Estevão, embora estivesse em choque, não conseguia tirar os olhos de Maria.
– Você... Você...! – dizia ele.
– Calma, homem! – disse Maria. – Parece que está olhando pra um fantasma! – ela sorri ironicamente. – Com licença, um minuto. – disse ela, tomando a liberdade de usar o telefone. – Alô? Lupita?... Pode trazer aquele copo com água que lhe pedi, por favor. Obrigada.
Segundos depois, Lupita entra com a água e entrega à Estevão.
– Aqui está, senhor. – disse Lupita.
– Obrigado! – disse Estevão, bebendo quase tudo de uma única vez.
– É melhor você beber devagar, ou pode se engasgar. – disse Maria.
– Pode ir, Lupita, obrigado. – disse Estevão.
A secretária sai e deixa Estevão e Maria sozinhos novamente.
– Mas quem é você, afinal?! – perguntou Estevão.
– Ué?... Pensei que tivesse lhe dito o meu nome ainda pouco?... Sou irmã da Marcela, Maria.
– Sim, eu sei!... Quero dizer... Marcela já havia me dito que tinha uma irmã, mas não que era...
– Gemia? – completou Maria. – Pois é. Está chocado?
– Um pouco, sim.
– É perfeitamente natural. Marcela e eu causavamos esse efeito nas pessoas, já que somos tão parecidas.
– Parecidas?! Vocês são idênticas!
– Nem tão idênticas assim. – disse Maria com um ar de mistério.
Depois de recomposto do susto, Estevão resolve saber o que Maria quer depois de tantos anos sumida da vida de Marcela.
– Mas então?... Será que posso saber o motivo do seu aparecimento tão repentino? – ele pergunta.
– Nossa! Você é um homem que vai direto ao ponto, Estevão San Roman!... Eu gosto disso!... Bem, eu passei todos esses anos fora do país e longe da minha irmã.
– E onde esteve por tantos anos?
– Isso não vem ao caso, agora. – ela é direta. – O que interessa, é o que me trouxe de volta a esse país.
– E o que foi?
– Preste muita atenção, Estevão, e que isso fique bastante claro pra você. Eu retornei ao México por três motivos. O primeiro, saber realmente o que aconteceu com a Marcela.
– Marcela morreu em um acidente de carro.
– Isso é o que você diz. – rebate Maria.
– Como é?!
– O segundo motivo, quero conhecer e ter um convívio com os meus sobrinhos, afinal, eles são a minha única família agora, e tudo o que me restou da Marcela.
– Espere um momento...!
- E o terceiro motivo, mas não menos importante, eu vou fazer você pagar pela sua traição com a minha irmã. – disse Maria disparando um olhar fulminante em Estevão.
– O que?! Como sabe disso?! – ele se espanta.
– Então quer dizer que é verdade?
– Claro que não! Eu amava a Marcela! Nunca lhe fui infiel, jamais! – exclamou Estevão.
– Estevão... Estevão. – disse ela bem calmamente. - Não perca seu tempo. Guarde as suas explicações pra quem acredita em você, o que não é o caso aqui.... Bom, eu tenho outros assuntos importantes a resolver, preciso ir. Só vim me apresentar e conferir o que foi que minha irmã viu em você. E infelizmente, eu não consegui descobrir. – disse com uma pitada de ironia. – Passar bem. – disse ela se levantando para sair.
– Ei! - disse Estevão. – Você chega assim de uma vez, me enchendo de exigências e ameaças e acha que vai embora desse jeito?!
– Não se preocupe, Estevão. Eu não vou embora. Você vai me ver muitas vezes, de agora em diante. Até mais. – disse Maria saindo da sala.
Ao sair, ela vai direto ao elevador. Enquanto a porta se fecha, Afonso, que vinha passando pelo corredor, olha para dentro do elevador.
– Marcela?! – disse ele.
O elevador se fecha.
– Não, senhor. – disse Lupita. – Essa que saiu é a senhora Maria, irmã da senhora Marcela.
– Ela é a irmã da Marcela?! – exclamou Afonso.
– Sim, senhor.
– Gemia?!
– Sim, senhor. Eu entendo o seu choque. Imagine o do senhor Estevão.
– Ela estava falando com Estevão?
– Acabou de sair da sala dele.
Afonso, imediatamente, entra na sala de Estevão.
– Estevão, está tudo bem? – ele pergunta.
– Você a viu? – disse Estevão.
– São exatamente iguais! Mas como isso possível?! – exclamou Afonso.
– Não, meu amigo! Essa mulher que acabou de sair daqui não tem nada igual à Marcela! – disse Estevão furioso. – Ela é debochada, arrogante e prepotente!... Quem ela pensa que é?!
– Pelo jeito, a conversa de vocês não foi nada boa! – disse Afonso.
***
Apartamento de Alice.
A campainha toca. Alice abre a porta.
– Tereza? – disse Alice.
– Como vai, Alice. – responde Tereza com o semblante bem sério.
– Entre. – disse Alice. – A que devo a honra dessa visita! – ela diz com ironia.
– Me poupe, Alice. – disse Tereza. – Você não gosta de mim e nem eu de você. Então vamos parar com a falsidade.
– Como quiser. – disse Alice. – O que você quer?
– Eu vou ser direta. Quanto você quer pra sair, definitivamente, da vida do Estevão?
– O que?!
***
De volta às Empresas San Roman.
Sala de Estevão.
Ele e Afonso conversam.
– Quer dizer que ela disse isso?! - exclamou Afonso.
– Sim! Você acredita?!... Ainda por cima, me ameaçou dizendo que vai me fazer pagar pela suposta traição que cometi com a Marcela! – disse Estevão.
– E como foi que ela soube dessa história?
– Isso é o de menos, Afonso!... A questão é que ela, assim como a irmã, acredita nessa história de traição que nunca houve, você sabe.
– Sim, eu sei.
– Ah, mas se ela pensa que vai virae nossas vidas do avesso, ela está muito enganada! – disse Estevão.
***
De volta ao apartamento de Alice.
– Tereza, – disse Alice. – Eu prefiro acreditar que você não perdeu o seu juízo, ainda, e não vou levar em consideração essa sua proposta indecente.
– E o que é que uma mulherzinha vulgar como você entende de decência?!
– Pelo menos, não sou eu que estou apaixonada pelo meu primo, não é? – Alice não ficou por baixo.
– O que?!... Como você se atreve?! – indigna-se Tereza.
– Não me venha com essa, Tereza! Você pensa que eu não percebo, que ninguém percebe! Você é apaixonada pelo Estevão, sim!
– Cala essa boca! – esbravejou Tereza.
– O que foi, Tereza?? A verdade dói não é?... Sabe, eu fico imaginando, o quanto deve ser difícil pra você morar na mesma casa que o Estevão. Ver aquele homem circulando de um lado para o outro, dormir no quarto ao lado, quando na verdade o que você queria era estar no quarto dele, na cama dele, nos braços dele!... É como morrer de fome na porta do açougue!
– Eu disse pra você calar essa boca, sua rameira! - disse Tereza dando um t**a na cara de Alice.
Alice revida.
– Eu posso ser rameira, mas é comigo que o Estevão vai se casar! E logo eu serei a dona e senhora daquela casa! E a primeira coisa que vou fazer quando isso acontecer é colocar você pra fora de lá, assim como vou colocar agora pra fora do meu apartamento! Fora! – disse ela jogando Tereza pra fora.
– Isso não vai ficar assim, sua desgraçada! – gritava Tereza. – Não vai!
***
Igreja Nossa Senhora de Guadalupe.
Sacristia.
Padre Manoel cuidava de seus afazeres, quando Estevão aparece.
– Bom dia, Padre.
– Bom dia, filho! – responde o Padre. – Eu não esperava vê-lo.
– Digamos que, o meu assunto é delicado. – disse Estevão.
– Espero que eu possa ajuda-lo, filho.
– Padre, quem é Maria, realmente?
Não foi difícil para o Padre Manoel imaginar que se Estevão foi procura-lo, era porque Maria já havia aparecido para ele.
***
De volta às Empresas San Roman.
Sala de Afonso.
Afonso não podia tirar o rosto de Maria de sua mente. Principalmente, porque ele era igual ao de Marcela, seu amor secreto.
"Maria!... Então a tão famosa irmã de Marcela é gemia!... Talvez, jogal-aa contra o Estevão seja mais fácil do que eu imaginei!" pensava Afonso com um sorriso.
***
De volta à sacristia da igreja.
– Então você já conheceu a Maria? – disse o Padre.
– Sim. Ela foi muito "amável" comigo! – disse Estevão irônico. –O que eu não entendo é por que o senhor me escondeu que a irmã de Marcela era sua gemia!
– E que diferença isso faz?
– Faz toda a diferença, Padre!... Tem ideia do susto que tomei quando a vi?! ... Era como se eu estivesse vendo a Marcela.
– Maria e Marcela podem ter a mesma aparência, mas são diferentes.
– Quanto a isso, o senhor nem precisa me dizer, eu pude perceber muito bem! – disse Estevão aborrecido.
– Vocês discutiram?
– Ela é arrogante e cheia de si! Entrou na minha sala me acusando de coisas, fazendo exigências!
– Não a leve a m*l, filho. Maria é uma mulher que já sofreu muito na vida, e sofreu mais ainda quando soube da morte da irmã.
– Se gostava tanto assim da Marcela, por que nunca retornou pra ela?
– Isso é uma coisa que eu sugiro que você pergunte a ela.... Estevão, o que Maria quer, realmente, é conhecer os sobrinhos, conviver com eles.
– Isso jamais!... Até eu saber o que essa mulher quer entrando em nossas vidas depois de tantos anos, ela não vai se aproximar dos meus filhos!