A cerimônia foi difícil para Estevão, como em todos os anos. Ele amava sua falecida esposa como nunca pensou que amaria outra pessoa na sua vida.
" Ah, meu amor! Não sabe a falta que você me faz!" pensava ele.
Tereza, como sempre, não saia de perto dele, o que gerava ainda mais as suspeitas de Helena.
- Essa sua sobrinha não "dá ponto sem nó", Emiliano! - disse ela.
- Você pega no pé da Tereza demais, mulher. Por que isso? - questionou Emiliano.
- Em que mundo você vive, Emiliano?... Será que só eu e Luíza percebemos? - disse Helena.
- Perceberam o quê?
- Que Tereza é apaixonada pelo Estevão.
- Não diga bobagens, Helena! Tereza e Estevão são primos. - disse Emiliano.
- E desde quando isso é empecilho pra alguma coisa? Os tempos são outros, Emiliano. - disse Helena.
- Vocês duas estão exagerando. Ciúmes de mãe e de filha.
- Depois não diga que não avisei. - disse Helena.
Do outro lado, Luíza também tinha a mesma conversa com os irmãos.
- Olha só pra ela! Será que a Tereza pensa que eu sou i****a?! - disse Luíza.
- Luíza, pare com isso! Você tá vendo coisas onde não existem! - disse Henrique.
- Eu também acho que é piração da sua cabeça, maninha! - disse Pedro.
- Vocês dois não sacam nada! A Tereza tá tentando usurpar o lugar da nossa mãe, como dona e senhora da casa. Ela já até se comporta como tal, é só ver como ela dá as ordens aos empregados na ausência do papai.
- Eu ainda acho que é exagero seu, Luíza. Você deveria ser mais grata a Tereza por tudo que ela tem feito por nós. - disse Henrique.
- Relaxa, maninha! Sabemos muito bem, as preferências do papai. A tal de Alice. Não é Henrique?
- Cala a boca, Pedro! - disse Hernrique estranhamente nervoso quando Pedro falou o nome de Alice.
- Já chega, vocês dois! Estamos numa igreja, por favor! - disse Luíza, controlando os seus irmãos.
***
Mais tarde, todos já se encontravam em casa.
Estevão resolveu ir tomar satisfações com o filho Pedro, sobre o seu atraso na cerimônia.
- Agora que todos, finalmente, estão em casa, eu quero saber, Pedro, onde foi que você se enfiou durante toda a noite, que nem em casa você dormiu! - disse Estevão visivelmente irritado.
- Eu saí. - responde Pedro secamente.
- É só isso que vai me dizer?! Que saiu?!
- E o que mais quer que eu diga, pai?... Tinha uma festa, uns amigos me convidaram, eu aceitei e a festa acabou se estendendo. - disse Pedro.
- O dia de hoje era importante pra todos, sabe disso!
- Não! O dia de hoje era importante pra você! Você sempre manda fazer essa cerimônia, ano após ano, e pra quê?...Pra que você se sinta menos culpado pelo que houve com a mamãe?!
- Pedro, pare com isso! - disse Luíza.
- O papai não teve culpa de nada, foi um acidente, Pedro! - disse Henrique.
- Ele sabe muito bem do que eu estou falando! Não sabe, pai? - instigou Pedro.
- Cale-se, Pedro! Nem você sabe do que está falando! Não tente distorcer as coisas pra justificar a sua imaturidade e falta de responsabilidade! - exclamou Estevão.
- Vocês dois querem parar com isso! Acabamos de sair de uma igreja! - disse Helena.
- Foi um dia duro pra todos nós, vamos sentar e nos acalmar. - disse Emiliano.
- Eu não vou ficar aqui!... Vou sair. - disse Pedro.
- Você não vai a lugar nenhum antes de se desculpar com todos pela sua atitude! - disse Estevão.
- Eu não tenho que pedir desculpas por nada! - disse Pedro.
