Capítulo 22 – O Segredo Que Ninguém Conta

720 Words
Faziam dias que Bruna não aparecia. Não se ouvia o nome dela. Ninguém falava dela. E isso me incomodava mais do que se ela estivesse atirando. Porque quando o inimigo some, é porque tá preparando algo. --- — Acha que ela foi embora? — perguntei a Gabriel, na laje. — Não. — Bruna não é o tipo que foge. — Ela é o tipo que esconde a arma… até poder atirar pelas costas. — Então por que o silêncio? — Porque agora ela tá com medo. — E quem tem medo, pensa. — Quem pensa… calcula. — E quem calcula… às vezes acerta. — E se ela tiver preparando o fim? — O fim de quem? — De mim. — De você. — De tudo isso. --- Ele respirou fundo. Acendeu um cigarro e olhou o horizonte. — Você sabe por que ela me odeia tanto, Amanda? — Porque você tirou o lugar dela? — Não. — Porque eu tirei alguém dela. — Como assim? Ele ficou em silêncio por um tempo. Depois disse: — O ex dela… era meu melhor amigo. --- Eu arregalei os olhos. — Como assim, Gabriel? — A gente cresceu junto. — Ele era mais velho, já tava no corre quando eu entrei. — E? — Um dia, o chefe da época mandou ele dar um recado num rival. — Ele foi… e não voltou. — Morreu? — Mataram. — E a Bruna… nunca me perdoou. — Porque eu incentivei ele a ir. — Mas você não mandou. — Não. — Mas eu podia ter impedido. — E não fiz. --- Fiquei em silêncio. Agora fazia sentido. A raiva dela não era só poder. Era luto m*l curado. Dor transformada em ódio. Fúria que encontrou em mim um novo alvo. --- — Você sente culpa? — perguntei. — Sinto. — Mas não posso parar por causa disso. — O morro exige que a gente continue, mesmo quando tudo que a gente quer… é voltar. --- Depois dessa conversa, o clima mudou. Gabriel ficou mais fechado. E eu comecei a ter pesadelos. Com tiros. Com correria. Com Bruna rindo. Até que, numa madrugada, acordei com um barulho. — Gabriel? Ele se sentou na cama, já com a arma em punho. — Que foi? — Escutei algo. — Onde? — No quintal. Ele se levantou. Foi até a janela, olhou com atenção. — Nada aqui. — Tinha um barulho. — Pode ter sido bicho. — Ou pode ter sido aviso. --- Na manhã seguinte, encontramos um envelope. Deixado embaixo da porta. Sem nome. Sem assinatura. Dentro, só uma foto. Minha. Na feira. Sozinha. De costas. E no verso, uma frase: > “Toda rainha se sente segura… até o veneno ser servido por alguém conhecido.” --- — Já deu! — Gabriel gritou. — Isso passou dos limites. — E agora? — Agora ela vai ver o que é guerra de verdade. — E se for outra pessoa? — Ninguém mais tem coragem de te ameaçar. — Só ela. — E se ela estiver usando alguém? — Vamos descobrir. — Mas antes disso… vou mandar um aviso. --- No mesmo dia, três pontos do morro onde os antigos aliados da Bruna se reuniam foram fechados. Trancados, vigiados, cercados. Ninguém entrava. Ninguém saía. O morro entendeu: o chefe estava de volta ao jogo. Com sangue nos olhos. --- Mas não foi só Gabriel que mudou. Eu também. Comecei a andar mais armada. A dormir com faca debaixo do travesseiro. A desconfiar até do olhar de criança na rua. Porque agora eu era o alvo mais visível. E a guerra não era mais sobre controle. Era sobre vingança. --- — Você ainda quer continuar nisso? — Gabriel me perguntou numa noite. — Eu não tenho mais saída. — Sempre tem. — Não pra mim. — Porque se eu sair agora, eu morro. — Eles não vão me deixar viver depois de tudo. — Então a gente luta. — Até o fim. — O fim vai ser com sangue? — O fim vai ser com o nome da vencedora na boca do morro. --- Mas, no fundo… Eu sabia. O fim não era o que me assustava. O que me assustava era quem teria que cair até lá. E talvez… eu tivesse que ser a primeira a puxar o gatilho.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD