Saio correndo para a minha casa com medo de alguém ter me visto.
Na esquina de casa, tento me recompor e parar de chorar. Assim que chego em casa vou direto para o banheiro, papai me chama, mas eu o ignoro. Lavo bem o rosto e vou até a cozinha, onde todos estavam. Me sento à mesa com eles.
- Tá tudo bem, querida? - Pergunta meu pai.
Aceno a cabeça positivamente. Jantamos em silêncio, ninguém diz nada. Olho para ele com ódio, pois eu era a culpada da morte do David, mas ele também tinha culpa, se ele não falasse que ia contar tudo pra sua mãe, eu não teria feito o que fiz. Eu não queria matá-lo, juro que eu não queria.
Duas horas depois, escutamos uma ambulância e dois carros do FBI passarem pela nossa rua. Congelo de medo de me descobrirem.
- Será que aconteceu algo? - Pergunta meu pai parecendo preocupado.
Espiamos pela janela, mas não vemos nada. Em seguida, tudo volta a ficar silencioso.
No dia seguinte veio a notícia da morte do David. Meus irmãos e eu choramos bastante. Ouvi falarem que os pais dele estavam inconsoláveis e que a mãe dele estava vivendo na base de calmantes. Fiquei tão triste com tudo isso, não queria ter matado - o.
(...)
9 de outubro de 2008
Uma semana havia se passado. Eu escutei falar que não souberam o que aconteceu com David. Callie contou que eu fiquei de levá-lo pra casa no dia do crime, o FBI chegou a conversar comigo, mas eu disse que havia o levado só até uma parte e que ele pediu pra eu deixá-lo antes do beco, porque já estava grande e queria ir sozinho dali em diante.
Eu sabia que aquilo era mentira, mas eles não sabiam e para minha sorte, acreditaram em mim, afinal, quem acreditaria que uma criança de apenas 8 anos seria capaz de um ato brutal? Até hoje eu não acredito nisso quando lembro do meu passado.
Ah, mamãe havia saído da tal clínica, falaram que ela estava bem e que não apresentava um perigo para a sociedade, logo se vê que essa gente não entende droga nenhuma, ela era um perigo para meus irmãos e para mim.
Mamãe e papai haviam voltado, pois ela tinha nos pedido um milhão de desculpas e prometeu não fazer mais, mas eu não acreditei em nada, de fato, ela ainda não havia feito nada de r**m pra gente, mas era evidente que ela não estava bem.
Fico vendo meus pais transando, as vezes eles faziam isso na nossa frente, falavam ´´olhem e aprendam´´. Achava tão nojento.
- Vocês me dão nojo. - Digo ao me retirar para meu quarto.
Henry e Megan me seguem. A gente se senta em minha cama e eu abraço os dois. Nunca entendi o porquê disso tudo acontecer com a gente.
(...)
15 de novembro de 2008
Eu estava na casa do Noah, iria dormir lá naquela noite. Fizemos uma festa do pijama muito irada, brincamos de várias coisas, cantamos e dançamos, vimos filme, fizemos bolo de chocolate... Acho que eu nunca me diverti tanto em toda a minha vida como naquele dia.
- Eu adoro dormir aqui. - Digo.
- Eu também gosto quando você dorme aqui. - Fala Noah.
Ficamos nos olhando. Ele me sorri. Eu também sorrio. De repente, sra Harter nos chama para o jantar. Vamos à pressas, eles haviam pedido pizza, acho que não existe nada mais gostoso do que pizza.
Após o jantar, escovamos nossos dentes e fomos para o quarto de Noah. Ele tinha um bicama, fiquei na parte de baixo e ele na parte de cima, pois eu tinha medo de altura, e ele não.
- Por que será que os meus pais não podem ser como os seus? - Perguntei.
- Também queria saber. Ainda não acredito que sua mãe voltou. - Falou Noah ao sentar do meu lado na cama que eu dormiria. - E ela não te machucou mais?
