Sophie POV
Eu estava me afogando.
Mas não era uma coisa r**m, por mais que eu tivesse a certeza de que se eu permanecesse alguns segundos a mais naquele mar bravio eu iria morrer.
Contudo, não é como se eu não pudesse nadar.
– Eros...
Chamei por ele entre o beijo, eu estava com as costas pressionadas contra o chão de carpete, meu queixo sendo segurado com força por sua mão direita enquanto a esquerda estava ao redor de minha cintura. Seu braço forte quase estourando meu diafragma com seu aperto constante.
Parecia até que ele estava me impedindo de fugir.
Seus lábios eram quentes, mais macios do que eu esperava e sua língua se esfregava na minha com opulência, se impondo e tomando posse da minha boca.
– Se acalma ou... você vai...
Minhas mãos, que antes puxavam ele para perto, agora davam tapinhas leves em seus ombros e costas como uma maneira de rendição.
Eu precisava respirar.
– ...me engolir!
Finalmente consegui desapartar o beijo que certamente nos consumiria se permanecessemos daquela forma e ambos estavamos ofegantes.
Eros estava corado como um tomate, resfolegando ainda sobre meu rosto a mão que segurava meu queixo com força escorregando por meu pescoço e descansando na base do mesmo.
Depois de alguns segundos recobrando o fôlego que nos faltava, ele finalmente esboçou suas primeiras palavras.
– Me- Me desculpa eu não sei o que aconteceu comigo, eu...
Gaguejou rouco e perdido descansando sua testa na minha.
– Perdi totalmente o controle quando te beijei.
Completou agora me encarando tão próximo que eu estava quase caindo na tentação de beijá-lo novamente.
– Tem como você parar de me encarar desse jeito?
Pedi fechando os meus olhos para não ter que vê-lo e assim não cair na armadilha que eram seus toques mais uma vez.
– De que jeito?
Sua voz era calma mesmo ofegante, áspera mesmo gentil.
Abri meus olhos mais uma vez vendo que ainda sim seus profundos olhos verdes me encaravam com fome.
– De quem ainda pretende me engolir.
Confessei vendo ele sorrir levemente, agora parecendo bem mais verdadeiro do que qualquer outro sorriso que ele já me deu.
– Bom, não deixa de ser verdade...
Deu de ombros aproximando nossos lábios novamente me fazendo arfar. Eu queria tanto senti-lo mais uma vez... mas eu precisava colocar uma distância saudável entre nós. Não só fisicamente.
– Eros, você sabe que não podemos.
Minhas mãos desceram para o peito dele o afastando e ele me olhou confuso, talvez não entendendo o que exatamente nos impedia.
Mas, além do profissionalismo que já tinha sido esquecido naquela situação, havia algo dentro de mim que não me deixava ser tocada por homens como ele. Atlético, bonito, gentil... esse tipo de coisa já me aconteceu e não é - nem de longe - a minha melhor lembrança.
– Por quê? Por que não? Já estamos namorando para o público mesmo!
Ele riu tocando minha bochecha novamente e eu desviei do seu toque.
– Porque isso seria extremamente antiético.
Expliquei como se o problema fosse apenas aquele.
Vi seus olhos perderem o brilho e seus ombros murcharem.
– Ah, claro... a investigação.
Ele se afastou e se sentou suspirando pesado como quem já estava farto daquela investigação.
Bom, ele não era o único.
– Sabe, pra quem nem mesmo queria ser delegada você até que leva essa porcaria a sério demais!
Apontou ele um pouco irritado e eu suspendi minhas sobrancelhas ao perceber sua mudança de humor.
Me coloquei sobre meus cotovelos e o encarei um pouco arrependida por ter trazido aquele assunto à tona novamente.
Mas isso era bom de alguma forma, já que agora eu poderia ser completamente sincera com ele.
– Não é isso, é que eu decidi que quero te ajudar.
Comentei baixo como se de alguma forma eu ainda estivesse um pouco hesitante concernente a aquele assunto.
Mas ao contrário do que eu pensei que seria sua reação Eros franziu o cenho.
– Me ajudar? Sophie, como você poderia me ajudar?! Se meu histórico com drogas cair na mão de qualquer juiz eu vou preso!
Apontou para a própria mão como se pudesse visualizar os papéis de seu processo e eu me sentei novamente ainda vendo ele gesticular inquieto.
– Ninguém vai querer saber se eu sou ou não a p***a de um traficante!