- Pedro, eu não estou brincando com você! Peça desculpas a todos! - ordenou Estevão.
Pedro não disse nada. Pelo contrário, olhava para o seu pai com impáfia. Até que...
- Eu peço desculpas a todos, menos a você. - disse olhando para Estevão. - E quer saber da verdade?... Quem deveria ter estado naquele carro era você!
Todos olhavam para Pedro, chocados.
- Pedro, não diga isso! - exclamou Luíza.
- Perdeu o juízo?! Como pode dizer uma coisa dessas com o papai?! - disse Henrique.
Pedro dá as costas a todo mundo e sai.
Estevão se senta no sofá e leva as mãos à cabeça.
- O que é que eu faço com esse rapaz, meu Deus?!
- Para o Pedro, uma mãe faz muita falta, Estevão. - disse Tereza, que até o momento não havia se pronunciado.
- Sim, Tereza. Pedro sente falta da NOSSA mãe! - disse Luíza alfinetando.
- Isso não é desculpa para o comportamento dele! - disse Emiliano. - Você e Henrique também sentem falta da mãe de vocês, e nem por isso se comportam assim!
- O que eu não entendo vovô, é que o Pedro não era assim com o papai. Ele começou a mudar de uns tempo pra cá. - disse Henrique.
- Pedro ainda está com a cabeça muito confusa, sem saber o que quer da vida. - disse Helena.
Estevão se levanta e vai para o escritório.
***
Em Aruba.
Já era noite, quando batem a porta do quarto de Maria. Ela vê quem é pelo olho mágico e abre a porta.
- Alberto? Oi.
- Oi, Maria. Eu posso entrar?
- Claro. Por favor, entre. Mas eu pensei que nos veríamos só amanhã.
- Eu precisei vir, Maria. O assunto é muito importante.
- O que houve? - ela pergunta um pouco apreensiva.
- É sobre a sua irmã.
- Marcela? - Maria chega a abrir um sorriso. - Você a encontrou? Onde ela está, Alberto?
- Maria... Sua irmã... Ela... - Alberto procurava as palavras - Ela está morta.
O sorriso de Maria se desfaz instantaneamente. Dando lugar a um semblante de dor, como se tivessem acabado de enfiar uma faca em seu coração.
- Morta?!... Não! Não pode ser!... - disse levando as mãos a cabeça - Eu quero ver a minha irmã, Alberto! Eu quero a Marcela! Quero vê-la!... Não! Ela não pode estar morta! Não pode! - ela não queria acreditar.
Maria se desesperava, ela ajoelha no chão, grita, chora.
- Por que, meu Deus?!... Será que eu já não fui punida o bastante?!... O senhor agora leva a minha irmã também?!
Alberto abraça Maria e se compadece de sua dor.
- Maria, eu sinto muito. De verdade.
- Marcela!!... Marcela!! - ela gritava o nome de sua irmã.
***
De volta Cidade do México.
Pedro vai até o túmulo de sua mãe.
- Me perdoa, mãe. Hoje eu me atrasei. Mas eu nunca deixaria de ir a sua missa. Eu sinto tanto a sua falta! Por que você teve que nos deixar, por quê?! - disse ele com lágrimas nos olhos.
Na Mansão San Roman.
Estavam na sala Emiliano, Helena e Tereza conversando.
- Todos os anos a mesma coisa. - disse Tereza. - Ele chega da cerimônia e se tranca naquele bendito escritório!
- Deixe ele Tereza. - disse Emiliano.
- Sim. Estevão ainda sofre muito com tudo o que houve. - disse Helena.
- Eu sei, tia, mas já faz quinze anos que ela morreu. Estevão está vivo, precisa recomeçar a sua vida. - diz Tereza.
- Nisso, eu concordo com Tereza, Helena. O nosso filho é jovem. Tem todo o direito de se casar de novo.
Nesse momento aparecem Henrique e Luíza.
