Capítulo 15 – O Aviso Vem Antes da Queda

1018 Words
A mensagem ainda ecoava na minha mente. > “Se você acha que virou rainha… cuidado com o tombo.” E por mais que Gabriel tenha dito que ia resolver, algo dentro de mim sabia: não era só ameaça. Era aviso. --- O dia amanheceu estranho. O céu nublado. O ar mais pesado. Gabriel saiu cedo, sem dizer pra onde ia. Disse apenas: — Se qualquer coisa acontecer, tranca tudo. Nando vai passar aí de tempo em tempo. Fiquei sozinha. Sentada no sofá da casa onde agora eu vivia, rodeada por grades, seguranças e paredes grossas. Mas nenhuma parede era grossa o bastante pra proteger meu coração daquele medo. Peguei o celular. Fiquei rolando o feed, fingindo normalidade. Mas cada som vindo do lado de fora me fazia saltar. --- Horas depois, uma batida na porta. — Amanda? — era a voz do Nando. — Pode entrar. Ele entrou, com a arma na cintura e olhar sério. — Tá tudo bem por aqui? — Tá. Mais ou menos. — Essa ameaça… — O chefe tá resolvendo. Mandou uns caras rastrear o IP da mensagem. — A gente acha que veio de um celular clonado. — Ou seja… foi alguém aqui de dentro, né? — Talvez. Mas a gente vai descobrir. Sentei de novo no sofá. Nando ficou parado na porta, como um cão de guarda. Foi aí que perguntei: — Nando… o Gabriel sempre foi assim? — Como? — Protetor. Intenso. Obcecado. Ele riu de leve. — Ele sempre foi fechado. Frio com quase todo mundo. — Mas desde que você chegou, ele virou outra coisa. — Parece que agora ele tem mais a perder. — E isso é bom? — Pro coração dele, talvez. — Pro morro? Isso deixa ele mais perigoso. --- Horas depois, Gabriel voltou. Suado. Tenso. Com sangue seco na blusa. Corri até ele. — O que aconteceu? — Resolvi um problema. — Que problema? — Um cara que repassava informação pro inimigo. — Ele mandou aquela mensagem. — E…? — E agora não manda mais nada. Nem respira. Senti um arrepio. — Você o matou? — Eu protegi o que é meu. É diferente. Fiquei em silêncio. Não era mais só palavras. Agora, era real. --- Naquela noite, algo mudou entre nós. Ele me levou até o quarto, mas não quis me tocar. Deitou do meu lado, mas de costas. — Tá tudo bem? — perguntei. — Não sei. — O que tá pegando? — Eu matei por você hoje. — Gabriel… — E não me arrependo. Mas isso aqui… essa vida… ela vai te engolir uma hora. — Você quer que eu vá embora? Ele virou o rosto. Me olhou sério. — Não. — Só quero que você saiba o preço de ficar. — E você acha que eu ainda tô aqui por acaso? — Eu sei que não. — E talvez por isso eu esteja com tanto medo de te perder. --- Passamos a noite em silêncio. Mas era um silêncio denso. Um silêncio de guerra interna. De promessas que não foram feitas, mas já estavam escritas. --- Na manhã seguinte, resolvi sair sozinha. Coloquei uma roupa simples, prendi o cabelo e saí pelos becos. Os meninos do ponto de observação me olharam com respeito. Mas o olhar de algumas mulheres… ainda era o mesmo. Duro. Frio. Afiado. Parei na vendinha da Dona Zuleide pra comprar pão. — Você é a Amanda, né? — ela perguntou, enquanto separava os trocos. — Sou sim. — Cuidado, minha filha. Ser mulher de homem que tem poder… é como andar com gasolina no corpo. — E por quê? — Porque qualquer faísca vira incêndio. — E nem sempre o incêndio mata o homem. Às vezes, só queima a mulher. Saí dali com o coração apertado. Todo mundo parecia saber mais do que eu. Sentir mais do que eu. Como se eles já tivessem visto esse filme antes. --- Cheguei em casa. Gabriel me esperava na varanda. — Onde você foi? — Comprar pão. — E quem disse que podia sair sozinha? — Eu não sou prisioneira. — Mas é alvo. — Eu preciso aprender a viver nesse lugar. — Não posso ficar me escondendo o tempo todo. — Enquanto eu não tiver certeza de que você tá segura… vai ficar, sim. — Gabriel, eu tô aqui. Eu escolhi estar com você. — Mas se for pra viver com medo, eu vou embora. Ele se aproximou. Devagar. Firme. Colou o rosto no meu. — Você não vai embora. — E quem ameaçar tirar você de mim… — vai conhecer o lado mais sujo do morro. — Eu só quero paz. — Eu não posso te dar paz. — Mas posso te dar proteção. E amor. — Do meu jeito. — Eu só quero que você não me deixe no escuro. — Então vem comigo. — Pra onde? — Hoje à noite, tem reunião com os chefes de zona. — Quero você lá. — É seguro? — Não. — Mas você vai do meu lado. E quando você anda comigo… ninguém encosta. --- Mais tarde, me preparei como ele pediu. Usei uma calça preta, uma blusa colada e uma corrente no pescoço. Passei batom vermelho. E deixei o cabelo solto, do jeito que ele gostava. Quando saí do quarto, ele me olhou de cima a baixo. — Tá linda. — Tá com medo? — Deles? Não. — De você virar meu ponto fraco na frente de todo mundo? Sim. Sorri. Me aproximei. — Então me mostra forte. — Eu sou forte. — Mas você… é minha única fraqueza. --- Entramos no galpão onde a reunião ia acontecer. Vários homens. Todos armados. Olhares desconfiados. Mas quando Gabriel entrou comigo do lado, todos abriram espaço. Ele puxou uma cadeira. Me fez sentar ao lado dele. E durante toda a reunião… me manteve perto. Cada vez que alguém falava algo mais duro, ele apertava minha mão. E ali, no meio da tensão, eu entendi: Eu não era só a mulher do chefe. Eu era o coração de um homem que não podia se dar ao luxo de ter um.
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