"A secretária do David," Marina falou arrastando as palavras, erguendo-se da cadeira com uma graça afetada. Seus olhos percorreram Lily de alto a baixo com um desdém calculado—dos sapatos simples até o cabelo preso com rigor. "Hmm. Não entendo todo o burburinho."
Lily manteve a expressão neutra, embora os dedos cerrados na bandeja de café a traíssem. "Posso ajudar em alguma coisa, Sra. Laurent?"
Marina sorriu com malícia, cercando-a como uma felina. "Ah, estou apenas... conhecendo a concorrência." Ela fez uma pausa, batendo uma unha perfeita na mesa do David. "Diga-me, como é a sensação? Fingir ser a dona da casa de outro homem por cinco anos?"
Lily não se abalou. "Se refere ao meu trabalho, todos os registros estão em dia. Gostaria que eu buscasse os arquivos?"
O sorriso de Marina vacilou por uma fração de segundo. Ela não esperava tanta frieza—tanta postura profissional. A percepção aguçou sua voz. "Espertinha. Mas nós duas sabemos que você era apenas um tapa-buraco."
Ela se inclinou, seu sussurro era um veneno puro. "David me contou tudo. Como ele se sentia sozinho. Como você era... conveniente."
Seus lábios se curvaram em desprezo. "Você realmente pensou que ele se contentaria com uma servente?"
O pulso de Lily acelerou, mas sua resposta foi cortante.
"O nosso acordo terminou. E como este é um ambiente de trabalho, sugiro profissionalismo. O Sr. Hardison não tolera distrações."
"Oh, olha só," Marina zombou, os olhos brilhando com diversão c***l. "Fala como se o conhecesse."
Ela agarrou a xícara de café da bandeja, fazendo o líquido escuro rodopiar.
"Deixe-me adivinhar—grãos etíopes? Noventa e seis graus? Patético. Você poderia fazer isso a vida toda e ele mesmo assim nunca—"
Passos firmes ecoaram no corredor.
Antes que Lily pudesse reagir, Marina derramou o café fumegante sobre a própria mão.
"Ai!" ela soltou um grito estridente, deixando a xícara cair com um estrondo justo quando David entrou.
Lily ficou com o ar preso. A cena era uma armadilha perfeita: Marina segurando o pulso avermelhado, lágrimas apertadas em seus cílios, e Lily paralisada, segurando uma bandeja vazia.
A voz de Marina trêmula e teatral: "David... ela—ela jogou café em mim!"
O olhar de David cravou-se em Lily, sua expressão escurecendo instantaneamente.
"Lily!" Sua voz estalou como um chicote no escritório. "O que foi que você fez?!"
Lily continuou imóvel, a bandeja vazia pesando em suas mãos. Seus lábios entreabriram-se em incredulidade.
"Eu não—"
"Chega!" David a interrompeu, sua voz cortante. "Acha que por trabalhar aqui há anos pode fazer o que quer? Que eu aceitaria você atacando a Marina?"
As mãos de Lily tremiam. "David, ela fez isso sozinha... Eu não fiz nada."
"Ela fez isso sozinha?" Ele riu, um som seco e cínico. "A Marina trata as mãos como joias. Você realmente espera que eu acredite nisso?"
"É a verdade—" Sua voz quebrou, carregada de uma dor profunda.
"Peça desculpas." Sua ordem não admitia discussão.
"Não vou pedir desculpas por algo que não fiz."
A mandíbula de David tensionou-se. "Então arque com as consequências."
Antes que Lily pudesse reagir, ele agarrou a garrafa de vinho tinto de sua mesa e despejou o conteúdo sobre sua cabeça.
O líquido tinto e gelado encharcou seu cabelo, escorrendo em filetes por seu rosto e transpassando sua blusa. O cheiro ácido do vinho impregnou o ar enquanto poças se formavam no chão.
Do outro lado da sala, os lábios de Marina curvaram-se em triunfo, embora rapidamente ela compusesse um rosto de preocupação fingida. "David, querido, não precisa se exaltar..." sussurrou, atiçando o fogo que fingia apagar.
David m*l dignou-se a olhar para Lily novamente, sua atenção já totalmente voltada para a mão avermelhada de Marina.
"Vamos para o hospital", disse com firmeza, guiando-a para fora com uma mão possessiva nas suas costas.
Enquanto passavam por ela, Lily permaneceu estática, o vinho ainda pingando de seu queixo. O escritório havia caído em um silêncio mortal—todos os colegas congelados em suas baias, olhos arregalados.
O ambiente ficou carregado de sussurros pelo resto da manhã. Lily sentia os olhares queimando suas costas enquanto trabalhava—de pena, de escárnio, de vitória alheia.
Ela estava no banheiro, tentando limpar os últimos vestígios de vinho da gola, quando a risada inconfundível e estridente de Jenny ecoou pelos azulejos.
"—queria que você tivesse visto a cara dela quando o Sr. Hardison jogou aquele vinho!" Jenny gabava-se para seu grupo de puxa-sacos. "Todos esses anos se fazendo de secretária perfeita, e olha como ele trata a verdadeira preferida."
"Temos que comemorar hoje," outra voz entrou na conversa. "Finalmente a oportunista recebeu o que merecia."
O reflexo de Lily no espelho encarou-a—cabelo ainda úmido, olhos avermelhados mas secos de lágrimas. Algo dentro dela se partiu de vez.
Ela arrancou o regador decorativo do parapeito da janela e arremessou a água num movimento amplo e decidido.
Um coro de gritos agudos encheu o ambiente enquanto Jenny e suas companheiras recuavam, encharcadas.
"Sua maluca!" Jenny gritou, o rímel escorrendo em manchas negras pelas bochechas.
"Não," Lily disse com uma calma aterradora, recolocando o regador no lugar com precisão. "Só estou retribuindo por todas as vezes que tampei suas incompetências."
"Vamos ver—" Ela contou nos dedos, um por um. "Você não formata uma planilha sem estragar as fórmulas, os relatórios da Claire estão sempre atrasados, e a Sophie—" Um sorriso gelado. "Bem, todos sabemos quem realmente faz as apresentações dela."
"E daí?" Jenny ainda tentava se impor, sem um pingo de remorso. "A culpa é sua por ser tão otária!"
Lily agarrou o pulso de Jenny no meio do gesto e a empurrou com força decisiva. A outra mulher esparramou-se nos azulejos molhados.
"Pode ir lá e me denunciar," Lily disse, ajustando a bolsa no ombro. "Minha demissão já está na mesa do David. Estou mais interessada em ver quanto tempo leva para ele perceber que nenhuma de vocês consegue tocar um projeto sozinha."
Então, deu as costas e caminhou com passos firmes em direção ao corredor.
Quando Lily emergiu do prédio, a luz do fim de tarde a atingiu implacável.
Lily pegou o telefone e digitou com dedos firmes e decisivos:
"David -
Os papéis do divórcio, devidamente assinados, estão em sua mesa.
P.S. Vai precisar de uma nova secretária."
Ela então apertou 'enviar'.