Disse angustiado e eu suspirei sabendo que ele tinha razão, mas que mesmo assim ainda tínhamos chance de vencer.
– É por isso que eu preciso que você seja cem porcento sincero comigo. Tem mais alguma coisa que você está me escondendo?
Busquei o olhar dele que estava perdido em suas mãos e ele mesmo voltou suas orbes esverdeadas rapidamente para o meu rosto.
– O que mais eu poderia estar te escondendo, Sophie?
Perguntou quase em um sopro, como se toda sua força tivesse se desfeito.
Agora encarando seus olhos e estando tão perto dele eu sentia que devia a ele respostas. Eu sabia que ter feito um exame dele sem a própria autorização dele tinha sido errado.
– Eu mandei fazerem uma análise do seu cabelo, ela já chegou para mim mas eu ainda não abri.
Confessei evitando seu olhar para não perder a coragem de dizer o resto.
– A droga sai da corrente sanguínea em vinte e quatro horas, mas permanece no cabelo por seis meses.
Expliquei e ele parecia me ouvir atentamente.
– Então me diga, existe algum motivo pelo qual eu deveria temer em abrir o resultado da análise?
Assim que terminei meu questionamento eu voltei meus olhos para o rosto dele que estava contorcido em uma mistura de descrédito com surpresa. Como se eu tivesse acabado de falar um absurdo.
– Para quem disse que acreditava em mim você me parece bem desconfiada.
Ele deu uma risadinha soprada suspendendo as sobrancelhas e cruzando os braços.
– E você me parece bem evitativo para alguém que está limpo.
Semicerrei meus olhos em sua direção.
Por que ele estava dando tantas voltas naquele assunto se ele realmente não tinha culpa no cartório?
– Eu já disse e direi de novo. Eu estou limpo. Fazem mais de três anos.
Descruzou os braços para gesticular enquanto falou bem pausadamente como se estivesse explicando algo à uma criança de dois anos.
Mas, exceto pela vergonha do beijo já um pouco esquecido, eu estava surpresa com aquela informação.
Quer dizer que ele tinha ficado três anos dependente daquela droga?
– Três anos? Isso significa que...
Com as coisas fazendo mais sentido na minha cabeça eu queria perguntar a ele se ele já estava lutando quando parou - certamente estava - e se já era famoso. Ou quem sabe perguntá-lo como ele conseguiu desviar de um vício tão potente como aquele.
Mas ele me interrompeu revirando os olhos.
– Sim, essa merda desse vício me acompanhou por muito mais tempo do que eu gostaria, mas hoje eu estou livre. Completamente.
Frisou mais uma vez como se todas as reafirmações não fossem suficientes, então eu abracei meu corpo um pouco indecisa.
Droga, aquele beijo havia sido estupidez demais da minha parte...
Como agora eu poderia confiar na minha intuição e na minha lógica se ambas estavam comprometidas por causa daquele envolvimento extraoficial?
Que merda...
– Estou tentando acreditar em você, Eros.
Confessei. Era tudo o que eu estava mesmo tentando fazer, mas tudo em minha mente parecia colapsar ao pensar sobre isso.
Ele deu de ombros ainda me encarando sério.
– Abra o resultado, veja você mesma. Se eu não estivesse limpo, em algum momento o antidoping iria me pegar.
Alegou ele e eu tive que permanecer calara diante daquilo. Ele tinha um bom ponto. Nenhum viciado de verdade conseguiria ficar tanto tempo sem usar droga para conseguir competir sem ter crise de abstinência ou ser pego pelo antidoping.
– Sabe, eu estou cansado de passar por isso. Quero esse maldito que me sequestrou morto!
Ele levou as duas mãos ao próprio rosto e o esfregou com raiva.
– Ayaan Gupta?
Perguntei curiosa. Até hoje eu não sabia quem realmente tinha sequestrado ele e os irmãos, só havia essa suposição de que havia sido o Turco por ele ser um antigo inimigo da família Zervas.
– Ele também, mas tem alguém maior envolvido nisso e ele está tentando me parar mais uma vez.
Eros ralhou entre dentes, ele parecia realmente sentir raiva ao falar disso.
– Mas por qual motivo essa pessoa faria isso?
Perguntei sabendo que mesmo que eu quisesse acreditar nessa história, nós precisaríamos de provas se quiséssemos vencer no tribunal.
– No acidente de carro eu pude ver claramente os rostos deles, saberia reconhecê-los assim que batesse meus olhos nos malditos.
