Capítulo 7 - Guerra

2461 Words
Sophie POV Tudo bem, eu sei que na vida nós somos obrigados a passar por altos e baixos, mas ninguém nunca me disse que os baixos eram tão baixos assim. Enquanto eu tentava convencer a minha gata de que fazer xixi e cocô em uma folha de jornal, eu continuava ouvindo a continua farra de Eros com aquelas garotas lá fora. Interprete aqui a palavra "farra" como você quiser. Eu nunca pedi por um emprego tão péssimo, mas quando se quer fazer o bem estando na polícia sempre te sobram alguns trabalhos assim enquanto os divertidos ficam para os com patente maior. Se eu tivesse ouvido o meu avô e tivesse ficado na Escócia plantando e colhendo sevada para o resto da vida eu certamente não estaria em uma situação como essa agora. – Vamos, Nora... coopera, vai? Pedi encarecidamente a gata que me olhava como se eu fosse uma lunática, e a esse ponto até eu mesma estava começando a acreditar nisso. Eu parecia ter acertado ao escolher um quarto qualquer e acabar coincidentemente em um quarto de hóspedes ao invés do quarto do Zervas ou alguma sala de jogos esquisita no estilo Christian Grey. Coisas que normalmente pessoas tão ricas e excêntricas como Eros tinham. Tudo naquela cobertura tinha praticamente a mesma arrumação, design moderno, cheiro de produto de limpeza, como uma casa brilhante de mostruário. O completo oposto de quem morava na mesma. Isso me deixava encucada, já que alguém tão organizado em seus ambientes nunca seria desorganizado consigo mesmo. Sem contar que esse lugar não me dava uma única pista de que Eros era realmente um traficante. Pelo menos até agora. E se tudo o que a irmã dele me disse for verdade, então era necessário investigar muito mais do que ele. Talvez ele estivesse certo, estavam armando para ele. Mas supondo que isso fosse de fato a verdade, por qual motivo? Disputa de poder? Um cinturão de MMA? Não, ninguém compraria e implantaria tanta pasta base de cocaína - o que era muito dinheiro jogado fora - apenas para culpar alguém e ficar com um cinturão. Essa era a maior questão para mim, já que isso me fazia duvidar dele mais uma vez. Quem me garante que o sequestro não foi o que engatilhou na cabeça dele para começar a cometer crimes? Pelo resto da noite eu fiquei investigando sobre a vida inteira de Eros em todos os bancos de dados que eu tinha acesso. Avós militares, pais militares, tios militares, entrou para as artes marciais aos seis anos, se profissionalizou aos dezessete, conquistou seu primeiro mundial aos dezoito e permanece como o melhor da categoria desde então. Com o dinheiro do primeiro prêmio ele presenteou os pais com uma casa de veraneio, nas vitórias seguintes ele comprou um carro para cada m****o da família e um condomínio de luxo ainda na planta, condomínio esse em que ele vive atualmente. É filantropo, doa uma boa parte de seus lucros à caridade, principalmente as que envolvem recuperação de soldados após a guerra. Concernente a saúde ele... espera, o quê? Atualizei o site algumas vezes para ver se tinha algo errado, mas aparentemente não. Todo o histórico hospitalar de Eros estava zerado. Nem mesmo um ínfimo corte no supercílio. O que era um absurdo, considerando que ele era um cara que ganhava a vida apanhando e batendo. – Acho que finalmente te peguei, Zervas. Disse confiante. [...] Logo pela manhã eu escuto o som mais infernal que uma pessoa pode escutar. Era uma voz masculina conhecida cantando e meu cérebro nem se dava ao trabalho de traduzir nada, fazendo com que eu escutasse praticamente tudo como se estivesse em um idioma alienígena. O quão cedo estava para que eu estivesse tão morta de sono ainda? Acendi meu celular e quase me joguei da janela ao ver que eram cinco da manhã. Será que eu nunca teria paz?! Depois de muito tempo ouvindo aquela voz cantar, percebi que se tratava de uma cantiga militar e que também era o despertador de Eros. Esse cara é um doente mental... Sim, eu também sou, mas ele é mais. Abri a porta do quarto onde eu estava dormindo e vi que na verdade não era um despertador e sim o próprio pai de Eros cantando a plenos pulmões enquanto abria as cortinas de toda a casa. Eros, que parecia uma almofada de álcool caída no chão, ergueu o rosto olhando em volta confuso, mas mesmo com a cabeça provavelmente explodindo em uma ressaca miserável, ele sorriu ao perceber que eu ainda estava em seu apartamento. – Delegada! Se junte a nós para... tomar café da manhã... Começou a dizer animado, mas ao perceber a cadência de sua voz mudando, era perceptível que sua cabeça estava mesmo doendo. Ao dizer aquilo ele também chamou a atenção de Dimitri que olhou para