Capítulo 18 – A Primeira Ameaça de Sangue

914 Words
Depois da festa, a presença da Bruna não saiu da minha cabeça. O jeito que ela me olhou. As palavras que usou. Como se soubesse mais de mim do que eu mesma. E eu podia fingir que não me abalava. Mas toda rainha sabe quando o trono começa a balançar. --- — Ela não sumiu, né? — perguntei pro Gabriel, já no dia seguinte. — Não. Tá circulando nas áreas onde eu não piso. — Tá falando com gente que devia me respeitar. — E você vai fazer o quê? — Esperar ela fazer a primeira besteira. — E se ela for mais esperta que isso? — Então a gente dá um jeito de provocar a besteira. --- Nando chegou pouco depois, com cara de quem traz notícia r**m. — Fala logo — Gabriel ordenou. — Um dos nossos foi atacado. — Disseram que ele tava “muito leal ao chefe”. Cortaram o rosto dele com navalha. — Onde? — Perto da viela da escola velha. Zona neutra. — Isso é recado. Da Bruna. — Eu achei melhor te avisar antes de... — Não. Você fez certo. Eu escutei tudo calada. Mas meu sangue ferveu. — Gabriel… isso é sobre mim. — É sobre nós. — E é por isso que agora eu vou começar a mostrar os dentes. — Vai revidar? — Vou mandar um aviso de volta. — Um que eles não vão esquecer tão cedo. --- Eu sabia o que isso significava. Gabriel ia mexer no jogo. Ia deixar de jogar na defensiva. E quando ele parte pro ataque… ninguém sai ileso. --- Naquela noite, a casa ficou em silêncio. Mas o silêncio dele era diferente. Ele ficou na laje por horas, olhando o morro. De vez em quando, respondia algo no rádio. Mas na maior parte do tempo… só pensava. Fui até ele. — Quer conversar? — Não sei se tem espaço pra conversa no mundo que eu vivo. — Sempre tem. Ele me olhou. — Você sabe o que significa quando alguém mexe comigo por causa de você? — Sei. — Significa que vão tentar te atingir de novo. — Mais forte. — Mais direto. — E o que a gente faz? — Morde antes que mordam. — Sangra o inimigo antes que ele veja o seu sangue. — E se isso for o começo de uma guerra maior? — Então a gente entra nela de peito aberto. — E com você do meu lado. --- Eu dormi pouco naquela noite. O som do rádio na laje. Os passos dos meninos de guarda. Tudo me lembrava que, a qualquer momento… algo podia explodir. E explodiu. --- Às cinco da manhã, acordei com gritos. Corri até a janela e vi um corpo jogado em frente à nossa casa. — Gabriel! — gritei. Ele já estava descendo, armado, seguido por Nando e mais dois. Fui atrás. No chão, um saco de estopa rasgado, e dentro… um cachorro morto. Mas não qualquer cachorro. — É o Bóris — disse um dos meninos. — Da Amanda. Meu coração travou. Era um dos cães que viviam comigo antes do Gabriel. Eu doava ração, cuidava. Ele sumiu uns dias atrás. E agora… ele tava ali. Morto. Com um bilhete grudado no pescoço: > "Quem alimenta bicho de chefe… morre igual." --- Gabriel pegou o papel e leu em silêncio. Depois, olhou pra mim. — Agora não tem mais volta. — O que você vai fazer? — A pergunta certa é: — O que a gente vai fazer. --- Ele me chamou pro quarto. Trancou a porta. Sentou na cama. — Amanda, eu preciso que você me responda com o coração agora. — Tá. — Você tá disposta a atravessar a linha comigo? — Que linha? — A que separa as esposas dos generais. — E o que tem do outro lado? — Lealdade. Frieza. Decisão. — E, às vezes, morte. Eu respirei fundo. — Se eu disser sim… eu viro o quê? — Você vira parte da guerra. — De verdade. — E se eu disser não? — Eu te protejo até o fim. — Mas você nunca mais pisa nas minhas reuniões. — Nem ouve meus planos. — Nem sabe o que carrego nas mãos. Me aproximei dele. — Eu já atravessei essa linha quando me apaixonei por você. — Eu só não percebi que não dava pra voltar. Ele me olhou por segundos longos. E então disse: — A partir de hoje… — você não é só minha mulher. — É minha cúmplice. --- O plano foi colocado em prática na mesma noite. Gabriel reuniu três dos chefes aliados e traçou o contra-ataque. Mas pela primeira vez… eu estava lá. Ouvindo. Opinando. — A Bruna tem boca, mas não tem exército. — O que ela tem é ódio — eu disse. — E gente com ódio, age antes de pensar — completou Gabriel. — Então vamos fazer ela pensar que venceu — sugeri. Todos me olharam. — Como assim? — Nando perguntou. — Vamos deixar ela se aproximar. — De mim. — Achar que eu tô fraca. — Aí, quando ela vacilar… a gente acerta. Gabriel sorriu. — Eu criei uma mente criminosa e nem sabia. — Você só despertou o que já existia. --- E assim, o jogo virou. Bruna não sabia ainda… Mas ela tinha cutucado a pessoa errada. Porque agora, eu não era só a rainha. Eu era a armadilha com coroa. E a próxima jogada seria minha.
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