O bom velhinho

1825 Words
New York - Ilha de Manhattan , início de dezembro Júlia : — O Natal é a época mais mágica do ano , a neve cai branquinha do céu cidade inteira se ilumina , fica repleta de papais noéis e as pessoas até voltam a acreditar na magia do Natal ! — declarei — E é isso que queremos , que elas acreditem que no Natal tudo é possível . No Natal as pessoas ficam loucas atrás de presentes para realizar os sonhos de outras pessoas que eles amam , e é o que fazemos com isso ? — os funcionários me encararam em silêncio sem ousar me responder — Transformamos em dinheiro . Esse é o significado do Natal para a rede de lojas Moore . Estamos iniciando o Natal , eles tem sonhos e vocês tem metas a bater . Sejam gentis , receptivos , cativantes e não se esqueçam dos seus gorros . Entenderam ? — Sim , senhora ! — disseram em uníssono . — Podem ir ! — os dispensei . Mais uma vez o shopping foi decorado de cima a baixo para o Natal , as portas foram abertas e os os salões lotaram em poucos minutos . Pais trazendo seus filhos , namorados trazendo suas namoradas ou escolhendo o presente perfeito para elas , todos com um mesmo propósito , deixar perfeito e mágico o Natal de alguém . Bem ao centro do shopping estava uma árvore de Natal de cinco metros de altura , enfeitada com luzes brilhantes , bolas , pinhos e presentes . Abaixo da árvore estava a grande cadeira vermelha onde o Papai Noel estava sentado , com suas botas pretas bem engraxadas e sua roupa vermelha , para receber as crianças e ouvir seus desejos para o Natal . Olhei para todos aquele espaço enorme completamente lotado de pessoas comprando compulsivamente e cruzei os braços . Aquele era o único propósito do Natal para mim , lucros . Subi para a minha sala e me sentei em minha cadeira soltando um longo suspiro , seguido de um bocejo . Talvez eu devesse tirar um breve cochilo , já que não havia dormido nada no dia anterior . Me espreguicei na cadeira acolchoada e fechei os meus olhos . Passei por um breve cochilo , mas fui acordada em seguida por leves batidas na porta . — Sim ! — falei abrindo os olhos . — Senhora Moore , posso entrar ! — era a minha secretária , Anne . — Entre ! — falei . A porta se abriu a a jovem de cabelos curtos e escuros passou por ela . — Algum problema ? — questionei . — Bem , é que teve um roubo no setor de bonecas ! — ela contou . — Ele ou ela fugiu ? — questionei . — Ele , e não , ele não fugiu ! — ela contou — Os seguranças conseguiram pegá-lo . — Então , é só entregá-lo a polícia ! — falei . — Mas senhora , ele só roubou uma boneca ! — ela disse — E disse que era para sua filha . — Anne , eu tenho cara de obra de caridade ? — questionei — Se ele tem forças para roubar , por que não arranja um emprego ? — A filha dele é deficiente ! — ela contou — Devido a um acidente , ela não pode mais andar , o pai não pode trabalhar porque precisa cuidar da filha , e ... — E daí ? — a cortei esfregando as têmporas — Fui eu quem a atropelou ? — Não , mas ... — Entregue-o a polícia ! — ordenei . — Ele pediu desculpas ! — ela contou . — Se desculpas bastassem , então , para que a polícia ? — questionei . — Certo ! — ela concordou — Vou ligar para a polícia . Sem dizer mais nada , ela deixou a minha sala . — Fala sério ! — resmunguei — Eu mereço . Após um dia estressante de trabalho , me sentei em um banco no centro do shopping e fechei os olhos . Mesmo que trabalhar fosse a minha única alegria e propósito na vida , ainda assim era cansativo . — Teve um dia difícil ! — uma voz masculina já bem cansada ecôou do meu lado . Abri meus olhos e me deparei com um papai Noel a minha frente esboçando um enorme sorriso . Eu odiava ter que lidar com papais noéis , tudo o que era colorido e extremamente feliz me irritava , e era por isso que o encarregado de contratá-los era sempre o Luke , meu CFO . — Olha só , eu até acho velhinhos simpáticos ! — comentei desanimada — Mas eu não estou interessada , ok ? Ele sorriu e se sentou ao meu lado , estendendo uma garrafa de água mineral para mim . — É sério ! — a empurrei de volta para ele — Não estou mesmo interessada em vovôs , principalmente os vestidos de papai Noel . — Ah , você é uma daquelas que não gosta do Natal ? — ele questionou . — Claro que eu gosto ! — afirmei — Natal é lucrativo , por que eu nào gostaria ? — Pode até ser , mas e quanto a magia do Natal ? — ele perguntou — Você não acredita nela ? — Talvez já tenha acreditado um dia ! — respondi — Há uns , sei lá , vinte anos atrás ? — Não acredita mesmo em magia ? — ele questionou — Mesmo se eu dissesse que se você pedir com coração , sonhos podem se realizar ? — Mesmo se isso fosse possível , o que não é . — falei — Não há nada que eu queira , eu já tenho tudo . — Tudo mesmo ? — ele arqueou as sobrancelhas brancas e sorriu — Tenho certeza que você tem um pedido bem guardado para o Natal , só esperando para ser realizado . Em uma caixa de madeira , talvez ? — Olha só , papai Noel , eu já tenho tudo o que eu quero , dinheiro , uma boa casa , conforto e uma cama enorme . — contei — O que mais eu poderia querer ? — Você tem todos os luxos que o dinheiro pode proporcionar , mas tem o mais importante ? — ele questionou — Você é feliz ? — Como ? — perguntei confusa . Ele se levantou e colocou a garrafa de água em minha mão sorrindo começou a caminhar em direção a saída do shopping , então parou e olhou para mim . — Tenha uma boa noite ! — ele disse — E não deixe de aproveitar os presentes que a vida pode lhe oferecer , amanhã pode ser tarde demais . Sorrindo , ele voltou a andar até que deixasse aquele espaço . — Quem contratou esse papai Noel maluco ? — resmunguei me levantando . Caminhei até o lixeiro para jogar aquela água fora , mas , ao erguer a garrafa , não tive coragem para atirá-la no lixo , então , me limitei a deixar o shopping . Peguei o carro na garagem e retornei para a minha casa em Hudson Yards . Tão logo entrei em casa , me joguei sobre o sofá . Ouvi os passos tão conhecidos da senhora Smith se aproximando da sala . — Senhorita Moore , posso ter sua atenção alguns instantes ! — ela perguntou . — O que aconteceu , Davina ? — perguntei desanimada . — Eu fui limpar o porão hoje e encontrei essa caixa de madeira ! — ela disse parando a minha frente — Era a caixa que o senhor Moore fez a mão para a senhorita , não é ? Olhei para a caixa e me lembrei de como eu fiquei feliz ao recebê-la de presente do meu pai . De como fiquei eufórica ao ver os pequenos papais noéis e arvorezinhas de natal entalhadas na madeira . — O que eu devo fazer com ela ? — ela questionou . — Só livre-se dela ! — pedi . Davina olhou para mim por alguns segundos , incrédula sobre o que eu havia falado . Eu levei aquela caixa para o porão justamente para não me lembrar do meu pai toda vez que olhasse para ela . Mas , por que ela me olhou como se eu tivesse cometido um crime pior do que um homicídio ? — Tudo bem , senhorita ! — ela concordou se virando para sair . Talvez eu não devesse me livrar de um presente tão bonito assim e feito com amor pelo meu pai , especialmente para mim . — Davina ! — a chamei de volta . Ela estacou no lugar e me olhou confusa . Me levantei do sofá e caminhei até ela . — Deixa que eu fico com ela ! — peguei a caixa de sua mão — Pode ir descansar agora . Ainda me olhando confusa , Davina se virou e saiu . Levei a caixa para oeu quarto e a abriu . Dentro haviam brinquedos pequenos , desenhos e uma carta . Segurei o envelope nas mãos e o abri . " Querido Papai Noel , para esse ano não quero pedir nada . Mas no futuro peço que me mande um príncipe bom e gentil , que seja bem bonito e educado , para me proteger quando o papai não estiver mais aqui . Ele tem que ser bom como o papai , bonito como o papai , legal como o papai e que me ame tanto quanto o papai . " Fechei a carta e a devolvi a caixinha de madeira . Aquilo tudo era bobagem , não existia essa tal magia de Natal . Na manhã seguinte , me levantei cedo e tomei banho , me troquei , tomei o café da manhã e peguei o carro na garagem . Girei a chave na ignição e deixei a minha casa , rumo ao shopping . Estava há pouquíssimos metros de distância do Shopping , quando uma pessoa atravessou na frente do carro do nada , freei o carro o mais rápido possível , mas ainda assim acabei atropelando a pessoa . Deixei o carro o mais rápido possível e corri em direção a pessoa . — Você está bem ? — perguntei preocupada . Era um homem , de cerca de trinta anos , vestindo um suéter vermelho . Ele ergueu a cabeça , olhou para mim e sorriu . — É você ! — foram as duas últimas palavras dele antes de desmaiar em meus braços . — Aí meu Deus do céu ! — falei desesperada — Eu matei um homem .
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