trás finalmente notando minha existência no lugar. – Delegada Welsh? Notei que ele queria fazer muitas perguntas, mas se limitou apenas a aquela indagação, então eu passei a mão em meus cabelos rapidamente tentando organizá-los e respirei fundo. – Bom dia, major Zervas. Prestei uma continência preguiçosa a ele que sorriu fazendo a cicatriz bonita em seus lábios repuxar e duas covinhas muito características apareceram em suas bochechas. Era inacreditável o quanto Eros se parecia com ele. – Por favor, só Dimitri. Ou Niko, se preferir. Seu sorriso era galanteador mesmo para um cara da idade dele e eu afirmei tentando fazer o meu máximo para ser educada mesmo tendo sido acordada a força uma hora daquelas. – Pensei que Niko fosse o Eros. Comentei sentindo Nora escapar do quarto por minhas pernas e correr até o lutador que ainda estava esparramado no chão. Traíra... Pensei vendo ela se esfregar alegremente em Eros que ria pelas cócegas. – Ele é Nikolai II, eu sou o primeiro. Elucidou enquanto passava por trás dos balcões da cozinha começando a preparar algo. – Você ainda não me disse o que está fazendo aqui, baba. Eros disse parecendo finalmente ter conseguido colocar sua cabeça de volta no pescoço e se sentou no sofá com muito custo. – Simon me chamou, disse que você daria uma festa e estaria sozinho agora pela manhã. Queria conversar com você. Ao notar o cunho emocional que aquela conversa estava levando, tentei ser o mais discreta possível em voltar para o quarto mas fui interrompida. – Nem pense em se negar a comer em casa de grego, princesa. Principalmente a comida do baba. Apontou Eros com um sorrisinho sacana sabendo que sua fala atrairia a atenção do mais velho para mim e me deixaria constrangida demais para recusar. – Detesto isso, mas tenho que concordar com ele dessa vez. Apontou Dimitri para uma das poltronas daquela sala espaçosa e luxuosa que dividia o ambiente com a cozinha em conceito aberto. – Mas vocês parecem ter algo importante para discutir, não quero interromper. Argumentei antes de me sentar, então os olhos verdes de Eros analisaram com calma os movimentos que eu fazia me fazendo finalmente consciente de que estava de camisola de dormir. E não, não era uma daquelas sexys de renda e seda, era uma da hello kitty que ia até os joelhos. A realização do quão ridícula e antiprofissional eu deveria estar parecendo me atingiu como uma bigorna e meu rosto esquentou em vergonha. – Nós podemos discutir o que quer que seja em outro idioma, certo baba? Sem tirar os olhos de mim, ele disse e o cheiro de comida boa logo começou a infestar o apartamento. – Não, a delegada está aqui para investigar sua vida, então não iremos manter segredos com ela. Argumentou o mais velho. – Tecnicamente ela só pode investigar a minha vida nos horários comerciais e essa nem é a razão de ela estar aqui. O lutador deu de ombros com aquele sorrisinho de quem sabia que tinha um bom argumento mas eu suspendi uma de minhas sobrancelhas. – Horários comerciais? E sua luta ontem? Aquilo foi em horário comercial?! Perguntei indignada vendo seus olhos se espremerem um pouco por causa da dor de cabeça. – Você foi porque quis. Sua resposta fez o meu sangue ferver tão rápido que eu nem sabia que isso era possível. – O quê?! Você literalmente- Minha fúria foi interrompida por dois pratos de ovos mexidos com torradas sendo colocados na mesinha de centro junto com um café cheiroso e fumegante. – Chega, crianças. Eros, não fale com a menina desse jeito. Alertou o Zervas mais velho que parecia não querer se juntar a refeição, então Eros se resignou a mastigar o café da manhã calado. – Sim, baba. Respondeu de boca cheia e sobrancelhas franzidas. – Deixa eu entender, você não está aqui para investigar? Os olhos castanhos de Dimitri focaram totalmente em mim e eu quis sumir de tão constrangida que eu estava. – Um cano d'água estourou em meu apartamento, e por causa do seu filho me prendendo com ele o dia inteiro o piso estufou e eu estou sem onde ficar. Expliquei rapidamente e ele pareceu prestar atenção e depois olhou para Eros de uma maneira que eu não sabia explicar do que se tratava. – E então você decidiu que seria uma boa ideia vir para cá?! Foi a vez de Eros dizer, reacendendo a raiva que uma vez estava arrefecida em mim. Talvez a decisão de me deixar ficar ontem tenha sido precipitada por causa da bebida, mas eu realmente estava me sentindo agradecida por aquilo. Mas pelo visto ele não era tão gentil quanto eu pensava que ele era. – O que foi? Por que está me olhando desse jeito? Só estou querendo saber por que veio até alguém que você desgosta tanto ao invés de ir