Explicou ele gesticulando na frente do próprio rosto como se quisesse deixar claro que ele poderia reconhecê-los mesmo em uma multidão.
Não era uma grande pista mas já era alguma coisa.
– Bom, então isso já elimina políticos e famosos, certo?
Suspirei desesperançosa.
Encontrar criminosos anônimos era torturante.
Semanas pesquisando por digitais ou traços de DNA em um banco de dados, imagens de câmeras de segurança com uma qualidade duvidosíssima e pouco tempo para trabalhar.
Quanto mais se demora em um caso como esse, mais difícil fica para pegar o culpado.
– Se você me dá licença eu preciso de um banho frio.
Resmungou ele querendo encerrar o assunto e se levantando rapidamente.
Tentei não raciocinar nada sobre aquele detalhe do banho frio em específico para não suscitar mais nada entre nós.
– Okay, eu vou me deitar. Até amanhã.
Disse partindo como um raio para dentro do meu quarto naquela suíte nem mesmo dando chance de ele me responder.
Me escorei na porta e respirei fundo.
Amanhã é outro dia.
[...]
– Sucesso! Olhem só isso! Não tinha como ser melhor...
Simon parecia vibrante ao ver nossa foto vestidos em roupas esportivas na capa de uma revista super conceituada.
O título dizia:
– "O casal mais amado da Europa" achei um pouco sensacionalista demais.
Reclamei vendo que eles escolheram a foto onde nós tínhamos apenas uma bolinha de tênis separando nossas bochechas.
Era uma foto bem fofa, mas os tabloides online estavam se deleitando nas fotos mais sensuais.
– Eu achei perfeito. Quem é visto é lembrado.
Eros disse de boca cheia comendo aquela mistura nojenta de aveia com chia, iogurte e whey.
Estávamos à caminho da Escócia. Sim, estavamos no avião mais uma vez indo para a minha terra natal porque Eros cismou que sim.
Nossa discussão de ontem ficou esquecida em algum lugar enquanto a memória daquele beijo turbulento parecia estar grudada no couro do meu cérebro.
Eros não parecia muito diferente disso, a diferença entre mim e ele era que ele verbalizava isso.
– Hein... você não sabe o trabalho que me deu ontem.
Disse ele se sentando no assento ao meu lado mesmo eu tendo claramente colocado minha mochila alí para impedir que isso acontecesse.
– Devo perguntar ao que você está se referindo ou eu vou me arrepender se eu fizer isso?
Questionei tirando meus olhos da matéria da revista que era sobre nós dois e vi que ele mastigava aquela coisa nojenta com um sorrisinho pretensioso. Ele não precisava me responder, eu já sabia a resposta.
– Eros sai daqui.
Disse fraca. Não tinha como ter muita força de vontade para afastar um homem como aquele me olhando com tanta ternura. Ele parecia um cachorrinho.
– Fazia tanto tempo que eu não usava minha mão para isso, me senti um adolescente de novo!
Casualmente ele falou aquilo e eu tapei sua boca ainda suja do iogurte ao ver que Simon já nos encarava de esguelha, como se o assunto estivesse o deixando intrigado.
– Eros, cala a boca!
Murmurei de dentes cerrados e vi ele sorrir mais ainda. Bem, seus olhos estavam sorrindo, já que minhas mãos cobriam sua boca.
– Hmm! Hmmph!
Ele tentou dizer algo e eu olhei bem séria para ele.
– Eu não quero saber o que você fez, se você falar uma única palavra a mais sobre isso eu vou te jogar para fora desse avião!
Ameacei ele e ele assentiu ainda rindo, então soltei sua boca e limpei minhas mãos em sua camisa com raiva.
– Mas que ignorância... o que tá dizendo aí na matéria?
Ainda risonho ele mudou de assunto, então eu lí para ele o que nós já sabíamos de cor. Toda a nossa historinha pré-fabricada com uma foto nossa vestidos de motoqueiros ao fundo.
O amor jovem!
O que fazer quando o amor chega de formas inesperadas? Sophie Welsh e Eros Zervas contam tudo em entrevista à Elle.
[...]
Ao chegar no aeroporto demos de cara com muitos fãs, muitos paparazzi, muitos repórteres. Todos doidos para saber o motivo da luta ter mudado de lugar tão de repente e como Eros conseguiu isso.
