Capítulo 51. Ajustes

1209 Words
Os dias seguintes foram frios e silenciosos. Nem Theodore, nem Sophie procuraram o outro e, dentro da Beaumont& McGoldrick Grup, todos sentiram a tensão no ar. As interações entre eles se resumiam a e-mails objetivos, assinados com formalidade exagerada, e reuniões em que m*l trocavam olhares. Ainda assim, por mais que tentasse ignorar, Theodore sentia falta dela. A ausência de Sophie deixava os corredores vazios, os dias longos demais. Ele se convenceu de que manter distância era o certo, que assim as coisas ficariam mais simples. Mas, no fundo, sabia que nada era simples entre eles. Sophie por outro lado, mantinha a pose inabalável de sempre. Mas, sentia a falta dele, das provocações, até mesmo das discussões. Ela já tinha se acostumado demais com ele e trata-lo como um parceiro de negócios estava incomodando ela mais do que deveria. Naquela sexta-feira, perto do final da tarde, Sophie apareceu diante da porta do escritório dele. Ela estava impecável como sempre saia lápis, salto alto, o cabelo preso num coque firme que não deixava transparecer o quanto ela estava exausta. Trazia em mãos uma pasta com os ajustes finais do evento, e seu tablet para conferência. Antes de bater, porém, ouviu risadas vindas de dentro da sala. A voz de Theodore era grave, descontraída. A outra, feminina, suave e... exageradamente doce. Sophie respirou fundo, forçando um sorriso educado antes de entrar. Abriu a porta e lá estava ele, sentado atrás da mesa, com uma mulher encostada ao lado, segurando um copo de café e sorrindo de forma sugestiva. — Oh, Sophie. — Theodore levantou o olhar, ligeiramente surpreso, mas mantendo o tom neutro. — Que coincidência. A mulher alta, de cabelos loiros cuidadosamente arrumados virou-se e sorriu. — Você deve ser Sophie McGoldrick. Ouvi muito sobre você. — Imagino.— respondeu Sophie para a mulher, com um sorriso que não chegava aos olhos. Ela se aproximou, colocando a pasta sobre a mesa com calma. —Coincidência por quê? Sou dona dessa empresa , Theodore. — Claro — ele respondeu, mas a loira ainda não tinha se afastado. — Esta é Victoria Clarke, relações públicas da Maison Deneuve. Ela veio discutir um possível patrocínio para a campanha. Victoria riu, pousando a mão no braço de Theodore. — Discutir é uma palavra forte. Eu diria conversar com charme. Sophie manteve o sorriso, mesmo sentindo o estômago se contrair. — Que encantador. — disse, com doçura forçada. Então virou-se para Victoria, a voz ganhando um tom sutilmente mais firme. — Pode nos dar um momento, senhorita Clarke? A mulher piscou, ligeiramente confusa. — Oh, claro, mas— Sophie a interrompeu com gentileza impecável, inclinando levemente a cabeça. — É que o que eu preciso tratar agora é assunto pessoal. Coisas de noivos, entende? — Sophie diz em tom calmo e doce, levantando a mão em direção a mulher, mostrando a aliança. O gesto ficou no ar, carregado de intenção. Victoria piscou novamente, corando um pouco, antes de recolher sua bolsa e sorrir sem graça. — Claro, eu entendo. Foi um prazer, senhor Beaumont. — Igualmente. — Theodore respondeu, mas sem desviar os olhos de Sophie. Assim que a porta se fechou, o silêncio dominou a sala. Sophie cruzou os braços, evitando o olhar dele. — Espero não ter interrompido nada... importante. — disse, com calma, embora o tom estivesse levemente afiado. Theodore arqueou uma sobrancelha, um canto da boca se erguendo num meio sorriso. — Você parece incomodada, McGoldrick. — Estou apenas cumprindo meu papel. — Ela abriu a pasta e puxou os documentos. — Afinal, parece