📓 NARRADO POR MIGUEL SANTANA A base do BOPE tem um som que não sai da cabeça da gente. É o som das botas batendo, do rádio chiando, do ferro contra ferro. É o som do inferno sendo arrumado pra sair de casa. Quando entrei pelo portão, o ar veio pesado cheiro de graxa, suor e café velho. O tipo de mistura que acorda até o morto. Passei direto pro vestiário. A farda tava ali, dobrada no armário como sempre. Preta, impecável, fria. Peguei nas mãos, e senti o peso. Não é o pano que pesa. É o que vem junto. Enquanto vestia, olhei pro espelho. O reflexo me devolveu um estranho. Olhar firme, mas cansado. Mandíbula travada, a barba por fazer, o suor descendo pela têmpora. O moleque do Cruzeiro não existia mais. O que tava ali era o Capitão Santana o homem que o sistema construiu e o