- Mas isso jamais, vovô! - disse Luíza. - Jamais vamos admitir uma outra mulher nessa casa, na casa que foi da nossa mãe!
- Pega leve, Luíza! - disse Henrique.
- É isso mesmo, Henrique! - ela continua. - Nosso pai pode até ter os casos dele por aí, nós não nos importamos, desde que respeite a casa da nossa mãe! Mas se casar e nos dar uma madrasta?! Isso eu não aceito!
- Luíza, filha... - tentou ponderar Helena.
- Não, vovó!... Por favor, não insista.
Luíza sobe para o quarto.
- Não ligue pra ela, vovó. Luíza é muito impulsiva. - disse Henrique abraçando sua avó.
- Tudo bem, meu querido. - disse Helena.
No escritório, Estevão moía e remoía as lembranças do dia em que perdera sua esposa.
#Flashback Estevão on#
- Como pôde ter feito isso comigo, Estevão?! - exclamou ela.
- Querida, por favor, eu juro que não sei de quem é esse bilhete e nem sei como foi parar no bolso do meu patetó! Acredite em mim! - disse ele tentando se aproximar dela.
- Não chegue perto de mim, Estevão! Estou cansada das suas mentiras!... Aqui está a prova da sua traição! "Obrigada pela noite deliciosa que passamos juntos! " - disse ela lendo o bilhete. - Quer dizer que essa era sua reunião importante até tarde?!
- Mas eu estava numa reunião até tarde, eu juro! - disse Estevão.
- Você não se cansa de mentir?! - exclamou ela. - Eu te dei o meu amor, o meu carinho... Estevão, eu te dei filhos! Nem nos nossos filhos pequenos você pensou?!
- Meu amor, me escuta, por favor. - disse ele a segurando pelos braços.
- Me solta! - ela se desvencilia dele. - Há quanto tempo você me engana, Estevão??
- Querida, por favor...
- Eu estou te perguntando, Estevão, há quanto tempo você me engana?? Seja homem ao menos nisso e me responda! Há quanto tempo?! - perguntou ela.
- Eu nunca te traí, jamais! Você não tem nenhuma razão pra desconfiar de mim! Eu sempre te amei! - disse Estevão.
- É mentira! - ela gritava ainda mais.
Ela sai do quarto, desce as escadas e pega as chaves do carro.
- Querida, espere, por favor! Vamos conversar! Espere!
- O tempo da conversa acabou, Estevão! - ela esbraveja e sai.
#Flashback Estevão off#
"Naquele mesmo dia, horas depois, eu soube do seu acidente! ... Por quê, meu Deus, por quê!" pensava Estevão.
A cada lembrança dolorida, uma lágrima caía. O que mais machucava, mais atormentava Estevão, era o fato de sua esposa ter morrido o odiando por acreditar que ele havia lhe sido infiel.
***
Em Aruba.
No hotel.
Maria estava mais calma, porém ainda não estava conformada.
- Como foi esse acidente, Alberto? Quando foi? - ela pergunta.
- Pelo que andei me inteirando dos fatos, Maria, parece que foi um acidente de carro há quinze anos.
- Quinze anos?... Isso quer dizer que foi cinco anos depois de eu ter sido presa?
- Exatamente. - ele responde.
- Talvez aí esteja a resposta do porquê ela nunca foi me visitar na cadeia.... Alberto, preciso que me faça mais um favor.
- Claro. O que quiser.
- Preciso de uma passagem para o México. Para amanhã cedo.
- Maria, você tem certeza?... Não é melhor esperar um pouco?... Afinal, você acabou de saber sobre sua irmã. - ponderou Alberto.
- Não, Alberto. Eu preciso voltar ao México imediatamente. Eu quero saber, exatamente o que aconteceu com a minha irmã. - disse Maria.
Maria estava decidida. Porém, o que ela poderia esperar nesse seu retorno ao seu país?