Os dias seguintes foram frios e silenciosos.
Nem Theodore, nem Sophie procuraram o outro e, dentro da Beaumont& McGoldrick Grup, todos sentiram a tensão no ar.
As interações entre eles se resumiam a e-mails objetivos, assinados com formalidade exagerada, e reuniões em que m*l trocavam olhares.
Ainda assim, por mais que tentasse ignorar, Theodore sentia falta dela.
A ausência de Sophie deixava os corredores vazios, os dias longos demais. Ele se convenceu de que manter distância era o certo, que assim as coisas ficariam mais simples.
Mas, no fundo, sabia que nada era simples entre eles.
Sophie por outro lado, mantinha a pose inabalável de sempre. Mas, sentia a falta dele, das provocações, até mesmo das discussões. Ela já tinha se acostumado demais com ele e trata-lo como um parceiro de negócios estava incomodando ela mais do que deveria.
Naquela sexta-feira, perto do final da tarde, Sophie apareceu diante da porta do escritório dele.
Ela estava impecável como sempre saia lápis, salto alto, o cabelo preso num coque firme que não deixava transparecer o quanto ela estava exausta.
Trazia em mãos uma pasta com os ajustes finais do evento, e seu tablet para conferência.
Antes de bater, porém, ouviu risadas vindas de dentro da sala.
A voz de Theodore era grave, descontraída. A outra, feminina, suave e... exageradamente doce.
Sophie respirou fundo, forçando um sorriso educado antes de entrar.
Abriu a porta e lá estava ele, sentado atrás da mesa, com uma mulher encostada ao lado, segurando um copo de café e sorrindo de forma sugestiva.
— Oh, Sophie. — Theodore levantou o olhar, ligeiramente surpreso, mas mantendo o tom neutro. — Que coincidência.
A mulher alta, de cabelos loiros cuidadosamente arrumados virou-se e sorriu.
— Você deve ser Sophie McGoldrick. Ouvi muito sobre você.
— Imagino.— respondeu Sophie para a mulher, com um sorriso que não chegava aos olhos.
Ela se aproximou, colocando a pasta sobre a mesa com calma. —Coincidência por quê? Sou dona dessa empresa , Theodore.
— Claro — ele respondeu, mas a loira ainda não tinha se afastado. — Esta é Victoria Clarke, relações públicas da Maison Deneuve. Ela veio discutir um possível patrocínio para a campanha.
Victoria riu, pousando a mão no braço de Theodore.
— Discutir é uma palavra forte. Eu diria conversar com charme.
Sophie manteve o sorriso, mesmo sentindo o estômago se contrair.
— Que encantador. — disse, com doçura forçada. Então virou-se para Victoria, a voz ganhando um tom sutilmente mais firme. — Pode nos dar um momento, senhorita Clarke?
A mulher piscou, ligeiramente confusa.
— Oh, claro, mas—
Sophie a interrompeu com gentileza impecável, inclinando levemente a cabeça.
— É que o que eu preciso tratar agora é assunto pessoal. Coisas de noivos, entende? — Sophie diz em tom calmo e doce, levantando a mão em direção a mulher, mostrando a aliança.
O gesto ficou no ar, carregado de intenção.
Victoria piscou novamente, corando um pouco, antes de recolher sua bolsa e sorrir sem graça.
— Claro, eu entendo. Foi um prazer, senhor Beaumont.
— Igualmente. — Theodore respondeu, mas sem desviar os olhos de Sophie.
Assim que a porta se fechou, o silêncio dominou a sala.
Sophie cruzou os braços, evitando o olhar dele.
— Espero não ter interrompido nada... importante. — disse, com calma, embora o tom estivesse levemente afiado.
Theodore arqueou uma sobrancelha, um canto da boca se erguendo num meio sorriso.
— Você parece incomodada, McGoldrick.
— Estou apenas cumprindo meu papel. — Ela abriu a pasta e puxou os documentos. — Afinal, parece que agora somos o centro das atenções. Precisamos estar prontos para o dia sete.