- Não, ainda não.
- Menos m*l!
Ficamos nos olhando. Tenho vontade de chorar. Naquela época eu não sabia e nem entendia sobre essas coisas, mas ao olhar para trás, eu acredito que eu tivesse depressão, pois eu só pensava em morrer. Uma vez eu fiquei parada na frente de um carro pra ele me atropelar, mas uma vizinha me tirou a tempo, colocando sua vida em risco, o susto que eu levei foi tão grande que nunca mais fiz de novo.
Derrubo uma lágrima, e Noah a limpa.
- Fecha os olhos. - Me pede.
- Por quê? - O questiono.
- Por favor. Fecha!
Cubro meus olhos com uma mão, alguns segundos depois, ele me dá um selinho. Tiro a minha mão do meus olhos, e fico olhando - o.
- Por que fez isso?
- Porque eu gosto de você. - Falou docemente. - E porque eu quero que você saiba que você não está sozinha, você tem a mim e aos meus pais, e a gente gosta muito de você, principalmente eu.
Sorrio meio sem jeito e o abraço apertadamente. Queria que ele soubesse o quanto eu gostava dele.
- Posso te contar um segredo? - Pergunto.
- Claro.
Fico um pouco em silêncio tentando criar coragem para contar, eu confiava nele e queria que ele soubesse, queria contar pra alguém de confiança.
- Eu odeio meu pai. Ele é nojento.
- Como assim? - Me pergunta em sua santa inocência de 8 anos.
- Ele faz coisas feias comigo e com os meus irmãos, as mesmas coisas que ele faz com minha mãe. Ele... Ele nos toca... Nas... Nas nossas partes íntimas e também nos obriga a tocar nele, a gente não gosta, eu juro que não gosto, mas ele nos força.
- Por que ele faz essas coisas?
- Não sei, ele só diz que gosta e que é bom, mas a gente não acha bom, e ele diz que as pessoas que se gostam fazem isso, mas dói, dói muito. - Fiquei uns segundos em silêncio. - Me promete que não vai contar pra ninguém? É segredo.
- Por quê? - Me perguntou.
- Não sei. - Falo. - Papai me pede segredo, diz que todo mundo faz isso, mas que não podemos sair contando pras outras pessoas.
- Tá bem. - Ele diz meio pensativo.
(...)
18 de novembro de 2008
Meus irmãos e eu recém havíamos voltado da escola. Íamos e voltávamos de ônibus escolar.
Eu estava brincando com Henry e Meg quando escuto a sirene da policia, fico com medo de terem descoberto que eu matei o David. A campainha toca. Corro para o banheiro com a certeza de que eles descobriram tudo.
Mamãe abriu a porta. Do banheiro, eu escuto um policial falar que papai estava preso por estupro de vulnerável, naquele tempo eu nem sabia o que era isso. Papai foi preso. Mamãe chorava sem parar, e eu tentando assimilar o que havia acontecido.
- Quem foi o infeliz que fez fofoca? - Pergunta mamãe para meus irmãos. - E cadê a Mia?
- Estou aqui. - Digo ao sair do banheiro. - Tinha ido fazer xixi. O que aconteceu? Cadê o papai?
- Foi você? - Pergunta mamãe ao me puxar pela orelha direita.
- Do que você tá falando?
- Foi você que contou sobre o seu pai? Sobre o jeito dele demonstrar carinho pela gente.
Lembro da conversa que tive com Noah, mas ele prometeu que não contaria nada, não acredito que ele me mentiu.
- Não, eu não disse nada. - Falo.
- Alguém foi, porque o pai de vocês acabou de ser preso. Quero saber quem foi o responsável.
Eu não consegui dizer nada, estava muito assustada, com tanto medo.
Mamãe ficou furiosa com a gente e a partir daquele dia falou que não faria mais comida pra gente, que nós que nos virássemos e que ela estava cansada da gente.