Rosali
Dias atuais
Hoje completo 18 anos. Daqui a dois dias, voltarei para o Brasil. Deixarei esse lugar, que foi meu lar durante 3 anos.
No começo, vi isso aqui como um castigo, meu tio Liam, me forçou a vir para cá, um dia depois da morte dos meus pais, quem é tão desalmado para fazer isso?
Aos poucos fui percebendo que estar longe, seria melhor. Não imagino como seria ficar sozinha na casa onde cresci com meus pais, seria torturante, estar lá sem eles.
Quando ele disse estar fazendo o melhor por mim, na hora não acreditei, mas hoje sei que foi melhor. Fiz diversas amizades com as meninas daqui, muitas também são órfãs, assim como eu, então tínhamos isso em comum, o que estreitou os laços.
Tio Liam, nunca veio me visitar, mas pelo menos uma vez por mês, pergunta se estou precisando de alguma coisa. Isso é mais do que poderia esperar dele, nunca pedi nada.
Chega o dia de ir embora, estou tão nervosa, não sei o que esperar dessa minha volta ao Brasil. Minhas coisas já estão prontas, agora é só aguardar algum funcionário do tio Liam me buscar.
Como já sou adulta, vou morar sozinha. Nunca estive sozinha na minha vida, mas sou resiliente, me adapto muito rápido, mas não quero morar na casa em que cresci, vou vendê-la e comprar um apartamento pequeno.
Milhões de planos passam na minha mente, farei faculdade, de preferência jornalismo.
Nós nunca fomos muito ricos igual ao tio Liam, mas meus pais sempre tiveram uma ótima situação financeira, com a herança e a venda da casa, conseguirei me manter até conseguir um trabalho.
— Querida, seu tio chegou — a diretora da escola, a qual é uma senhora maravilhosa, me tira dos meus devaneios.
— Os funcionários do meu tio, a senhora quis dizer — falo com um sorriso debochado.
— Não, querida, seu tio mesmo — estou chocada agora, não sei nem o que dizer.
Com passos vacilantes, dirijo-me até a recepção e noto o homem me aguardando, realmente tio Liam, em carne e osso.
— Tio? — chamo receosa e ele se vira, sempre muito sério, e nossa, não lembrava o quanto é bonito.
— Olá, Rosali — um arrepio atravessa minha espinha, quando ouço meu nome sair dos seus lábios, sempre tive um certo medo dele, o associando ao próprio d***o. Teve um tempo que o chamava de tio d***o — já está tudo pronto?
— Sim, só preciso — quando vou falar que preciso pegar minhas coisas, dois homens enormes que imagino ser seus seguranças, aparecem segurando as malas — bom era isso que ia falar — aponto para eles, ele apenas assente e começa a sair da recepção.
— Estarei te esperando lá fora — avisa antes de sair.
Já me despedi das meninas antes, não sou boa com despedidas, e a única pessoa que falta eu me despedir, é da diretora Kate, uma mulher maravilhosa.
— Até mais menina, espero que tenha uma vida linda, você merece, é uma menina de ouro — fala com lágrimas nos olhos.
— Adeus, dona Kate, obrigada por tudo, a senhora foi incrível para mim — a abraço e saio, sem olhar para trás, limpando as lágrimas que insistem em deslizar pelo meu rosto.
— Estou pronta — falo chegando perto do tio Liam, ele apenas abre a porta do carro para que eu entre, deslizo pelo banco de trás e ele vem logo atrás, sentando ao meu lado.
O silêncio que se estende até o aeroporto é sufocante, não sei porque ele se deu ao trabalho de vir pessoalmente me buscar, mas eu gostaria que não tivesse vindo.
Passamos a viagem inteira em silêncio, falando apenas o essencial. A parte boa de se viajar em um avião particular, é que tem quartos. Assim que o aviso de apertar os cintos foi desligado, perguntei se podia ir descansar, o que foi prontamente autorizado.
— Aposto que ele estava querendo se livrar da minha presença, tanto quanto eu queria me livrar da dele — resmungo irritada — para que veio me buscar então? Mandasse os advogados — continuo meu monólogo.
Retiro meus sapatos e deito na cama confortável. Estive tão tensa esses últimos dias, que m*l consegui dormir, então quando menos espero, adormeço profundamente.
— Rosali, Rosali — escuto uma voz bonita e masculina me chamando. Abro os olhos e levo um susto, quando vejo tio Liam em pé na frente da cama — iremos pousar daqui a 1 hora, você precisa acordar, se recompor e voltar para seu assento.
— Eu dormi 10 horas? — pergunto confusa.
— Sim, parece que estava exausta, não demore — fala e sai do quarto, nossa que mandão, mas sei precisar fazer o que ele disse.
Vou até o banheiro anexo ao quarto e vejo meu reflexo no espelho. Estou horrível, opto por um coque no alto da cabeça, já que minha mala de mão não está aqui no quarto, desamasso um pouco minhas roupas com a mão, calço o sapato e vou me juntar a ele.
Chego na parte da frente da aeronave e ele percorre os olhos, desde o coque no alto da cabeça, até os meus sapatos, e mais uma vez sinto um arrepio na espinha. Logo ele não está me olhando mais, foi tão rápido, que nem sei dizer se aconteceu de verdade.
O aviso para que o sinto de segurança seja colocado acende, e após alguns minutos, o avião começa a pousar. Um frio se instala na minha barriga. — Estou de volta — sussurro apenas para mim.
Nunca gostei de frio, mas já estava acostumada com o frio da Suécia, assim que meus pés tocam o solo brasileiro, não me contenho e abro os braços, olhando para cima, deixando os raios solares do pôr do sol me atingir, aquecendo meu corpo e meu coração.
— O que está fazendo? — Pergunta aquela voz grossa e fria.
— Nada — digo me recompondo e andando para o carro que nos aguarda.
Enquanto o carro anda pelas ruas engarrafadas de São Paulo, meu coração bate rápido no peito, estou tão feliz, é como se minha vida fosse começar agora, me sinto livre.
— Esse não é o caminho para minha casa — falo e olho para ele que se mantém impassível.
— Não é o caminho para sua antiga casa e sim para a sua nova casa — fala sem me dar detalhes.
— Você vendeu minha casa? — pergunto assustada.
— Não, Rosali, eu nem poderia, você é a dona dela — fico aliviada.
— Mas então. . .
— Conversaremos assim que chegarmos em casa — me corta. Em casa? Não na sua casa, mas sim em casa, isso não está me cheirando bem.
Logo o motorista está entrando em uma casa enorme e linda demais, mas a recordação vem forte, espera o quê?
— Tio Liam, mas essa é a sua casa — digo o óbvio.
— Sim, Rosali, e também será a sua pelos próximos 3 anos — p***a, saí de uma prisão para cair em outra?