MIGUEL O sol já começava a baixar quando entrei nas vielas do Cruzeiro. O motor da moto vibrava no mesmo compasso do coração pesado, firme, conhecido. As ruas eram as mesmas, mas o tempo muda o jeito da gente olhar. O povo me via e abria espaço. As senhoras acenavam, os moleques gritavam “o Santana voltou!” e até os cachorros pareciam reconhecer o ronco do motor. Era o tipo de respeito que não se compra, se herda e se sustenta no silêncio. Dobrei a esquina que levava pra casa dos meus pais e aliviei o acelerador. O beco era estreito, cheio de gente descendo, criança correndo, bicicleta cortando caminho. Um cenário comum até o imprevisto resolver aparecer. Um moleque de uns seis anos se soltou da mão da mãe e atravessou do nada. A bola quicou no meio da rua, e ele foi atrás. O

