Sophie POV
– Sabe, doutora, eu sou inocente. Tudo isso pode ser resolvido facilmente caso você acredite em mim.
As palavras ditas de maneira pretensiosa quase me fizeram realmente acreditar nele, mas mesmo assim nada poderia suplantar a prova enorme que tínhamos tirado de seu camarote.
Me dei a liberdade de rir um pouco enquanto ele me guiava para fora de sua academia até a sala de estar onde eu me joguei no sofá me importando muito pouco sobre o que ele pensava de mim.
Ele fez uma careta com o meu gesto, mas não disse nada ainda esperando a minha resposta.
– Acho que você tem uma ideia muito equivocada sobre a lei.
Cruzei meus braços e arqueei minhas sobrancelhas percebendo que ele também estava de braços cruzados.
Mas destoando da minha aparência relaxada e tranquila, ele parecia bem mais tenso e preocupado. Como se uma bomba armada estivesse repousando sobre sua cabeça.
– Olha, eu sei que você está apenas tentando cumprir seu trabalho, okay? Mas eu não posso aparecer com uma policial na minha cola!
Explicou rapidamente como se isso fosse pior do que uma terceira guerra mundial, a fome no mundo e a crise econômica mundial todas juntas.
Era um exagero digno de um Oscar.
– Isso seria péssimo para a minha imagem!
Emendou ele no mesmo pensamento exagerado e eu dei de ombros não dando muito espaço para todo aquele chororô me afetar de qualquer maneira que fosse.
– Pensasse nisso antes de traficar drogas.
Disse simplista e vi os olhos verdes dele arregalarem em indignação, algo que quase me fez rir.
Por crescer em um ambiente de classe média baixa eu quase nunca tinha o prazer de quebrar as expectativas frágeis de meninos riquinhos, então conversar com Eros era quase que terapêutico.
Eu esmagava seu ego a cada frase que proferia.
– Eu sou inocente! E quando isso for provado eu vou te processar!
Apontou o dedo como se eu nunca tivesse escutado alguém me acusando de injustiça ou querendo me processar por causa disso.
Respirei fundo sabendo bem que processos judiciais não eram igual queixas escolares. Esses demandavam muito mais tempo, dinheiro e ainda por cima você poderia ser considerado culpado mesmo tendo a razão.
Então ricaços quase nunca abriam processos, eles mesmos sabiam o quão trabalhoso era.
Tendo isso em mente, eu sabia bem que as ameaças dele não me afetavam.
– Você diz como se eu parecesse o tempo todo ser uma policial.
Comentei olhando para as roupas casuais que eu usava e pensei que se visse alguém como eu na rua eu nunca acharia que essa pessoa é um agente da lei.
– E esse distintivo brilhando aí no seu peito?
Apontou irritado como se o distintivo fosse algo quase que venenoso.
Ele um vampiro e o distintivo o crucifixo.
Revirei os olhos um pouco cansada demais para entrar em uma discussão como aquela.
– São as normas, eu tenho que usar ele quando estou em serviço.
Tamborilei meus dedos sobre o artefato metálico e vi ele fazer uma careta enquanto baguncava seus próprios cabelos em busca de se manter mais calmo.
– Não tem como você se vestir mais discretamente pelo menos quando estivermos nas minhas lutas?
Pediu com uma carinha linda de pobre coitado, mas nada disso moveria meu coração endurecido.
– Nem pensar.
Ditei e ele quase choramingou em resposta, como se a sua fama fosse parte do que ele significava como pessoa e que se ela fosse afetada ele automaticamente desapareceria.
Esse tipinho de gente cuja a personalidade é apenas ser famoso me dava uma raiva genuína.
Eles nunca souberam o que é pegar condução lotada, lutar por um emprego que paga m*l e o chefe te destrata, pernas inchadas no final do dia de tanto ficar de pé, horas insuficientes de sono e alimentação desregrada.
Poderia ficar aqui ditando tudo, mas mesmo assim minha indignação não passaria.
O maior problema da vida daquele cara estava sendo ser acusado de algo que ele supostamente não fez.
Mas se ele se provar inocente sua vida vai voltar inteiramente ao normal.
Mas e a minha? Vai continuar a mesma merda de sempre.
Então eu quero mais é que ele sofra mesmo.
– Por favor! Delegada eu juro que te conto absolutamente tudo o que eu souber sobre aqueles caras se você me ajudar nisso!
Sua súplica fez uma anteninha subir em minha mente.
Aquela era uma boa proposta.
– Mas você mesmo disse que não tinha ligação com eles.
Suspendi uma de minhas sobrancelhas levemente desconfiada e ele gesticulou rápido abanando as mãos.
– E não tenho, mas o dono da boate é meu amigo. Eu posso mexer alguns pauzinhos!
Sorriu como se estivesse finalmente me convencendo a ajudá-lo, mas logo eu lancei um balde de água fria em sua animação.
– Me traga uma prova concreta primeiro e depois eu penso no seu caso.
