Eu sou agnóstica

2057 Words
Lauren Mckay — Então é isso? — questionei, com muito descontentamento — eu não posso nem escolher o vestido que eu vou me casar? Meu pai observou a estilista ao meu lado e suspirou, pedindo para que ela se retirasse. — Lauren, você está reclamando de um vestido cravejado com cinco mil diamantes, feito pela melhor estilista da França. Olhei o velho em minha frente e me olhei no espelho. — Eu estou reclamando da falta de autonomia que eu tenho nesse matrimônio. Nós estamos no século vinte e um... mais especificamente, no início da terceira década do século vinte e um. E eu não posso escolher o meu vestido. Muito pelo contrário, eu tenho que me olhar no espelho com essa coisa me sufocando até o pescoço. — Foi um presente do seu noivo. Eu dei risada. — Sabe quantas vezes eu vi o meu noivo? — Lauren... — Duas vezes, pai. Uma vez ele ficou sentado olhando para mim igual a uma estátua enquanto eu apresentava o projeto de melhoria na emissão de carbono das extrações petrolíferas da nossa digníssima empresa... — E foi uma apresentação brilhante — ele complementou. — E a outra vez — revirei os olhos — ele passou de carro por mim no estacionamento da fábrica e me deu um aceno... Por trás de um vidro fumê. — Ele é reservado. Respirei o mais fundo que pude. — Pai, ele não tem redes sociais, ele não participa ativamente da sociedade da empresa, faria mais sentido eu me casar com o pai dele. Meu pai deu risada e fez uma cara de nojo. — Você tem vinte e oito anos e ele quase setenta, filha. Eu não sou tão r**m a ponto de deixar você se casar com um homem mais velho do que eu... E o filho dele é bem bonito, vocês se conhecem desde os seus quinze anos. — E volto a dizer que desde os meus quinze anos eu o vi... — Somente duas vezes — mais uma vez, meu pai completou. — Pai, eu sempre soube que meu destino seria esse. Sem a mamãe, sem irmãos, sendo herdeira da maior rede de petróleo da américa do norte e central. Eu sempre soube que eu provavelmente teria que me casar com alguém da sociedade para manter o nosso legado. E para ser sincera, eu sou uma das mulheres mais poderosas dos Estados Unidos, pai. Eu gosto de estar na presidência da empresa, gosto mesmo. Mas é complicado casar com uma pessoa que não tem essa mesma paixão. Ele nunca está presente na indústria, reuniões, fóruns ou qualquer outra coisa. Como vou manter o legado de tudo isso sozinha? — Você sabe que ele é... — Pastor — foi a minha vez de completar — mas é impossível que ele passe vinte e quatro horas, sete dias por semana, em uma igreja. — Ele sempre está na igreja. — Pai, eu sou agnóstica. Nós dois suspiramos e rimos em seguida. Eu sou uma mulher muito ambiciosa, e essa será o meu desafio. Me casar com um homem que não conheço, viver em uma casa que não é a minha, e fazer muito, muito, muito dinheiro. A minha união com o filho do filantropo mais poderoso dos Estados Unidos é apenas um negócio para consolidar nossas sociedades. Eu fui condicionada desde muito cedo sobre a vida que eu teria. Eu não espero ser amada, cuidada ou ter uma família grande e feliz. Eu só quero poder e sucesso, e, se me casar com um pastor significa isso, tudo bem. — E se ele sequer te maltratar, você sabe que pode me avisar e no minuto seguinte eu estarei lá. Assenti e mordi meu lábio. — Eu não vou me casar com esse vestido... Genevive! — gritei a estilista, que apareceu em segundo um pouco afobada — tire as mangas e esta gola, eu quero um decote e uma f***a na coxa. — Mas... — ela calculou bem as palavras — o casamento é amanhã. — Então se apresse — joguei uma piscadela. — Senhorita Mckay, o vestido está cravejado de diamantes, não vai dar tempo. Olhei meu pai e prendi a respiração. — Só arranque essa maldita