📓 NARRADO POR MIGUEL SANTANA O tiro que eu dei pro céu ainda ecoava quando o silêncio veio pesado. A fumaça foi se abrindo devagar, e as vozes começaram a nascer das vielas baixas, roucas, misturadas com o barulho dos rádios queimados e das botas paradas. — “Acabou!” — gritou um dos vapores, com o rosto preto de fuligem e o fuzil pendurado no ombro. — “BOPE recuou! O BOPE tá descendo o Campo!” Outro confirmou, gritando mais alto: — “Recuou, p***a! O Cruzeiro tá de pé!” O grito virou coro. Um grito sujo, rasgado, mas vivo. O tipo de som que o morro fazia quando vencia não porque queria, mas porque precisava. As lajes começaram a encher. Gente chorando, gente rindo, gente carregando ferido, gente olhando pro alto como se o céu ainda tivesse resposta. Mas o céu só devolvia o cheiro

