📓 NARRADO POR TOURO — “Não adianta, Touro.” — ela falou, firme, ajeitando o cabelo atrás da orelha. — “Tu espanta um garoto hoje, amanhã aparece outro. O morro tá cheio. E quando eu quiser...” Ela não terminou. Parou, olhou pra mim e engoliu o resto da frase. Mas eu entendi. Quando ela quiser, ela vai escolher. E isso me deu uma raiva tão calma que queimou devagar, igual gasolina acendendo com vento. Ela se abaixou pra pegar o tênis. Só que eu fui mais rápido. Peguei o danado antes, escondi atrás de mim e dei aquele sorriso torto que ela odeia. — “Devolve, Touro.” — ela pediu, com o queixo erguido. — “Nem fodendo.” — falei, leve. — “Tá em quarentena. Objeto perigoso, usado pra tentativa de homicídio.” Ela bufou, deu dois passos pra frente, mão na cintura. — “Rafael, não enche.