Ele a observou, notando o modo como ela evitava encará-lo.
Havia algo diferente nela não era apenas irritação. Era orgulho ferido, disfarçado sob o controle de sempre.
Theodore segurou um sorriso que insistia em aparecer no canto da boca.
— E você, está pronta para isso?
Sophie finalmente o olhou.
— Estar pronta é o que eu sempre fiz, Theodore. — respondeu friamente. — Você deveria saber disso.
— Antes que diga qualquer coisa — começou ela, o tom firme, o olhar preso na tela —, quero deixar claro como essa conversa vai funcionar.
Theodore arqueou uma sobrancelha.
— Isso parece perigoso.
— Não é uma conversa, é uma reunião, na verdade — ela corrigiu, seca. — E você só pode responder sim ou não.
Nenhum comentário, nenhuma ironia, nenhuma tentativa de me irritar.
—Entendido?
Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços, um meio sorriso no rosto.
— Entendido.
Sophie o ignorou e começou, deslizando o dedo sobre o tablet.
— Primeira questão: seu terno. Eu quero em tom creme, para combinar com a paleta de cores do evento. Concorda?
— Sim.
— Ótimo. — Ela fez uma anotação rápida, sem levantar os olhos. — Música da valsa. Opções: orquestra clássica ou versão moderna ao piano.
— Piano.
Sophie ergueu os olhos, estreitando-os.
— Theodore, isso não é sim ou não.
Ele riu baixinho.
— Então reformulando: sim para o piano.
Ela respirou fundo, contendo o impulso de rolar os olhos.
— Muito bem. Próximo ponto: a revista Elite Society pediu exclusividade de fotos do evento. Quer permitir a cobertura completa?
— Sim.
Sophie fez mais uma anotação, o rosto sério, sem expressão.
— Fotos prévias do casal — ela enfatizou a palavra — serão necessárias. Sessão marcada para quinta-feira. Concorda?
— Sim.
— Padrinhos — ela continuou. — Sua mãe sugeriu incluir o senhor Harry e o senhor Morgan. Concorda?
Theodore hesitou um instante, o maxilar tenso.
— Não.
Ela o olhou brevemente.
— Algum motivo específico para discordar?
— Você disse que eu só podia responder sim ou não. — respondeu, com um leve sorriso, cínico.
Sophie mordeu a língua para não retrucar.
Fez outra anotação e continuou:
— Último ponto por hoje: jantar de noivos. Seu assessor quer marcar no restaurante da família Beaumont.
— Não.
Ela levantou o olhar dessa vez, surpresa.
— Não?
— Prefiro em um lugar neutro. — disse, sem ironia, apenas firme. — E antes que reclame, isso é importante para a imagem do casal, certo?
Sophie ficou em silêncio por um momento, estudando o rosto dele.
Havia algo diferente no tom de Theodore uma calma controlada, mas sem arrogância.
Por um instante, seus olhos se prenderam aos dele, ela quase esqueceu o roteiro frio que havia preparado.
Mas logo voltou a si, fechando o tablet.
— Muito bem. A reunião terminou.
Ela se levantou, recolhendo os papéis e mantendo o mesmo ar profissional.
Mas antes de sair, Theodore falou:
— Sophie.
Ela parou na porta, sem se virar.
— Sim?
— O terno pode ser creme, mas a gravata eu escolho.
Ela não vira o rosto, mas um sorriso ameaça aparecer.
— Não.— ainda de costas para ele, ela acrescenta.— Ah, da próxima vez, prometo não atrapalhar sua “conversa com charme”.
A porta se fechou suavemente, mas o efeito ficou.
Theodore soltou um suspiro pesado, passando a mão pelo rosto, entre o irritado e o intrigado.
"Ela está com ciúmes?" — pensou, e um sorriso involuntário apareceu.
Mas logo sumiu, substituído pela dúvida amarga que o acompanhava desde o beijo.
"Ou está apenas jogando de volta?"