Capítulo 4

1091 Words
  A mensagem chegou no meio da tarde: curta, geladamente formal, inconfundivelmente David.   "Jantar. 19h. Delphina's. Vista-se adequadamente."   Lily não esperava por aquele convite.   Ela fixou a mensagem por um longo momento, polegares pairando sobre a tela.   Delphina's?   O mesmo restaurante cinco estrelas que ele havia mencionado, uma vez, em levá-la após a conclusão do Projeto A.   Ele nunca levou. Os negócios atrapalharam. A volta de Marina tomou prioridade. Mas agora, meses depois, eis o convite.   Por quê agora?   Ela não respondeu. Simplesmente apareceu às 19h em ponto, vestida com um elegante vestido preto que comprara por impulso dois anos atrás, quando ainda nutria a esperança de que ele a levasse a algum lugar especial sem um motivo específico. A etiqueta só foi retirada nesta noite.   Os garçons a receberam com uma familiaridade reverente, guiando-a pelo salão silencioso até uma mesa junto às altas janelas. O lugar estava vazio. Todas as mesas, todas as velas, todo o espaço—era só deles.   Um jantar à luz de velas, com a casa toda reservada só para dois.   David já estava lá, impecavelmente vestido em um terno cinza escuro, gravata solta, olhar impenetrável.   Ele nem sequer a olhou quando ela chegou.   Ela também não disse nada, sentando-se à sua frente. Uma taça de vinho já a aguardava ao lado do seu prato.   Ele serviu-se de uma dose de uísque, fazendo o líquido âmbar rodopiar no copo como se fosse a coisa mais normal do mundo.   "Você reservou um restaurante inteiro," ela disse, a voz plana, "para uma mulher que você não ama."   Ele pausou, levando o copo aos lábios. "Você merecia este jantar. Conduziu o Projeto A com maestria. Melhor do que meus executivos."   "Então isso é... uma recompensa profissional?"   Ele finalmente encontrou seu olhar.   "Por quê? Está esperando mais alguma coisa?"   Lily sorriu amargamente para si mesma. Terá ela ainda o direito de esperar algo dele?   O garçom aproximou-se, rígido e silencioso, servindo prato após prato requintado como se fosse um jantar de aniversário comum. Mas não era. O ar entre eles estava pesado, carregado de tudo o que não era dito.   David falou brevemente sobre o trabalho — atualizações superficiais, comentários secos. Ela respondeu com acenos polidos, os olhos perscrutando a luz trêmula das velas como se elas escondessem todas as respostas.   Quando a sobremesa chegou — um ganache de chocolate intenso com molho de framboesa apimentado — o celular de Lily vibrou.   Era uma mensagem de Noa.   "As ações estão despencando. O escândalo da Marina está em todo lugar. Alguém vazou as fotos do evento."   "Ele está usando o jantar para atrasar o anúncio do divórcio. Protegendo a empresa. Não é você que ele quer proteger."   O estômago de Lily deu um giro. O chocolate transformou-se em cinzas em sua boca.   Claro.   Isto não era um reencontro. Era gerenciamento de crise.   Ela depositou a colher na mesa. "Você poderia ter simplesmente me pedido cooperação. Não precisava de toda esta encenação."   A expressão de David alterou-se, quase imperceptivelmente. "Pensei que você apreciaria o gesto."   "Talvez apreciasse, se fosse verdadeiro."   Ele recostou-se na cadeira, estudando-a. "Então. Você já sabe."   "Eu tenho olhos, Sr. Hardison. E ouvidos também."   Uma sombra de tensão escureceu seu olhar. "Você quer mesmo discutir isto aqui?"   Lily dobrou o guardanapo com precisão cirúrgica. "Pode adiar o anúncio público. Não vou à imprensa. Cooperarei, se for necessário. Mas o divórcio vai em frente."   Ele cerrou a mandíbula.   "Por que a pressa agora?" Sua voz era baixa, rigidamente contida. "Você esteve perfeitamente bem sendo minha esposa por cinco anos. Sabendo que eu amava outra, você dormiu comigo e se casou comigo. De livre e espontânea vontade."   "Fui uma tola," ela disse, com uma calma que era quase assustadora.   "Não," ele retrucou, cortante, "você estava desesperada. Não finja que foi um sacrifício nobre. Você queria algo. E conseguiu."   Os olhos dela reduziram-se a fendas. "O que exatamente você acha que eu queria?"   "Você me diga," respondeu gelado. "Poder? Status? Dinheiro? Você sabia que eu não oferecia amor. Ainda assim, assinou aquele contrato. Então, poupe-me do drama de vítima agora."   Ela levantou-se, lenta e deliberadamente.   "Fiquei porque tinha esperança," disse, cada palavra caindo como uma pedra. "Esperança de que um dia você me visse. Não como uma substituta. Não como uma secretária. Mas como uma pessoa. Uma mulher que lhe deu tudo o que tinha, mesmo quando você nunca pediu."   Ele riu, um som amargo e seco. "Poupe-me do discurso. Se é por dinheiro, meus advogados podem aumentar o acordo."   Os dedos de Lily fecharam-se em punhos. A raiva crescia como um mar revolto em seu peito.   "Você acha que tudo se resume a dinheiro," ela sussurrou, a voz carregada de desprezo. "É a única linguagem que você compreende, não é?"   David nem pestanejou. "É a única linguagem que faz o mundo girar."   Sem pensar, sem hesitar, Lily deu-lhe um tapa.   O som ecoou pelo salão vazio como um disparo. O garçom deixou cair um talher. Uma vela tremeu perigosamente.   David não se moveu.   Sua cabeça permaneceu voltada, uma marca vermelha surgindo em sua face. Sua expressão era um livro fechado.   Lily respirava ofegante, em arfos curtos. Seu pulso latejava fortemente.   "Acabou," ela sibilou, agarrando a bolsa. "Desta vez, é para valer."   Ela virou-se bruscamente. Seu cotovelo atingiu o alto vaso de porcelana ao seu lado. O vaso balançou, inclinou-se e então desabou, água, vidros e orquídeas espalhando-se pelo chão.   Antes que ela pudesse sequer recuar, David avançou.   Seu braço envolveu sua cintura, puxando-a para trás exatamente quando o vaso estilhaçava-se a centímetros de seus pés. Um fragmento agudo atingiu seu antebraço, rasgando o tecido e a pele.   "Droga," ele resmungou.   Lily fitou-o, atordoada. "Você está sangrando..."   "Já passei por pior." Ele olhou para baixo, verificando suas pernas e mãos. "Você está bem?"   Ela acenou, ainda sem fôlego.   Ele soltou-a um segundo depois, afastando-se como se nada tivesse acontecido.   O garçom apareceu com toalhas. David o dispensou com um único olhar.   Sangue manchava o punho imaculado de sua camisa branca, escorrendo em um fio escuro pelo pulso.   Lily pegou um guardanapo de linho e aproximou-se. "Deixa eu ver..."   "Já disse que estou bem."   "David..."   Ele agarrou seu pulso, firme, mas sem brutalidade. Seus olhos fixaram-se nos dela.   "Você não pode me dar um tapa e depois bancar a esposa solícita," ele disse.   "E você não pode me chamar de interesseira e depois se jogar na frente de cacos de vidro."   Eles permaneceram assim— imóveis, presos num laço de anos de silêncio e verdades soterradas. Então, aos poucos, o aperto de David afrouxou.
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