Prólogo
Rosali
3 anos antes
A minha vida acabou. No exato momento em que o telefone tocou na noite de ontem, eu perdi o meu chão, a minha estrutura. As palavras ainda ficam ecoando na minha cabeça.
— Alô — atendo o telefone sonolenta.
— É da residência dos Campbells? — Pergunta e um frio percorre minha espinha.
— Sim — respondo já sentindo que algo está errado.
— Théo e Sophia Campbell, sofreram um acidente — sinto uma vertigem — precisamos que algum parente venha até o hospital.
— Qua. . . Qual hospital? — Pergunto quase em sussurro.
Nesse momento, Laura, a senhora que ficava comigo, sempre que meus pais viajavam, pega o telefone. Não consigo escutar nada, meus ouvidos estão zunindo, estou zonza e choro compulsivamente. No meu coração, sei que meus pais morreram.
E eu, estava certa, após cumprir todos os trâmites para o velório e enterro dos meus pais e da tia Clarice, que estava com eles. Ela era irmã do meu pai, nunca nos visitava, mas de umas duas semanas para cá, resolveu se aproximar do irmão. Resolveram fazer uma viagem juntos, para Santa Catarina, mas não conseguiram nem sair de São Paulo. Um caminhão desgovernado, com um motorista bêbado, acabou com tudo.
O enterro é muito triste, choro desesperadamente, alguns amigos dos meus pais me amparam, mas em nenhum momento, tio Liam vem para perto de mim, nós deveríamos estar nos confortando, afinal, sua esposa morreu no mesmo acidente, isso por si só, já deveria criar uma empatia entre nós.
Os corpos são enterrados, dilacerando o meu coração. Procuro tio Liam, e o vejo parado ao longe. Aproximo-me, porque sendo meu único parente vivo, é meu tutor legal, o advogado me falou. Não conheço quase nada sobre ele, aparecia só às vezes no natal, tia Clarice sempre dizia que ele vivia para o trabalho, acho que por isso ficaram tão ricos.
— Oi, tio Liam — falo na esperança de que ele me conforte, mas ele apenas acena com a cabeça.
— Como faremos agora? — Pergunto, porque estou me sentindo tão perdida, que não sei nem para onde ir.
— Já está tudo arranjado — fala em um tom ríspido — amanhã você embarcará para um internato na Suíça, hoje pode dormir na sua casa mesmo, terá uma funcionária com você — fala como se isso não fosse nada de mais.
— Espera — falo aturdida — como assim um internato na Suíça?
— Arrume suas coisas, não precisa de muito, só itens que você mais se importa — fala como se eu não tivesse perguntado nada — alguém te levará até lá.
— Eu não quero ir para Suíça — falo um pouco alto demais.
— Você não tem escolha — o olhar dele é tão frio, que me deixa gelada — sou seu tutor e não tenho condições nenhuma de lidar com uma adolescente no momento.
— Você não tem coração? — Agora estou gritando — Por que é tão m*****o? Acabei de perder meus pais, e você, perdeu sua esposa, deveria ter mais empatia pelas pessoas que estão sofrendo.
— Acredite, menina, estou fazendo o melhor por você — fala sem se alterar — estou fazendo o que faria para uma filha. Se eu tivesse uma — me olha, como se eu fosse um inseto a ser esmagado — e respondendo a sua pergunta: não, eu não tenho mais um coração.
Assim, que tento avançar nele, para rasgar a cara dele na unha, sinto Laura me segurando e acalmando, ele simplesmente me vira as costas e sai andando.
— Vem filha, vou te ajudar a arrumar suas coisas — fala e vejo lágrimas escorrendo em seu rosto — os advogados do d***o, irão te levar até o internato na Suíça.
Chego em casa, e acho que estou em estado de choque, não consigo sentir nada enquanto estou arrumando minhas coisas. Nem sei o que levar, o d***o disse que eu deveria pegar apenas o que eu mais gostasse, então ele deve ter comprado o restante.
Passo a noite toda chorando abraçada com Laura. Perguntei se podia ficar com ela, mas ela disse que não, o d***o, como meu tutor, tinha todo o direito de me mandar para a Suíça. Cogitei fugir, mas para onde iria? Então aceitei meu destino.
No outro dia, na hora de partir, não estava sentindo nada, decidi que trancaria meu coração. Os advogados chegaram e me levaram. Tudo o que vivi, ficou para trás, meus pais, minha casa, meus amigos, eu não tinha mais nada.
Chegamos no aeroporto e vejo o avião particular que embarcaremos. E para surpresa de ninguém, fico sabendo que é do meu tio d***o. Claro, dinheiro ele tem, só não tem um coração.
Passo às 11 horas de voo em silêncio, sei que não posso confiar nesses p*u-mandado do d***o, mas cedo demais, o piloto anuncia que é para apertar os cintos para o pouso, meu coração está quase saindo pela boca.
Do aeroporto até o colégio, é uma viagem de meia hora, o tio d***o, deve ter se certificado de que eu ficaria no meio do nada, sem chances de voltar. Aqui é tudo tão branco e frio, eu odeio o frio, mas quem liga para isso?
Quando chegamos na porta do colégio, admiro o quão bonito ele é, parece ser um hotel 5 estrelas, na verdade. Encaminhamo-nos para a administração e estou tremendo, com meu coração aos pulos.
Assim que a porta da diretoria é aberta, para minha surpresa, tem uma senhora, com um rosto muito amigável lá dentro, vem até mim, me abraça e diz sentir muito o que aconteceu com meus pais. Fico tão desestabilizada que começo a chorar novamente, ela apenas me consola, como Laura fez.
Ela acerta todos os trâmites com os advogados, e assim que acaba, me pega pela mão — vem querida, vou te mostrar as dependências do colégio.
Sei que com 18 anos posso ir embora do colégio, então a sigo com bastante atenção, conhecendo o lugar que será meu lar, pelos próximos 3 anos.