João A casa estava silenciosa. Soraia havia saído para visitar uma amiga que também começava a se abrir sobre sua relação poliafetiva. Matt estava no quarto, desenhando. E eu, na sala, com um livro aberto e a cabeça longe das palavras. Desde que começamos a publicar os textos no blog, algo se deslocou dentro de mim. Não era só o alívio de existir com mais verdade. Era também o peso de saber que essa verdade ainda assusta. Ainda fere. Ainda separa. Matt apareceu na porta, com o caderno de desenhos nas mãos. Me olhou com aquele misto de calma e urgência que só ele sabe carregar. — Posso te mostrar uma coisa? Assenti. Ele se aproximou, abriu o caderno. E ali estavam nós dois. Desenhados com traços suaves, quase infantis. Ele em meu colo. Eu com os braços em volta. Um gesto de cuidado. Um

