Soraia
Acordei com o som do interfone. Era Débora. De novo. Ela tem aparecido com mais frequência desde que percebeu minha mudança de comportamento. E eu, cada vez mais, me sinto cercada. Não por ela, mas pelo mundo. Pelo que ele representa. Pela ameaça constante de que alguém descubra o que vivemos aqui dentro.
João e Matt ainda dormiam. A casa estava silenciosa, mas minha mente não. Desde a nossa conversa sobre buscar ajuda, tenho tentado organizar meus pensamentos. Mas é como tentar dobrar o vento.
— Trouxe café e pão de queijo — disse Débora, entrando com aquele sorriso que sempre me pareceu invasivo demais.
— Obrigada — respondi, tentando parecer natural.
Nos sentamos na varanda. Ela me olhava como quem espera uma confissão. E eu, como quem tenta esconder um incêndio com um lenço
