Capítulo 7

759 Words
  Lily entrou no apartamento de Noa, e o clique suave da porta ao fechar-se pouco fez para acalmar a tormenta em seu peito. Suas mãos tremiam descontroladamente enquanto ela tirava os sapatos, sua mente repetindo em loop a cena no hospital—o corpo de Marina contorcendo-se ao alérgeno, o grito desesperado de David, o pavor gelado de ser acusada, e pior, a fúria gélida em seus olhos enquanto a apontava como criminosa.   "Você voltou," disse Noa, emergindo da cozinha e enxugando as mãos no avental. Ela franziu a testa ao avistar Lily. "O que houve? Você está com cara de quem acabou de ver um fantasma."   "E vi," sussurrou Lily, deixando-se cair no sofá como se toda sua força tivesse sido sugada."   Noa sentou-se ao seu lado, oferecendo silêncio como conforto.   Lily despejou tudo para Noa: a corrida maluca pela cidade atrás de pratos específicos, a descoberta amarga de que David e Marina já haviam jantado, o teatro armado por Marina, e, por fim, a reação alérgica que levou tudo ao caos. Não omitiu nada—as palavras cortantes de David, a ameaça de ação judicial.   Noa recostou-se lentamente, um silêncio pesado pairando entre elas. Então, como se um interruptor fosse acionado, seu rosto contorceu-se de repulsa.   "Essa Marina é uma verdadeira sacerdotisa do drama!" ela explodiu. "Ela sabia exatamente o que estava fazendo, se fazendo de vítima como sempre. E o David..." Sua mandíbula cerrou-se. "Que cuzão sem vergonha. Depois de tudo que você fez por ele, ele te joga uma acusação dessas? Que se dane ele."   Lily não respondeu. Seus dedos enterraram-se na almofada, agarrando-a como se fosse sua única âncora em meio ao naufrágio.   "Preciso sumir," ela finalmente sussurrou, a voz um fio. "Não aguento mais. Preciso me afastar dele. Para sempre."   Noa anuiu sem pestanejar. "Então é isso que vamos fazer. Arranje outro emprego. Recomece."   E assim o fez. Na manhã seguinte, Lily puxou o laptop para o colo e começou a disparar currículos—para pequenas empresas, startups promissoras, até mesmo multinacionais em outros estados. Mergulhou de cabeça nas aplicações, escrevendo cartas de apresentação sob medida, polindo cada detalhe do currículo, reacendendo contatos na indústria.   Mas, conforme os dias passavam, um padrão perturbador começou a surgir.   Lamentamos, Sra. Collins. No momento, não consideramos candidatos vinculados à Hardison Corporation.   Sua candidatura não foi aprovada. Valorizamos sua experiência, mas...   Uma após outra—rejeições.   Após três dias intensos e mais de uma dúzia de tentativas, a verdade tornou-se cristalina.   "Estão com medo dele," disse Lily com uma voz estranhamente plana, fitando a tela do laptop. "Estão com medo do David. Ninguém quer tocar na secretária dele e arriscar sua ira."   Noa já perambulava pela sala, as mãos enredadas nos cabelos. "Inacreditável! Ele está trancando todas as suas portas, mesmo depois de te expulsar! Ele não te quer, mas não deixa ninguém te ter! Que jogo doentio é esse?"   "Não sei," respondeu Lily com uma calma que beirava o vazio. "Mas não posso viver nessa prisão. Preciso de ar."   Naquela noite, Noa bateu as mãos na mesa com força suficiente para fazer as xícaras saltarem.   "Chega. Nós vamos sair."   Lily piscou, surpresa. "O quê?"   "Você me ouviu. Vamos a um bar. Beber, dançar, esquecer que David Hardison existe. Você está se afogando há dias. Hora de voltar à superfície."   Uma risada cansada escapou-lhe. "Você só quer uma desculpa para farrear."   "Quero que você se lembre de quem é," disse Noa, o tom mais suave. "Você merece isso."   E, para sua própria surpresa, Lily concordou. Com David em silêncio absoluto nos últimos dias e Marina provavelmente se recuperando em alguma suíte luxuosa, ela não tinha por que permanecer enclausurada no luto. Tinha todo o direito de se reerguer.   Noa escolheu um bar moderno no coração da cidade—um daqueles lugares, segundo ela, com "música boa, más decisões e drinks ainda melhores".   Ao chegarem, o ambiente já pulsava. Luzes de néon cortavam a penumbra, a batida ecoava sob seus pés, e o ar carregava uma mistura de cítrico, perfume barato e álcool derramado.   Inicialmente, Lily permaneceu na segurança do balcão, saboreando um coquetel afrutado enquanto Noa já se misturava e conquistava a multidão. Mas, após o segundo drink e uma insistência carinhosa, deixou-se levar por Noa até a pista de dança.   A música vibrava em suas veias, lavando-a por inteiro. Por um tempo, ela esqueceu—esqueceu as acusações, as traições, a coleira invisível que David ainda teimava em segurar. Perdeu-se no ritmo, nas risadas, naquele universo cintilante onde só importava o agora.   Até que o viu.
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