Liam
Chegou a hora de trazer Rosali de volta. Ela fez 18 anos e não pode mais permanecer no internato, até tentei negociar, para que ela ficasse até os 21 anos, mas me disseram que não seria possível.
Há 3 anos, quando houve o acidente de carro que vitimou seus pais e minha esposa, fiquei devastado e quando os advogados dos pais dela entraram em contato comigo, me avisando que agora eu seria seu tutor, entrei em desespero.
É claro que a tutela da menina ficaria comigo e com minha esposa, caso acontecesse algo com os pais dela, afinal de contas, minha esposa e seu irmão, pai da menina, eram sozinhos no mundo.
Só não contava que minha esposa morreria com eles, me deixando sozinho, no auge dos meus 30 anos, responsável por uma adolescente de 15 anos.
Na mesma hora, me lembrei dos internatos na Suíça, aonde boa parte de meus associados, colocavam seus filhos para estudar. Contatei meus advogados e os instruí a pesquisar o melhor e não poupar esforços e nem recursos, para a menina ir o mais rápido possível.
Só não imaginava que ela poderia ir tão rápido, quando dei a notícia para ela, ainda no cemitério, de que no dia seguinte estaria partindo para o outro lado do mundo, me desafiou, gritou, esperneou, mas fui firme e logo ela estava partindo rumo ao desconhecido.
Confesso que senti uma pontada de remorso, mas hoje sei que foi melhor para ela. Seria pior ficar em uma casa cheia de lembranças, o melhor a fazer é se distanciar. Coisa que não fiz, fiquei na mesma casa, remoendo todas as lembranças e me tornei ainda mais amargo.
Depois de quase um ano da morte de seus pais, os advogados me procuraram com alguns documentos que me davam a tutela dela até os 21 anos. Ela não poderia usufruir de sua herança e nem vender nenhum imóvel até completar 21 anos. Isso significava, que quando saísse do internato aos 18, eu ainda seria responsável por ela até os 21 anos.
Durante os 3 anos que ficou lá, garanti que nada faltasse para ela. Fiz generosas doações, para que ela fosse muito bem tratada e tivesse o melhor que a instituição poderia oferecer, e sei que foi feito. Após alguns meses, comecei a enviar mensagens, perguntando se precisava de algo, mas ela nunca me pediu nada.
Agora estou na recepção do internato, em plena 05:30h da manhã, aguardando por ela, estou um pouco nervoso, não queria ser seu tutor, mas estamos sozinhos no mundo, então farei o melhor para ficar bem.
— Tio — uma voz suave interrompe meus pensamentos. Assim que me viro, uau, a menina magricela e pálida que vi no cemitério, se transformou em uma mulher linda.
— Olá, Rosali — a cumprimento — já está tudo pronto?
— Sim, só preciso — para de falar quando vê meus seguranças com suas malas — bom era isso que ia falar — aponta para as malas.
— Estarei te esperando lá fora — aviso e saio da recepção, nunca fui muito bom com palavras, ou gentilezas, e nos últimos anos, ficou pior.
— Estou pronta — se aproxima e eu abro a porta do carro para entrar, entro logo em seguida, sentando ao seu lado.
O percurso é feito em silêncio, não sou muito de jogar conversa fora, principalmente com mulheres, eu só as fodo. c*****o e por que estou pensando em f**a, quando estou ao lado da minha tutelada? Ela não é uma mulher e sim uma menina, pode até ser maior de idade, mas é apenas uma menina inocente, tenho que protegê-la.
No avião, assim que o aviso de colocar os cintos se apaga, ela pergunta se pode ir descansar no quarto, autorizo prontamente, preciso de um tempo para respirar.
Sozinho, pego meu notebook e trabalho um pouco, afinal a Ferribell Cosmetics, é toda a minha vida.
Durante toda a viagem, Rosali, permanece no quarto. Quando está faltando um pouco mais de 1 hora para o pouso, decido ir ver se está tudo bem.
A visão que tenho me tira o fôlego, Rosali, está de bruços, com uma perna dobrada, e a outra esticada, agarrada ao travesseiro, o semblante relaxado e a boquinha rosada entreaberta. p***a ela é linda pra c*****o, se eu não soubesse que só tem 18 anos, diria que tem mais.
Forço a tirar esses pensamentos malucos da minha cabeça, devo estar exausto, por isso essa falta de controle, decido que está na hora de acordá-la.
— Rosali, Rosali — chamo e ela dá um sorriso, e um gemido, c*****o. Abre os olhos e se assusta, finjo não perceber — iremos pousar daqui a 1 hora, você precisa acordar, se recompor e voltar para seu assento.
