Capítulo 8

1097 Words
  A música no bar pulsava como um coração febril, pesada e incessante, mas Lily já não sentia sua batida. No instante em que capturou o olhar gélido de David do outro lado da pista, algo dentro dela se contraiu.   Seus passos vacilaram, a música parecia dissolver-se em seus ouvidos mesmo que ainda estrondasse no ambiente. Ali, a poucos metros de distância, perto da entrada, estava David. E colada a ele, de braços dados e com aquele sorriso triunfante de sempre, estava Marina.   Vê-los juntos foi como uma facada no peito.   Os olhos de David encontraram os dela num instante. Sua expressão não se alterou—impassível, glacial, impenetrável. Marina, por sua vez, ao avistar Lily, apertou-lhe o braço com possessividade, como uma fêmea marcando território.   Lily recuou um passo, esbarrando em alguém na pista.   Seu coração martelava contra as costelas. Mil perguntas giravam em sua mente. Ele a seguira? Fora coincidência? Marina o trouxera ali de propósito?   David não se aproximou.   Permaneceu onde estava, observando-a como um tigre avalia a presa.   Mas Lily manteve-se firme. Não, pensou. Por que eu deveria fugir? Esta é minha noite. Vim aqui para respirar, para viver.   Ela encarou David diretamente, ergueu o queixo num gesto de desafio, e, sem desviar o olhar, voltou-se para a multidão e mergulhou de volta na dança. Cada movimento tornou-se mais afiado, mais livre, mais desafiador. Ela não estava apenas dançando—estava proclamando sua independência. Você não me controla mais.   Com um gesto brusco de desdém, ele virou-se e dirigiu-se à seção VIP, com Marina agarrada a ele como hera em tronco apodrecido.   Noa voltou com os drinks, dois copos cintilando sob as luzes estroboscópicas, e percebeu imediatamente a mudança na expressão de Lily. "Ei, o que foi?" perguntou, seguindo a direção de seu olhar.   "Não estou mais a fim de dançar," murmurou Lily, pegando o copo com mãos trêmulas, mas sem levar à boca.   Noa perscrutou o olhar dela e fez uma careta. "Só pode ser brincadeira," resmungou. "O que ele veio fazer aqui? Aquela bruxa não sabe simplesmente sumir?"   Lily soltou uma risada amarga, que não alcançou seus olhos. "Acho que preciso ir ao banheiro."   "Quer que eu vá com—?"   "Não. Vou ficar bem," disse ela suavemente, abrindo caminho pela multidão.   O banheiro era um oásis de relativo silêncio—como adentrar outra dimensão. Lily jogou água gelada no rosto e encarou seu reflexo no espelho. Ela parecia exausta. Não pela falta de sono, mas por uma fadiga que pesava na alma. Já não era só sobre David. Era sobre tudo—estar encurralada, ser rejeitada em todas as tentativas de emprego, ser manipulada como um peão.   E David... ele deixara tudo claro. Jantaria publicamente com Marina, sabotaria suas chances às escondidas, e ainda agiria como dono de sua vida.   Patética, pensou. Você é patética.   Lily desviou os olhos do espelho, enxugou as mãos com uma toalha de papel, e saiu.   Ao dobrar a esquina do corredor, ajustando o vestido, não esperava encontrá-lo ali—apoiado na parede, braços cruzados, observando-a como um felino à espreita.   Ela viera para se libertar, para respirar, para lembrar-se de que havia vida além de David. E ainda assim ele surgia como uma sombra da qual não podia escapar.   "Não esperava vê-la aqui, Lily," disse ele, a voz baixa e carregada de ironia. "Ou isso é seu novo emprego? Seduzir homens em bares?"   Lily paralisou, piscando. O insulto cortou mais fundo que o esperado. "Como é?"   David inclinou a cabeça com um sorriso frio. "Você dançava como se sua vida dependesse disso. Me pergunto—estava à espera que algum ricaço lhe oferecesse um emprego... ou sua cama?"   Seu rosto ardeu, não de vergonha, mas de fúria pura. "Em primeiro lugar, não estava seduzindo ninguém. E em segundo, talvez se você não estivesse me boicotando, eu não precisaria estar aqui tentando esquecer que chefe miserável você é!"   O sorriso de David não se abalou. Pelo contrário, intensificou-se. "Por que eu deixaria alguém que eu mesmo treinei ir vazar segredos para concorrentes?" Ele aproximou-se, o ar entre eles ficando pesado, opressivo. "Você me acha tão ingênuo?"   "Ingênuo você não é," Lily sibilou. "É apenas cruel."   Ele inclinou-se ainda mais, seus rostos a centímetros de distância. "Não," disse, a voz rouca, "eu a moldei. Cada relatório, cada arquivo, cada pedido de café—perfeitos. E... até seu desempenho na cama... Acha que era apenas profissional? Acha que não notei como se aproximava? Como mordia o lábio quando nervosa? Ou como sua voz suavizava ao dizer meu nome?"   Ela prendeu a respiração.   Sua fúria explodiu. Num rompante de raiva, ela deu-lhe um tapa. O som ecoou no corredor como um disparo. O rosto de David moveu-se com o impacto, mas seus olhos brilharam perigosamente, a linha do maxilar tensionando-se.   Sua mão agarrou-lhe o pulso num movimento rápido, impedindo-a de recuar. Num gesto ágil, empurrou-a contra a parede, seu corpo pressionando o dela de forma perigosamente íntima.   "Tem coragem, não é?" ele rosnou, o hálito quente contra seu rosto. "É a segunda vez. Duas vezes você ousou levantar a mão para mim."   Lily debateu-se, mas no momento em que seu corpo a imobilizou, um calor diferente brotou entre eles. Seu peito ofegante pressionava-se contra o dele, e o cheiro dele—algo caro e amadeirado—invadiu seus sentidos.   Seu aperto não era apenas firme, era dominador, esmagador. Seus olhos cravaram-se nos dela, não mais apenas irados, mas intensos, abrasadores, devoradores.   O coração de Lily bateu num ritmo descompassado.   "Eu não sou sua," ela sussurrou, a voz trêmula.   "E continua me desafiando," ele murmurou, os lábios tão próximos que ela podia sentir seu calor.   "Você..." ela tentou, mas a voz falhou.   Sua mão afrouxou no pulso dela, deslizando até seu queixo. "Acha que vou permitir que meu investimento seja desperdiçado?" ele disse, sombrio.   Seu polegar acariciou-lhe a face, seu corpo ainda mantendo-a imóvel. As respirações misturavam-se, o ar carregado e tenso, como se o mundo implodisse se dessem mais um centímetro.   O corpo de Lily tremia—não de medo, mas da eletricidade que pulsava sob sua pele. Ela o odiava. Detestava tudo o que ele representava. Mas seu corpo a traía—respondendo ao toque dele, à proximidade, ao modo como ele falava como se ainda lhe pertencesse.   "Eu te odeio," ela sussurrou, a voz falhando.   "Odeia," disse David, quase num sussurro. "Mas isso nada muda, não é?"   Ele inclinou-se ainda mais, seus narizes agora roçando-se. Seus lábios entreabriram-se, presa entre a resistência e a rendição, a respiração ofegante enquanto seu coração batia num ritmo frenético e ancestral.
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