2 - Comemoração

1013 Words
Eleanor O dia seguinte passou rápido e, num piscar de olhos, já era noite. Todas as minhas coisas foram transferidas para o meu novo lugar, cortesia da empresa de mudanças que meu pai contratou para mim, embora eu tenha dito algumas vezes que conseguiria arranjar isso sozinha. Quando fecho a porta para o último homem da mudança, respiro fundo enquanto olho ao redor. Eu amo este lugar. Eu realmente o amo. Tecnicamente, não é realmente meu porque estou apenas alugando, mas ainda parece meu. Os pequenos toques aqui e ali me ajudaram a adotá-lo como meu. Minha mãe sempre dizia que uma casa é apenas quatro paredes que te mantêm protegido do clima. Mas um lar é um lugar acolhedor, onde você é lembrado a cada passo que você mora ali, que você está seguro ali. Coloquei uma foto emoldurada de nós três bem ao lado da minha cama e espalhei pequenas bugigangas, "coletores de pó", como meu pai gosta de chamá-los, por todo o apartamento. Claro, vai ser um incômodo limpar, ter que mover tudo e depois colocá-los de volta no mesmo lugar. Mas parece um lar. Realmente parece. Uma ideia me vem à mente. Eu poderia convidar meu pai e pedirmos uma pizza. Mas, antes mesmo de pegar o celular, ouço a campainha. Olho na direção da porta e sorrio. Será que ele previu minha ideia e agora está parado em frente à porta? Vou até lá e destranco a porta, mas ao abrir, vejo, com uma leve pontada de decepção, que não é ele. — E aí, garota! — grita Amélia tão alto que o corredor inteiro ecoa. Já me acostumei com os modos dela na sua cara e parei de me incomodar, mesmo sabendo que outros acham isso um tanto grosseiro. Amélia, ao contrário de Isabella, que está parada bem ao lado dela, não faz parte do nosso círculo social. Pelo menos, ela não começou assim. Ela era apenas uma caipira, um termo que Isa e eu usamos carinhosamente, e Amélia não gosta disso, mas ela aguenta. O pai dela ganhou muito na bolsa de valores e se mudou com a família toda para a cidade grande. Nós três acabamos na mesma turma no ensino médio e, de alguma forma, nos demos bem. — Ei, pessoal — eu respondo, me movendo para o lado para deixá-las entrar. Isa entra primeiro, e vejo que ela está pronta para uma saída à noite com um top de seda e uma minissaia, um pouco curta demais para o meu gosto. Isa sempre teve um corpo para mostrar, e não tinha problema em exibi-lo. Mesmo quando ela ainda era isca para a prisão, andava com aqueles saltos altos que roubava do armário da mãe como uma profissional, com um cigarro fino pendurado no canto dos lábios carnudos. — Você já terminou de desempacotar? — Isa pergunta, olhando de relance em volta. Amélia se senta no sofá. Do jeito que ela está vestida, você pensaria que é cinco anos mais nova que Isa, com aqueles jeans simples e blusa branca. Percebo que ela não está usando óculos. Isso geralmente significa que vai sair e quer conhecer alguém novo. — Mais ou menos — concordo. — O que vocês estão fazendo aqui? Achei que tínhamos combinado de nos encontrar amanhã. — Esse plano continua — Isa concorda. — Mas a Amélia e eu estávamos pensando que você se mudar daquela mansão merece uma comemoração. Quer dizer, eu ainda não sei o que te deu para fazer isso, aquela casa é incrível pra caramba, mas ainda mais poder para você. Amélia ri no sofá e, deste ângulo, vejo a pele do seu queixo engrossando. Daqui a uns 10, 20 anos, ela vai estar acima do peso como a mãe, se não tomar cuidado. — Então, vamos levar você para o Colt — Isa conclui. Colt é exatamente o que o nome diz. Possuindo nome de uma arma que conquistou o mundo, Colt é uma boate que rapidamente se tornou o ponto de encontro mais popular dos jovens e ricos. Além disso, não era escrava de estereótipos. Você tem dinheiro para pagar as bebidas absurdamente caras? Então, entre. — Ah, gente, não estou com vontade de abrir caminho no meio da multidão para chegar ao banheiro, ou de caras gritando cantadas ruins no meu ouvido — reviro os olhos e me sento ao lado de Amélia. — Lembra do último cara? — Amélia dá uma risadinha. — Você é algum tipo de doce viciante? Porque você é gostosa e eu quero mais! — Isa altera a voz como se fosse ele falando, aprofundando-a um pouco, e estamos todas morrendo de rir. Nenhuma de nós se lembra da cara do coitado; só nos lembramos da cantada dele. E, com uma cantada dessas, é melhor não lembrar de mais nada. — Como você pode não querer ouvir mais preciosidades como essa? — Isa sorri. Viro-me para Amélia e vejo-a lançar-me um olhar de cachorrinho. Isa senta-se ao meu lado no sofá, e elas me pressionam de ambos os lados. — Por favoooooor? — elas cantam em uníssono, e eu finalmente pulo para cima. — Tá bom, tá bom! — eu rio. — Mas só um drinque. — Aleluia! Louvado seja o Senhor! — Isa faz sua melhor voz de Madea, e estamos todas rolando de rir. — Apenas me deem um minuto para trocar — digo, quando finalmente paro de rir. — Coloque aquele vestidinho preto safado! — ouço Isa gritar. — Quero alguma competição desta vez! Eu sempre acho que a Amélia pode levar a m*l e ficar chateada ou algo assim, porque a Isa realmente não tem filtro. Uma vez, ela até me disse que meu pai estava afim de um cara velho e que, se ela estivesse bêbada o suficiente, transaria com ele. Desnecessário dizer, festas do pijama foram canceladas daquele dia em diante. Não que eu achasse que ela realmente faria isso. Às vezes, Isa era só um exibicionista. Só latia e não mordia. Mas, com coisas assim, nunca se pode ter 100% de certeza.
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