gola. Como fora acordado desde os meus quinze anos de idade, eu estava prestes a entrar na igreja. Seria o maior teatro da minha vida. Havia acionistas, algumas pessoas que pagaram para estar no grande evento, ou melhor dizendo, “O Casamento do Ano” segundo a revista Times. Eu não sou uma mulher de muitas amizades, mas a minha única amiga estava ali, torcendo por mim, sendo minha dama de honra. E quando eu precisei de ar naquele dia chuvoso de outono, ela me garantiu que tudo seria por uma boa causa. Julienne tinha razão, eu precisava manter o legado e fortuna da minha família. Quando as grandes portas se abriram e eu fui revelada, meu noivo estava estático no altar ao lado do celebrante. Eu não podia negar que Alec Hastings era muito bonito. Ele era alto, forte e loiro. Os olhos esverdeados e grandes estavam vidrados em mim. O terno preto com detalhes prateados discretos o deixava ainda mais atraente, e eu tenho certeza de que qualquer mulher naquele momento estaria muito feliz em casar-se com um homem tão bonito. Meu pai caminhou comigo até o noivo, onde um pastor nos recebeu com um sorriso e toda a calmaria se fez presente. Estávamos em um grande salão de vidro, próximo ao Madson Square Garden. Expostos aos fotógrafos propositalmente, em uma união sem vontade, sem paixão. Somente dois adultos cumprindo com as promessas de pais magnatas. Minha mente estava em meio a névoa, se perdendo com os trovões. Eu m*l senti quando minhas cordas vocais expeliu a palavra “Aceito”. E em segundos Alec estava com os lábios grudados no meus. Eu já beijei um homem com vontade, e ali só existia interesses. Senti como se tivesse beijado um boneco de cera. Olhei em volta e encontrei meu pai em meio aos convidados que eu sequer conhecia. — Você retirou a gola do vestido — Alec sussurrou. — Você tem um gosto péssimo. — Era da minha mãe. Caminhando até a saída do grande salão, eu o olhei nos olhos com cinismo. — Então sua mãe tem um péssimo gosto, padre. — Pastor — ele corrigiu. — Que seja. Seria um matrimônio de dois anos muito interessante. Após algumas horas, a ideia de estar casada me parecia menos assustadora quando desembarcamos nas Bahamas. Eu já havia visitado o lugar algumas vezes, e era perfeito para aproveitar a lua de mel sozinha. Após a festa com os convidados, nós saímos para a nossa noite de núpcias e posteriormente a lua de mel. A noite de núpcias foram dois adultos dormindo em quartos separados em um hotel de luxo, onde a administração do hotel assinou um contrato de confidencialmente sobre a estadia dos recém-casados, e no dia seguinte, estávamos em um jatinho a caminho das Bahamas. Alec não disse uma palavra sequer desde o dia anterior quando fomos cada um para o devido quarto e ele me desejou boa noite. Eu tinha perguntas e não tinha certeza se ele me daria a resposta, mas ainda havia duas horas de voo e ele estava sentado de frente para mim utilizando um notebook de forma ávida. — Alec? Ele ergueu o olhar, me encarando. ­— Como vai ser isso? Vamos poder sair com outras pessoas? Ou você é santo demais para isso? — Você pode fazer o que quiser, senhora McKay. Eu sirvo a Deus e aos meus fiéis. Estou indo nesta viagem para dar assunto para a mídia, mas tenha certeza de que eu não sairei do meu quarto. — É estranho um pastor concordar com um casamento arranjado. — Você teve escolha? — ele me questionou e eu neguei. ­— eu também não tive, essa é a minha vida, infelizmente. Mas eu posso tentar me redimir estando próximo da salvação. Que homem insuportável. — Então tudo bem eu aproveitar a lua de mel com outros homens? — Você quer um relacionamento aberto? ­— Obviamente — não pensei duas vezes antes de falar — me casar sem amor, tudo bem..., mas não me relacionar fisicamente com