até sua família ou algo assim! Se explicou rapidamente ao receber o meu olhar de raiva e o de reprovação vindo do pai. – Tem como você usar esse seu cérebro pelo menos uma vez na vida?! Se ela pudesse ela teria ido, né? Ela claramente tem um motivo para isso. Dimitri chutou o filho de lado e o lutador reclamou pelo pai estar me defendendo e não a ele. – De toda forma, eu vim aqui falar com você sobre aquela pessoa. Ao ouvir o mais velho dizendo isso, a postura de Eros mudou, agora ele estava tenso, em alerta. Tentei me manter o mais alheia o possível naquela conversa apenas comendo o que Dimitri havia preparado, mas não conseguia. – O que houve? Disse Eros parecendo quase totalmente sóbrio agora, como se seus pensamentos tivessem feito o álcool evaporar completamente de seu corpo. – Você sabe, ele violou a condicional e agora está a solta por aí. Volte para casa onde podemos proteger você. Pediu Dimitri com cautela e em um tom de voz baixo como se estivesse lidando com um animal silvestre. E quase provando esse ponto, os olhos de Eros pareceram se iluminar de raiva ao ouvir aquilo. – Não, vocês não podem. Ditou baixo afastando o prato vazio. – Eros... O pai tentou mais uma vez dizer algo mas foi interrompido. – Baba, eu te amo e te respeito muito como o grande homem que o senhor é, mas o senhor não pode me proteger. Nunca pôde. Disse o lutador de olhos fechados, como se fosse fisicamente impossibilitado de dizer aquilo olhando nos olhos do próprio pai. Me senti pequena no meio daqueles dois, nunca imaginei que a família do grande major Zervas, o herói que um dia eu tive como ídolo, era tão problemática. Mas quem eu queria enganar? Todas as famílias são problemáticas. – Veja Daphne e Linux, eles estão bem, estão felizes! Por que você faz isso? Por que insiste em viver longe? Sabe o que isso causa a nós? Em seu irmão? Gesticulou o grisalho da mesma maneira que Eros costumava fazer quando estava encurralado em alguma situação, então o mais novo se colocou de pé. – Não ouse usar a condição de Linux contra mim! Ralhou o lutador entre os dentes cerrados. – Você sabe bem o motivo de ele estar assim e não sou eu! Apontou com mágoa transbordando em seus olhos e eu daria tudo para saber do que exatamente eles estavam falando agora. – Tudo bem, faça como quiser. Mas tome cuidado, okay? Foi um prazer revê-la, delegada. Dimitri se limitou a deixar um beijo na testa do filho que não o olhava nos olhos e depois apertou minha mão saindo do apartamento tão sorrateiramente quanto entrou. Eu não sabia como, nem porque, nem o quê tinha desestabilizado tanto Eros, mas sabia que era algo forte. Afinal, não era ele o invicto? – Quer nadar? Sua voz cortou meus pensamentos e ele desamarrou seu roupão me fazendo lembrar que ele continuava apenas de sunga desde ontem. Desviei meus olhos rapidamente para qualquer que fosse o lugar, me recusando a cair em tentação. – O quê? Perguntei em reflexo e escutei uma risada soprada. – Se você não vai, eu vou. Justificou e eu escutei seus passos sumindo pelo corredor e depois um barulho de água que certamente era ele mergulhando em sua piscina privada. Me deixei ter o luxo de segui-lo e observá-lo nadando. Ele podia ter se profissionalizado nisso, ele era bom. Na verdade, no que ele não era bom? O famoso perfeito. Não era atoa que ele tinha esse título. Com braçadas longas e compassadas ele cruzou a piscina várias vezes não escapando do meu olhar crítico de quem nadou por anos a fio como hobby. – Entra aí, a água é quente. Emergindo como uma entidade divina ele sentou na borda da piscina sacudindo os cabelos escuros e os jogando para trás expondo seus olhos incrivelmente verdes que ganhavam novos tons claros agora com a luz do amanhecer. Seu corpo ganhava um tom alaranjado com o sol aos poucos nascendo e iluminando a área da piscina e eu quase não conseguia disfarçar para onde meus olhos queriam se perder. – Não sei nadar. Menti e escutei uma gargalhada sonora dele, algo entre um gralho de uma arara e um som doce e melódico. – Mentirosa, eu sei que você adora nadar. E antes que me pergunte, eu também sei investigar. Se apoiou sobre seus cotovelos me fazendo cair na tentação aterradora de olhar para seu corpo seminu. E compelida a dizer a verdade eu murmurei: – Eu não... me sinto confortável com o meu corpo agora. Cocei minha nuca e ele sorriu amplamente erguendo seu dorso mais uma vez para me encarar. – Seu corpo? Suspendeu uma de suas sobrancelhas escuras. – Querida, seu corpo é do tipo que os gregos entrariam em guerra por ele. Confessou em um tom que beirava o flerte.
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