Ele alegou para mim que conhecia alguém que conhecia alguém que conhecia o responsável por esse tipo de coisa, então "não foi tão difícil assim". Sim, essas foram as palavras dele.
A esse ponto eu sinceramente nem queria saber de nada, apenas de pisar em solo escocês eu senti a súbita vontade de ver minha família.
E para a minha surpresa, Eros virou para mim assim que entramos no carro e disse:
– Seu avô disse que já está nos esperando!
E claro, ele disse isso com o sorriso mais cara de p*u que ele já deu na vida.
Ele estava se convidando para a minha casa?!
– Espera, o quê?! Eros, seu lugar é em um hotel cheio de seguranças e comida feita por chefs e não em uma fazenda no meio do nada!
Tentei convencê-lo mas já estava reconhecendo o caminho que estávamos trilhando.
– Deixa de ser boba, eu sou filho de militar, não fui criado com essas frescuras não.
Abanou a mão parecendo bem certo do que estava falando e eu enfiei meu rosto em minhas mãos não acreditando no que estava acontecendo. Só podia ser um pesadelo.
– Lá não tem chuveiro com água quente.
Tentei convencer ele com as pequenas coisas.
– Eu não tomo banho quente.
Droga, dessa eu não sabia.
– Lá tem muito mosquito, você não quer ficar com a pele marcada, quer?
Me lembrei de que os mosquitos do interior eram realmente algo de deixar qualquer um louco. Mas Eros pareceu pouco interessado olhando a paisagem pela janela.
– Eu tô acostumado com isso, em vila militar tem muito também por causa das árvores, eu já sou quase imune!
Contou rindo como se fosse algo maravilhoso e quanto eu buscava desesperadamente por um motivo de fazê-lo desistir de ir até a minha casa.
– E o g**o? Você não vai se irritar quando ele começar a cantar antes mesmo de nascer o sol?
Mesmo enquanto eu perguntava eu já sabia qual era sua resposta. Mas não custava tentar.
– Qual é, Sophie... o baba acordava a gente com o toque da alvorada todo santo dia!
Riu parecendo se divertir com o meu esforço para fazer ele desistir.
– Relaxa, eu estou pronto pra tudo! Eu sou Eros Zervas, lembra?!
Suspirei e me dei por vencida. Ele queria ir para a fazenda? Então pronto, ele iria.
Agora bastava eu conseguir fazer com que os próximos dias que antecederiam a luta fossem ao menos suportáveis.
Depois de meia hora de estrada eu já conseguia ver alguns cavalos, depois algumas fazendas, plantações e depois de mais dez minutos de carro indo bem para dentro da zona rural, finalmente chegamos na fazenda do meu avô que, do lado esquerdo tinha um extenso milharal e do lado direito um celeiro.
Isso ainda não era nada, na parte de trás da casa ficavam os animais. Em sua maior parte vacas e porcos.
A casa principal mantinha sua cor original desde que foi construída, apenas retocada de ano em ano. Um casarão de madeira em um verdinho bem claro, contrastando com os batentes das portas e janelas que eram de madeira envernizada escura.
– Wow... parece que alguém morava bem, hein...
Eros disse surpreso ao descer do carro e antes mesmo que pudéssemos perceber, meu avô já me abraçava.
– Sophie minha querida estrelinha! Está tão magrinha... tem se alimentado bem?
Ele dizia aquele mesmo discurso de sempre e o inconveniente do meu irmão já vinha com um sorriso zombeteiro no rosto.
– Ela está na mesma circunferência da última vez, vô.
Zombou e já estendeu a mão para Eros que não parecia mais tão sorridente quanto antes.
– Perdão? Eu não entendi muito bem o que você disse...
Eros, que parecia uma muralha de músculos perto do meu irmão que tinha apenas o necessário para o trabalho na roça, cerrou os olhos em direção ao ruivo e eu me afastei um pouco do meu avô sentindo que aquilo não daria certo.
– Ah, deve ser o sotaque! Da próxima vez tenta falar um pouco mais explicado, Sam!
Deixei dois tapinhas no ombro do meu irmão e mais dois no de Eros, ambos se encarando.
– É tão bom conhecer você, rapaz! Vamos, eu preparei cerveja de milho especialmente para a sua chegada!
Meu avô, que parecia alheio a situação, puxou Eros pela mão e eu soltei o ar que prendia em meus pulmões.
Se Eros não matar meu irmão durante esses dias ou vice e versa eu juro que paro de beber...