ninguém será impossível. — Você acha que eu não posso te satisfazer? Eu dei risada. — Eu não quero que você me toque, pastor — encostei na poltrona — fora dos holofotes, somos dois estranhos. Ele voltou a mexer no notebook e eu coloquei meus fones, fechando os olhos. Acordei assustada com alguém me cutucando e abri os olhos, encontrando o olhar de Alec. Ele apontou para a janela e eu me dei conta de que já tínhamos aterrissado. Me direcionei para a saída e observei a paisagem, descendo as escadas do jatinho. Havia uma SUV preta estacionada nos aguardando na pista de voo. Eu apanhei as minhas bagagens e logo o motorista abriu o porta-malas, me ajudando com as malas. — De fato, ele é bem sem graça - Geralt resmungou e ri baixinho. — Espero te encontrar esta noite no meu quarto — resmunguei de volta e ele assentiu discretamente, voltando para o carro. Alec estava falando ao telefone e ainda não havia guardado as malas, então eu entrei e me sentei no banco de trás, sentindo o olhar do motorista me devorar atrás do retrovisor. Em alguns minutos, Alec guardou seus pertences e sentou-se ao meu lado, teclando algo no celular. — É com ele que você irá t*****r esta noite? — meu marido perguntou e Geralt se engasgou no banco da frente — eu não sou i****a, se é o que pensa. Eu só peço que sejam discretos. Não quero um escândalo. Revirei os olhos e me virei para ele. — Alec, você está pouco se fodendo para a empresa. Você não liga para absolutamente nada. Todas as responsabilidades estão sob o meu ombro enquanto você reza para Deus. Pode ter certeza de que a pessoa que mais está determinada a fazer essa merda dar certo sou eu. — Você tira suas conclusões com muita facilidade, Lauren. — Você facilita isso. Se você quer viver em função de Deus e da sua comunidadezinha, fique à vontade. Mas esteja no mínimo presente na corporação. Alec massageou as têmporas e abriu o botão de sua camiseta, a pele bronzeada chamou a minha atenção e eu suspirei. Ele era muito bonito, e aos olhos dos outros éramos um casal perfeito. Uma mulher retinta afro-americana, com cabelos longos e um rosto bonito, e um homem alto, forte e sensual, com olhos misteriosos e bom moço. — Deus me mantém vivo, Lauren. — Eu sei da história do seu acidente de carro. Que capotou cinco vezes, seu melhor amigo morreu e você teve apenas um corte no supercílio. Depois disso você decidiu servir a quem você acha que te salvou. Mas isso não justifica você viver em função disso. Você pode ser muito mais do que um servo. Não há m*l nenhum em ser religioso, mas há em fanatismo. — E você é fanática por poder. Então, não pode me julgar. Você vive em função da McKay Corporation. Cada um de nós temos uma cruz. Decidi não responder e segui viagem em silêncio, trocando algumas mensagens com a Julienne. Minha amiga me enviou algumas fotos do casamento e eu observei sem encanto. Pelo menos eu estava bonita. Em menos de meia hora nós chegamos no hotel e fomos direcionados para o nosso quarto. Já estava de tarde e eu decidi pedir um almoço rápido e sair para caminhar. Tirei algumas fotos para alimentar as minhas redes sociais e pela noite eu recebi Geralt na suíte. E ele fez valer a pena todo cansaço de estar casada com um total estranho. Entre os lençóis e um pouco bêbados, o meu motorista se espreguiçou e deu um beijo no meu ombro. Eu dei risada e o beijei lentamente em seguida. ­— Estou curioso para saber como vai ser a convivência entre uma agnóstica e um pastor. Revirei os olhos, apanhando uma taça de champanhe em seguida. — Vai ser um tanto desafiador — suspirei — Mas são só dois anos. Só espero não me divorciar convertida — ironizei. — Ninguém doma você, Lauren. Você sabe disso.
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