas um pesadelo. Parecia… real. Como se eu já tivesse vivido isso antes, como se já tivesse estado naquela ponte, sentido aquela dor.
Me levantei da cama, tonta e fraca, e caminhei até a cozinha para beber um pouco de água. Mas o medo ainda estava lá. Ele não se dissipava. Eu sabia que precisava falar com alguém sobre isso. Eu não poderia deixar essa sensação me consumir. E quem melhor do que Judy para entender essas coisas estranhas? Ela sempre teve uma maneira de lidar com as coisas que eu não compreendia.
Peguei o celular e, com as mãos ainda tremendo, discquei o número dela. Enquanto o telefone tocava, a sensação de déjà vu não me deixava, e eu não sabia se estava mais assustada com o sonho ou com a sensação de que isso tudo já tinha acontecido antes.
— Maya? — A voz de Judy soou sonolenta do outro lado.
— Desculpa acordar você, Judy, mas… eu tive um sonho muito estranho. Preciso falar com você.
Houve um momento de silêncio antes de Judy responder.
— Eu vou te esperar.
Ela não hesitou. Eu precisava dela agora. Sem mais palavras, desliguei o telefone e saí em direção à casa de Judy.
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Ao chegar lá, a casa dela me envolveu com a calma de sempre. O cheiro de incenso e sálvia me tranquilizou um pouco, mas a sensação de medo ainda estava muito presente em mim. Não sabia como tirar isso de dentro de mim.
Judy estava me esperando na porta, com seus cabelos cacheados caindo sobre os ombros e seu olhar atento. Quando entrei, ela me guiou até a sala de estar, onde o ambiente tranquilo e acolhedor parecia contrastar com o turbilhão que eu sentia por dentro.
— Me conta tudo, Maya. — Ela disse, com a voz suave, mas cheia de atenção.
Eu suspirei, sentindo a dor na cabeça pulsar cada vez mais forte. Me sentei ao lado dela e comecei a falar.
— Eu estava em uma ponte. Não sei onde era, mas parecia um lugar frio, sombrio… e eu estava com medo. Sentia uma presença atrás de mim. Quando me virei, havia uma mulher. Eu não via o rosto dela direito, mas a raiva que ela transmitia era real. E então… ela me empurrou. Eu caí. Eu caí. Foi tão real, Judy. Foi como se eu tivesse caído de verdade. E quando bati na pedra… tudo ficou escuro. Eu senti a dor na minha cabeça, como se fosse verdade.
Judy estava em silêncio, me observando atentamente. Eu tentei me acalmar, mas não estava funcionando. O medo, o impacto, tudo estava tão vívido ainda.
— E o que a mulher dizia? — Judy perguntou, sua voz calma e curiosa.
Eu senti um nó na garganta.
— Ela me disse que eu não deveria existir. Ela gritou que eu era um empecilho na vida dela. Eu a atrapalhei, Judy. E então ela me empurrou.
Judy franziu a testa, refletindo.
— Isso não parece um sonho comum. — Ela disse, em um tom baixo.
Eu engoli em seco.
— Eu sinto como se já tivesse vivido isso antes. Como se essa queda já tivesse acontecido. Como se eu já tivesse estado nessa ponte. Como se eu fosse parte de algo muito maior… muito mais antigo.
Judy me olhou com atenção, como se tentasse entender o que eu estava tentando dizer.
— Vamos fazer um banho de sal grosso. Isso pode ajudar a limpar as energias ruins. Se for algo que está vindo de fora… isso pode ser o primeiro passo.
Eu a segui até o banheiro, sentindo que, de alguma forma, essa noite mudaria tudo. O pesadelo, a dor, a sensação de déjà vu… nada disso parecia um simples sonho. Algo estava tentando se comunicar comigo, e eu não sabia ainda o que era, mas estava determinada a descobrir.