Enquanto ele dirigia, decido conectar uma música e me colocar confortável no carro, ou seja, botar meus pés no painel dele.
– dá pra tirar seus pés do meu painel?_ pergunta sem me encarar.
Mesmo ele não vendo eu abano minha cabeça negando_ estou descalça, imagina um animal me picar_ argumento.
Ele solta um suspiro_ você vai raspar meu painel_ reclama, mas o ignoro e começo a cantarolar "still don't know my name, de Labrinth".
Depois de algumas músicas, as quais cantei a pleno pulmão, com uma dose de desafinação e animação nada contida, o moreno me olhou com cara de incredulidade quando "dandelions de Ruth B" começou a tocar.
– que foi?_ o olho confusa.
– Você é tão aleatória, chorou, falou de amor, falou m*l do amor e agora está falando de amor novamente, eu hein, ainda não cansou de ficar gritando?
– você deveria aprender a ser feliz viu, música enriquece a alma e melhora o humor_ dou de ombros sorrindo convencida.
– quem escuta suas músicas não imaginária esse seu jeito dark_ fala atento na rua.
– estilo dark? Eu?_ o olho indignada.
– sério que você nunca se apercebeu disso? Olha suas roupas, você está sempre de preto ou alguma cor neutra, suas unhas estão pintadas de preto e pelo que notei em todas as suas fotografias, suas unhas passam muito tempo com essa cor, até os livros que você lê_ explica como se fosse a coisa mais óbvia.
Eu olho para minha própria roupa, shorts jeans na cor preta e uma camiseta branca com listras pretas_ isso não tem nada haver_ me defendo_ você também vive de preto, olha só pra você, jeans escuros, tênis pretos e camiseta preta_ aponto para cada item que menciono.
– eu uso por praticidade, cores vivas chamam muita atenção e tem gente com vontade de me matar, e você? Tem alguém tentando te matar por acaso?_ estaciona o carro e me encara.
– não vou discutir isso com você_ viro meu rosto para o outro lado e faço um biquinho.
– ah, mulheres_ ele suspira.
– ao invés de ficar me enchendo o saco, que tal comprar sapatos para mim?_ olho novamente para ele.
– quer que eu escolha ou você prefere escolher sozinha?_ olha para o centro comercial do seu lado.
– você vai sair desse carro, dar a volta e me levar nas suas costas até a loja de calçados_ dou de ombros.
– você está brincando nem?
– não, eu não posso sair descalça no centro comercial, você me trouxe descalça, logo, vai ter que me carregar_ falo óbvia.
– eu mereço_ desce do carro e dá a volta até chegar ao meu lado e abrir a porta_ vamos_ me encara.
– de costas_ mando e ele obedece, nesse instante ele se abaixa e eu consigo subir em suas costas, sendo levada para o interior do centro comercial.
Algumas pessoas olhavam para nós a medida que ele seguia em direção ao andar das lojas de calçados.
– que humilhante_ ele reclama enquanto para na escada rolante e ela nos leva ao andar de cima.
Como eu já tinha meus braços envolta de seus ombros, pouso minha cabeça na dobra de seu pescoço e suspiro aí, o causando arrepios_ você fica tão bem de cavalinho, deveria ser um mais vezes_ nem preciso falar alto já que eu estava próxima ao seu ouvido.
– fica quieta Gabriela_ fala com um tom sério.
– eu estou quieta_ falo rindo.
Ele entra em uma das lojas de calçado e me coloca sentada em uma das cadeiras usadas para experimentar os sapatos.
– eu já fiz minha parte_ cruza os braços enquanto a moça da loja vem ao nosso encontro e me olha com um sorriso simpático.
– boa tarde, sejam bem vindos, no que posso ser útil?_ ela pergunta cordialmente.
Lorenzo olha para mim e depois se afasta de nós como se nem nos conhecêssemos_ oi, poderia me trazer vans número 39? Na cor preta de preferência_ falo com um sorriso fraco nos lábios.
A moça assente ainda sorrindo e então se afasta de mim, para uns instantes depois, voltar com uma caixa de Vans as quais experimento e me assentam perfeitamente e como já é óbvio ele pagou pelos meus sapatos.
– você tinha mesmo que escolher esses? Já tem uns 5 pares_ ele reclama da minha escolha no calçado.
– primeiro eu só tenho 2 pares, com esse 3 e outra, eles combinam comigo_ dou de ombros.
– gostos não se discutem.
– exatamente, agora vamos nos divertir_ me animo, mas ele não_ vem, vamos passear pela cidade_ seguro sua mão e o arrasto comigo.
Mesmo contra sua vontade, ele virou meu fotógrafo, registando cada momento, cada paisagem e até nem reclamava mais sobre ter que fazê-lo, ele inclusive tirou uma foto comigo só porque uma moça sugeriu e insistiu que o fizéssemos.
Enquanto o moreno mexia em seu celular distraidamente (pois eu havia me dirigido para tirar uma selfie sem ele minutos atrás) me aproximo dele e o mesmo nem nota minha presença, ou se nota, me ignora totalmente.
– Enzo_ chamo por ele, mas o mesmo continua me ignorando_ Enzo_ repito o chamamento e em resposta ele só diz um "huhum", sem nem me olhar, o que essa criatura acha que está fazendo?
Arranco o celular de suas mãos e nesse mesmo instante ele olha para mim finalmente_ que foi Gabriela, devolva o celular_ estende a mão para mim.
– eu estou com fome_ falo ignorando sua ordem e me mantendo com seu celular.
– é sério?_ me olha indignado.
– eu estou com fome_ repito.
– e quer que eu faça o que Gabriela, que pegue comida e te dê na boca?
– não é uma má ideia_ dou de ombros despreocupada.
– eu estava sendo sarcástico, tem tantos restaurantes e lanchonetes por aqui, vá comer, dinheiro não é problema_ tirou seu cartão de crédito e estendeu para mim.
– não vai comigo?_ cruzo os braços.
– não, agora devolve meu celular.
Eu faço uma expressão pensativa, como se estivesse pensando em seu caso_ não, eu vou ficar com ele e vou achar outra pessoa que queira partilhar uma refeição comigo_ dou de ombros com um sorriso cínico no rosto.
– isso é uma daquelas tentativas de me causar ciúmes?_ me olha arqueando a sobrancelha.
Eu solto uma risada_ Enzo, só vem comer comigo, eu estou com fome_ reclamo.
– está bem_ ele revira os olhos e vem caminhar do meu lado em direção a algum restaurante_ e depois eu posso comer você?_ olho para o mesmo que me encarava com um sorriso de canto e um olhar intenso.
– você é muito i****a_ desvio o olhar do dele.
– você não disse que não_ seu tom de voz parecia de quem se estava a divertir com tudo e por isso o ignoro_ ei_ ele segura meu braço e me vira em sua direção_ eu posso tomar isso como um sim?_ pergunta levantando meu rosto para que eu olhasse diretamente para seu rosto.
– não, você não pode Enzo, aquilo foi um erro.
– como você vai aprender com seus erros se não quer errar?_ arqueia a sobrancelha me fazendo soltar uma risada.
– você tá doido, vamos logo_ o dou as costas, mas ele não solta minha mão e caminhamos assim até o Interior do restaurante.