Desviei meu rosto ao dizer aquilo percebendo que Simon estava na cozinha preparando o café e dispondo as xícaras na bandeja de maneira milimérica como se nem mesmo escutasse nossa conversa.
– Não! Olha doutora, eu preciso que você aceite nessa proposta agora mesmo!
Aparentemente desesperado ele tentou se colocar em meu campo de visão e eu franzi o cenho ao escutar uma leve pitada de coação em sua frase.
– Você está me ameaçando?
Perguntei de olhos semicerrados e ele abanou as mãos mais rápido ainda.
– Não, não é nada disso! Eu tenho um jantar super chique, só a elite inglesa vai participar e não posso chegar com uma policial vestindo moletom e jeans ao meu lado!
Tentei fingir que não estava um pouquinho magoada com o que ele disse da minha aparência mesmo que coisas como aquela fossem normais de se ouvir em um dia a dia sendo eu.
– É só não ir ao jantar.
Respondi ríspida.
– Você é estúpida ou o quê?! Eu não posso deixar de ir!
Sua voz agora estava mais alta e ele já tinha arrancado as bandagens vermelhas de suas mãos ficando apenas com aquele shortinho de Muay Thai.
Meus olhos quase me traindo para descer e explorar o contorno de suas coxas, mas me contive.
– Maneire seu tom de voz e me deixe pensar...
Fiz um sinal de calma com uma de minhas mãos e respirei fundo.
Não havia nenhuma maneira de passar desapercebida pelos olhos dos outros convidados.
A menos que eu fosse uma convidada, é claro.
A ideia parecia estúpida, mas estando armada e com minha identificação, nada poderia dar errado. Eu acho.
– Você já tem acompanhante para o jantar?
Perguntei e ele pareceu levemente confuso, mas não se recusou a me responder.
Nesse mesmo tempo, Simon agora estava servindo o café sobre a mesa de centro.
– Sim, uma modelo... qual é o nome dela mesmo?
Fez uma careta tentando se lembrar e coçando a nuca se sentou para tomar o café.
– Tiffany Anderson, senhor.
Simon emendou enquanto me servia café também e perguntava baixinho minhas preferências sobre açúcar ou adoçante.
– Sim, Tiffany! Obrigado, Simon.
Disse o lutador como se tivesse finalmente lembrado o nome de algo completamente irrelevante em sua vida.
E assim que eu deixei a minha xícara sobre o pires em minha mão eu disse:
– Dispense ela.
Vi os olhos dele arregalando em seu máximo como se eu só pudesse estar ficando maluca.
– O quê?!
Disse ele quase cuspindo o líquido que bebia.
Até mesmo Simon me olhava expectante.
Talvez ninguém naquela casa ousasse ir contra os desejos de Eros, mas eu não dava a mínima.
Estava aqui para fazer o meu trabalho e era isso que eu iria fazer.
– Sim, dispense ela, eu mesma vou como sua acompanhante. Essa é a minha condição.
Ditei pegando um dos biscoitinhos sobre bandeja e o lutador ainda me encarava com espanto, mas agora seu espanto dava lugar a uma nova expressão em seu rosto. O bom e velho desgosto.
– Você?!
Sua pergunta emanava o claro desgosto que ele tinha apenas de pensar que não iria com uma modelo alta, magra e loira e sim uma policial baixinha e gordinha.
Mas isso não me afetava. Precisava fazer meu trabalho quer ele queira, quer não.
– O que foi? Prefere ficar em casa?!
Retaliei suspendendo minhas sobrancelhas novamente e isso o fez pensar por alguns segundos olhando para suas próprias mãos.
– Não, você tem razão. Simon, dispense a modelo.
Logo ele ditou quase que em um murmúrio e seu assistente o observou espantado, como se algo do tipo nunca tivesse ocorrido antes.
– Sim, senhor.
Disse Simon atordoado.
Mas antes que eu pudesse me sentir vencedora por ter minha condição atendida, o homem sentado no sofá em minha frente abandonou a xícara sobre a mesa.
– Como você já deu sua condição, aí vai a minha: Você vai ser arrumada por minhas personal stylists.
Ao dizer aquilo ele estava claramente insultando a minha maneira de me vestir e também pressupondo que eu não teria nada "decente" para vestir em um evento como aquele.
– Nem pensar.
Rebati e vi ele me olhar entediado.
– E como você pretende achar uma roupa, sapatos, maquiagem e penteado em menos de seis horas para um evento como esse?!
Seu argumento me atingiu em cheio e eu pensei em como a minha conta estava quase zerada e meu armário só continha molentons, suéteres e jeans.
E pela minha falta de resposta ele riu.
– Exatamente como eu pensei. Agora me obedeça. Simon, ligue para as meninas. Todas elas, precisamos de reforços.
[...]
– Podem fazer o que quiser aqui, apenas deixem ela um pouco menos parecida com uma mendiga de rua...
Eros dava ordens ao que pareciam ser um esquadrão de mulheres em nossa frente, cada uma delas com um cesto em mãos e eu estava sentada em um dos quartos daquele apartamento me perguntando como foi que eu cheguei a esse ponto.
Tudo pela missão. Pensei.
