Samuel Clara sempre foi diferente. Desde o dia em que cheguei naquela casa, com doze anos e uma mochila cheia de roupas que não me pertenciam, ela me olhou como quem vê algo que não entende, mas quer guardar. Eu era o menino adotado. O irmão novo. O estranho que virou parente. Nos primeiros meses, ela me seguia pela casa. Me observava. Me oferecia silêncio. E eu, que vinha de lugares onde o afeto era escasso, aprendi a reconhecer o cuidado nos gestos pequenos. Com o tempo, viramos irmãos. Pelo menos aos olhos dos outros. Mas dentro de mim, algo crescia. Algo que não tinha nome. Algo que me fazia querer estar perto dela de um jeito que não era só fraterno. Demorei anos para entender que o que eu sentia era amor. Não o amor que se espera entre irmãos. Mas o amor que se deseja em segredo.