que agora somos o centro das atenções. Precisamos estar prontos para o dia sete. Ele a observou, notando o modo como ela evitava encará-lo. Havia algo diferente nela não era apenas irritação. Era orgulho ferido, disfarçado sob o controle de sempre. Theodore segurou um sorriso que insistia em aparecer no canto da boca. — E você, está pronta para isso? Sophie finalmente o olhou. — Estar pronta é o que eu sempre fiz, Theodore. — respondeu friamente. — Você deveria saber disso. — Antes que diga qualquer coisa — começou ela, o tom firme, o olhar preso na tela —, quero deixar claro como essa conversa vai funcionar. Theodore arqueou uma sobrancelha. — Isso parece perigoso. — Não é uma conversa, é uma reunião, na verdade — ela corrigiu, seca. — E você só pode responder sim ou não. Nenhum comentário, nenhuma ironia, nenhuma tentativa de me irritar. —Entendido? Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços, um meio sorriso no rosto. — Entendido. Sophie o ignorou e começou, deslizando o dedo sobre o tablet. — Primeira questão: seu terno. Eu quero em tom creme, para combinar com a paleta de cores do evento. Concorda? — Sim. — Ótimo. — Ela fez uma anotação rápida, sem levantar os olhos. — Música da valsa. Opções: orquestra clássica ou versão moderna ao piano. — Piano. Sophie ergueu os olhos, estreitando-os. — Theodore, isso não é sim ou não. Ele riu baixinho. — Então reformulando: sim para o piano. Ela respirou fundo, contendo o impulso de rolar os olhos. — Muito bem. Próximo ponto: a revista Elite Society pediu exclusividade de fotos do evento. Quer permitir a cobertura completa? — Sim. Sophie fez mais uma anotação, o rosto sério, sem expressão. — Fotos prévias do casal — ela enfatizou a palavra — serão necessárias. Sessão marcada para quinta-feira. Concorda? — Sim. — Padrinhos — ela continuou. — Sua mãe sugeriu incluir o senhor Harry e o senhor Morgan. Concorda? Theodore hesitou um instante, o maxilar tenso. — Não. Ela o olhou brevemente. — Algum motivo específico para discordar? — Você disse que eu só podia responder sim ou não. — respondeu, com um leve sorriso, cínico. Sophie mordeu a língua para não retrucar. Fez outra anotação e continuou: — Último ponto por hoje: jantar de noivos. Seu assessor quer marcar no restaurante da família Beaumont. — Não. Ela levantou o olhar dessa vez, surpresa. — Não? — Prefiro em um lugar neutro. — disse, sem ironia, apenas firme. — E antes que reclame, isso é importante para a imagem do casal, certo? Sophie ficou em silêncio por um momento, estudando o rosto dele. Havia algo diferente no tom de Theodore uma calma controlada, mas sem arrogância. Por um instante, seus olhos se prenderam aos dele, ela quase esqueceu o roteiro frio que havia preparado. Mas logo voltou a si, fechando o tablet. — Muito bem. A reunião terminou. Ela se levantou, recolhendo os papéis e mantendo o mesmo ar profissional. Mas antes de sair, Theodore falou: — Sophie. Ela parou na porta, sem se virar. — Sim? — O terno pode ser creme, mas a gravata eu escolho. Ela não vira o rosto, mas um sorriso ameaça aparecer. — Não.— ainda de costas para ele, ela acrescenta.— Ah, da próxima vez, prometo não atrapalhar sua “conversa com charme”. A porta se fechou suavemente, mas o efeito ficou. Theodore soltou um suspiro pesado, passando a mão pelo rosto, entre o irritado e o intrigado. "Ela está com ciúmes?" — pensou, e um sorriso involuntário apareceu. Mas logo sumiu, substituído pela dúvida amarga que o acompanhava desde o beijo. "Ou está apenas jogando de volta?"
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