– Sabe, eu estou a um milímetro de te prender por desacato.
Apontei para o lutador que riu nervoso mostrando aquelas suas covinhas e depois acenou.
– Okay, não vou interromper mais!
Mesmo dizendo que não iria interromper mais, ele ficou no canto daquele quarto mexendo em seu celular enquanto aquelas mulheres mexiam em todos os lugares do meu corpo.
– Estique as mãos e os pés, senhora.
Uma delas pediu, a manicure eu acho.
Outra delas quis tirar minhas roupas para colocar um hobby de seda em mim, mas acabou pegando em meu coldre.
– Ai meu Deus, o que é isso?!
Gritou ela com minha arma em mãos e Eros quase levantou com o susto e eu ri um pouco envergonhada tirando a arma da mão dela e entregando a Simon que colocou junto dos meus pertences.
– Ah, me desculpe! Eu esqueci de tirar o coldre. Pode continuar.
Sorri ainda envergonhada e passei por uma daquelas transformações dos filmes da Disney onde a mocinha passa por várias etapas de tratamento até ficar linda.
Só que no meu caso tudo doía como o inferno.
A cabeleireira desembaraçava meu cabelo com dificuldade, a manicure lixava meus pés sem dó, a esteticista arrancava os pelos das minhas pernas, rosto e axilas com cera e eu só queria morrer.
Eu estava em um estado lamentável sim por causa da depressão, mas nunca imaginei que teria que passar por algo tão terrível por causa disso.
A esse ponto Eros já tinha ido treinar e Simon disse que logo estariam de volta, o que pareceu ser a carta branca para aquelas mulheres que começaram trabalhos mais intensos em mim.
Limpeza de pele, banho esfoliante, tratamento capilar, secagem, maquiagem, escolha de roupas, escolha de sapatos...
E quando finalmente tudo terminou já era quase de noite e eu m*l conseguia me colocar de pé de tanto cansaço.
– A senhora está linda...
Uma delas disse ao terminar meu cabelo e todas pararam para me analisar e sorrir em conjunto como se tivessem acabado de preparar uma obra de arte para ser exposta em uma galeria.
Empolgadas e risonhas elas me empurraram até o espelho - mesmo comigo pedindo para que não fizessem - e quando eu me vi eu simplesmente paralisei.
Não sabia a quantos anos eu não me via tão linda quanto eu estava agora.
Eu estava tão maravilhosamente bem cuidada que eu quis chorar e abraçar cada uma daquelas moças que trabalharam arduamente para me deixar daquele jeito.
Meus cabelos estavam hidratados e escovados em ondas sedosas que caiam sobre meu b***o, a maquiagem em meu rosto ressaltava meus olhos e lábios, o vestido azul escuro contrastava com meu tom de pele e a echarpe de seda dele caia entre meus cotovelos me dando um ar sofisticado.
Meu corpo parecia lindo naquele vestido mesmo que não fosse tão lindo assim fora dele e eu não sabia mais se queria tanto assim odiar aquela decisão de ir no jantar.
– Wow... a senhorita está deslumbrante!
Simon disse até mesmo se esquecendo de me chamar pelo habitual "senhora".
Sorri sentindo minhas bochechas arderem e as meninas ao meu lado apenas bateram algumas palminhas.
– Venha, o Sr. Zervas está se preparando.
Eros POV
Era um p**a jantar importante.
Um daqueles que você precisa estar mesmo que sua mãe faleça ou seu avião caia no trajeto.
Naquele jantar os maiores nomes da elite se reuniam para trocar contatos, prestigios, favores. E era o meu segundo ano consecutivo sendo chamado para esse jantar.
No do ano passado eu conheci um homem que me colocou no topo onde estou hoje, e esse ano eu pretendo ao menos conhecer mais patrocinadores.
O grande porém nisso tudo era que eu não sabia se conseguiria camuflar Sophie, a delegada, no meio de tanta gente influente.
Aquele povo tinha um faro incrível quando se tratava de pessoas ordinárias, e por isso eu me preocupava.
Não por ela, ela tem uma arma.
Mas por mim e por minha fama.
Ah, mas Eros tudo o que importa para você é a fama?
Sim. Ela e mais nada.
Era a única coisa que me fazia sentir vivo, amado, venerado, visto.
Então eu não estava disposto a perdê-la tão cedo.
E depois de colocar meu smoking de três peças próprio para a ocasião, acabei encontrando Simon e Sophie conversando no sofá da sala e ela ria alegremente de algo.
Mas o que me chamou a atenção não foi a risada em si, mas como ela estava inefavelmente linda.
Como se cortinas tivessem caído dos meus olhos eu não pude ver mais nada dentro da minha própria casa. Apenas Sophie.
Nem eu mesmo conseguia acreditar que algo assim estava escondido por trás daquela carcaça de policial durona.
Ela parecia uma princesa.
Um vestido azul que fazia jus as suas curvas e com uma f***a em sua perna esquerda que a tornava ainda mais suculenta.
Merda, ela é a policial que quer te prender!
Foco Eros!