— Eu dormi 10 horas? — pergunta confusa.
— Sim, parece que estava exausta, não demore — falo e saio do quarto. Pela cara que estava quando a vi no internato, era nítido que fazia um tempo que não dormia de ansiedade, sou bom em ler pessoas.
Escuto seus passos se aproximando e olho em sua direção, o coque no alto da cabeça, faz com que ela pareça ainda mais velha, não resisto a conferir o restante, mas logo paro de olhar, c*****o, não sou um pervertido que fica secando garotas.
Ela se senta e logo o aviso para colocar os cintos é ligado, começamos a descida, rumo à loucura que se tornará minha vida.
Assim que ela sai do avião, o que acontece é surreal, ela abre os braços e levanta a cabeça, os raios do sol da tarde, bate em seus cabelos dourados, a deixando ainda mais bonita, se é que é possível.
— O que está fazendo? — pergunto, me sentindo um pervertido, mas depois penso, achar ela bonita é normal, afinal, a menina é linda.
— Nada — diz e começa a andar em direção ao carro.
Fica pensativa, olhando pela janela. Não perguntou em nenhum momento para onde iria, onde moraria, estou aguardando o momento, tenho certeza, que ela não aceitará logo de cara.
— Esse não é o caminho para minha casa — fala e me olha, sabia que essa hora chegaria.
— Não é o caminho para sua antiga casa e sim para a sua nova casa — falo sem dar detalhes, porque quero conversar sobre tudo em casa.
— Você vendeu minha casa? — pergunta e noto que ficou assustada com a possibilidade.
— Não, Rosali, eu nem poderia, você é a dona dela — sinto que fica aliviada com minha resposta.
— Mas então. . . — Ela começa e a corto.
— Conversaremos assim que chegarmos em casa — noto a desconfiança em seu olhar.
Logo o motorista está passando pelos portões da minha casa.
— Tio Liam, mas essa é a sua casa — decido tirar o “band-aid” logo de uma vez.
— Sim, Rosali, e também será a sua pelos próximos 3 anos.
— Espera, não entendi? Sei que entendeu, só a ficha não caiu ainda.
— Entendeu sim Rosali, você é uma menina esperta — acho que fica em choque com a minha provocação.
— Mas eu não vou morar aqui, com minha herança e com a vendo da casa, consigo me virar sozinha — muito plausível, se ela já tivesse acesso à herança.
— Vamos entrar, por favor, tento apaziguar a situação, te explicarei tudo, prometo. Só preciso de um banho e comer alguma coisa. Acho que você também precisa — falo e já me dirijo para a porta, noto que ela vem logo atrás.
Mostro o quarto que será dela, é ao lado do meu, porque é o único da casa habitável, sei que poderia mandar mobiliar um mais afastado, mas esse já estava pronto, se ela quiser poderá pegar qualquer outro depois.
Tomo um banho demorado, estou extremamente cansado, mas sei que a menina quer respostas, então me forço a descer novamente, ela já está sentada na sala. Cabelo molhado, de shorts e blusinha de alcinha.
— Vamos até a cozinha ver se encontramos algo para comer? — a chamo e ela prontamente vem.
Vejo que dona Marta, minha cozinheira, deixou bolo de carne no forno.
— Gosta de bolo de carne? — pergunto, tentando ser mais agradável.
— Sim, gosto muito — corto um pedaço e coloco no prato que está na sua frente, pego um para mim e me sento de frente a ela.
— Você pode me falar tudo agora, por favor? — ela também quer conversar civilizadamente, isso é ótimo.
— Quase um ano depois do. . . Acidente — fico receoso em trazer isso à tona — os advogados dos seus pais, vieram me procurar, me mostraram um documento, onde seus pais, deixaria eu e sua tia, responsáveis por você, caso algo acontecesse com eles. Mas como infelizmente, sua tia também estava no acidente, eu passei a ser seu tutor legal. No documento, dizia que você só teria acesso à herança com 21 anos. Não temos como mudar isso, acredite, eu tentei.
— Por que meus pais fariam isso? — pergunta e noto que está a beira das lágrimas.
— Provavelmente, porque, nunca imaginariam, que essa situação poderia acontecer. Se sua tia tivesse viva, seria o melhor para você, na cabeça deles, pelo menos.
— Mas e agora? O que eu faço? Não tenho nada e nem ninguém — fala desolada.
— Você vai para faculdade. Vai se formar. E com 21 anos, terá acesso a sua herança e vai viver sua vida — falo de uma forma delicada, mostrando que isso não é o fim do mundo — e Rosali, não é verdade que você não tem ninguém. Você tem a mim.