O sábado chegou junto com uma dona Marta agitada porque é dia de fazer faxina. E ela queria terminar logo com aquilo antes que o dia ficasse muito quente, afinal a casa dela é um forno. Mas minhas primas não pareciam muito preocupadas com isso, pois as duas relutam para sair dos colchões, no chão do quarto. Até que ela se estressou, desligou o ar condicionado, abriu a porta do quarto e começou a tirar os lençois e fronhas que estavam em sua cama.
—Bora meninas ... levantando que já passa das 10h.
—Aí mãe, a senhora não não facilita hein. —Disse Érica já sem paciência.
—Já facilitei muito deixando vocês na cama até essa hora. A vida tá passando... vamos, vamos ... Cada uma vai fazer algo, Julia fica com a cozinha, Évelyn com a casa e Sol com o banheiro. E quero tudo brilhando!
Julia: —E a senhora vai fazer o quê?
—Eu fico com as roupas.
Julia: —Isso não é justo, a máquina que lava as roupas, mãe.
—Elas vão para a máquina e saem sozinhas por acaso? Elas se estendem sozinhas na corda?
Eu só vi um lençol voando em nossa direção, que deveria atingir a Ju.
—Tá bom mãe, já entendi.
(...)
Levantamos todas contra vontade de iniciar nossas tarefas do dia, porque a preguiça imperava em nós. Corremos para a cozinha e sentamos à mesa para prorrogar um pouco mais, mas quando minha tia entrou na cozinha e não me viu comendo começou a reclamar e dessa vez eu não tinha o meu tio para me defender:
—Posso saber porque não está comendo alguma coisa, Sol?
—Tia … a senhora sabe que não acordo com fome.
—Não quero saber de nada, trata de beber pelo menos um copo de leite com achocolatado e não quero ouvir mais um ‘a’ sobre isso. Eu hein, o que eu vou falar com a sua mãe se você passar m*l?
‘O que posso fazer?’
Revirei meus olhos assim que ela virou as costas para pegar o copo em cima do balcão para me entregar. Ju me olha de lado, ri e gesticula sem fazer som.
—Hoje você não foge. — E ri mais.
(...)
Após o café da manhã, fazemos nossas tarefas ouvindo música no estilo da família. Bem alta que é para nos motivar e acordar algum vizinho que queira dormir até tarde e ao terminar, já peguei minhas roupas e segui para o banho.
A casa toda ficou um brinco e o cheiro que exala dos produtos de limpeza toma conta do ambiente. Com tudo no lugar, nós almoçamos… e dessa vez não consegui fugir de todos os legumes, inclusive do horrendo jiló.
‘O coisinha com gosto horrível.’
Comi com minhas primas zombando das caras que faço a cada garfada.
‘Ainda bem que tem um suco de laranja bem docinho que me ajuda a tornar essa missão menos pior.’
Minha tia me olha de lado e percebe, mas prefere ficar quieta. E ao terminar a minha refeição ela pergunta:
—Não foi tão r**m, foi?
—Foi péssimo, tia.
—Pelo menos não vomitou, quando você for mais velha vai me agradecer.
—Não sei como, mas tudo bem. Ainda bem que essa salada acabou.
—Não se esqueça que eu sempre posso fazer mais.
As duas traidoras que chamo de primas explodiram em risadas e assim eu caminhei para a pia para lavar meu utensílios usados.
(...)
A tarde foi com todas nós deitadas no chão da sala porque o calor continuava imperando e o lugar mais fresco é a cerâmica do piso, que pelo menos ameniza o nosso sofrimento.
Ao cair da noite a Ju quis ficar no portão sentada vendo quem passava enquanto conversávamos. E eu agradeci porque começava a correr um vento e ia nos refrescar um pouco. Saímos levando nossas cadeiras de plástico, colocando em frente ao portão, e realmente estava melhor que dentro daquela casa que queima e parece querer nos assar vivas.
De repente Évelyn aparece e se junta a nós, em seguida, uma amiga da igreja que elas frequentam, aparece e começa a conversar com ela bem próximo a nós.
Eu não pude não ouvir aquele assunto que muito me chamou atenção.
—Vamos no retiro de carnaval, vai ser legal. Vocês vão gostar!
—Ah não sei Lizi, ficar presa em uma casa, durante 5 dias, com um monte de adultos e cheios de regras não me chama atenção.
—Você está exagerando, é divertido! Vamos ter momentos de lazer, a casa é na praia e vai ter muita gente da nossa idade, e a lista de pessoas que confirmam só aumenta a cada dia.
Naquela hora eu olhei pra Ju e ela sorriu, ali já concordamos que ambas queriam ir sem precisarmos trocar uma palavra, mas não mencionamos nada naquele momento.
Ficamos na rua até tarde, meu tio chegou do trabalho e a Ju correu para ajeitar as coisas dele, mas logo voltou sorrindo. A conversa e os risos eram constantes até que ouvimos uma voz aguda vinda da janela.
—Eu vou ter que ir aí buscar vocês para dormir?
Grita minha tia. Quem escuta acha que ela está brigando, mas nós sabemos que é brincadeira.
Evelyn: —Já vamos, mãe.
—Mais 30 minutos e depois vocês entram, seu pai e eu estamos no quarto, se quiserem dormir no nosso quarto vem ajeitar as camas logo.
Nós nos entreolhamos e levantamos correndo para entrar porque definitivamente dormir no ar era primordial e inegociável.
Após alguns minutos estávamos todas banhadas e arrumadas para deitar e já tínhamos arrumado os colchões no chão.
Como de costume ainda rolou umas brincadeiras, piadas, conversas e sim..
Peidos…
Aparentemente meu tio acha graça nisso e no fundo nós também.
Quando todos ficamos enfim em silêncio lembro de pensar.
‘O que acontece em um retiro de igreja? Será que se Evelyn e Ju forem, minha mãe vai deixar eu ir também?’
Inexplicavelmente eu senti uma ansiedade tomando conta de mim, deixando meu coração acelerado e fazendo a missão de dormir se tornar mais difícil que o normal.
‘Coisa estranha.’