Naquele momento, duas garotas se aproximaram, interrompendo a conversa.
— Aí, Emma! Adivinha? Consegui os instrumentos com meu amigo! — disse uma delas, de cabelo ondulado, olhos castanhos e sorriso radiante.
Ao seu lado estava uma garota de cabelo preto liso, aparência asiática, com fones de ouvido no pescoço e um olhar observador.
Emma se levantou animada.
— Gente, essa é a Mary. Acabei de conhecê-la. Talvez ela possa nos ajudar com a música.
As duas garotas sorriram para Mary.
— Oi, eu sou Aurora, e essa que parece que está julgando até alma é a Hana.
— Estamos formando um grupo musical… ou tentando, pelo menos — disse Aurora, empolgada.
Mary sorriu timidamente e apertou a mão de Aurora.
— Oi, prazer. Eu sou Mary — disse com voz calma, mas firme.
— Emma comentou que você está aqui para buscar inspiração. Parece que deu certo.
Emma riu.
— Mais ou menos… Estou com um bloqueio criativo e não consigo encontrar as palavras certas — explicou.
Hana cruzou os braços e olhou para Aurora.
— Aí, eu não estou julgando ninguém, essa é minha cara — disse Hana, indignada.
— Mas e aí, Mary? Você escreve? — perguntou ela, com voz séria.
Mary hesitou por um segundo.
— Às vezes… sim. Nada demais. Só alguns textos mesmo.
Emma sorriu.
— Isso é perfeito! Exatamente o que precisamos: letras com sentimentos reais, que toquem o público com nossa música.
— E se a música fosse sobre reencontrar a si mesma e sobre liberdade? — disse Mary, voltando a falar firme. — Assim, o mar traz paz e conforto, e a maré leva embora tudo que machuca, né? A gente cria uma música com todos esses elementos.
Emma levantou-se rapidamente, surpresa.
— Isso é incrível! Exatamente o que eu estava precisando para escrever essa música.
Hana se sentou ao lado, tirando os fones do pescoço.
— Parece que encontramos a última que faltava para a nossa música. Ai, gente, acho que a Mary deveria entrar no nosso grupo.
Mary sorriu timidamente, e seu coração encheu-se de alegria ao saber que viveria uma experiência nova, com novas pessoas e novas amizades.
Emma e Aurora concordaram com a ideia de Hana.
— Então está decidido! Mary vai entrar no nosso grupo. Agora só precisamos escrever a música e pensar em um nome para o grupo — disse Aurora, empolgada.
Aurora tirou o celular do bolso.
— Nossa, já está ficando tarde. Bom, gente, acho que já vou indo. Encontro vocês amanhã às 16 horas, aqui mesmo.
— Eu também já vou indo. Aí, Mary, você mora longe daqui? Se quiser, a Hana pode te levar até sua casa, né, Hana?
Hana deu de ombros e sorriu leve.
— Tudo bem, eu posso levar você. Estou de moto mesmo, mas é melhor você ser segura.
Mary agradeceu com um aceno tímido.
— Valeu, Hana.
As quatro começaram a se despedir, enquanto Hana só observava. Aurora deu um abraço apertado em Mary.
— Foi um prazer te conhecer hoje. m*l posso esperar para ver o que vamos criar juntas. Até amanhã, Mary!
Enquanto Hana e Mary caminhavam até a moto, o céu já estava laranja e rosado. Mary lembrou-se de quando era criança, sempre vindo com os pais caminhar no fim do dia.
Mas logo voltou à realidade com a fala de Hana:
— Aí, Mary, pega o capacete. Parece que está no mundo da lua. Me fala o bairro onde você mora.
Mary pegou o capacete, um pouco envergonhada.
— Desculpa, só estava perdida em pensamentos. Eu moro no bairro Vila Isabel.
Enquanto Hana colocava o capacete, Mary tentou puxar assunto:
— Então, Hana, você e as meninas costumam vir muito à praia? — disse, curiosa.
— Não muito, só a Emma, quando quer procurar inspiração para escrever música. Eu prefiro ficar no meu quarto ouvindo música — disse Hana, ligando a moto.
Mary deu um sorriso leve e ajeitou o capacete, ainda sem saber onde colocar as mãos.
— É melhor você ser segura, se não quiser cair no chão. Pode segurar na alça de segurança da moto, mas se você cair, eu não me responsabilizo — disse Hana, despreocupada.
Mary sorriu discretamente e assentiu com a cabeça.
— Tudo bem, vou tentar não cair — disse, com uma risadinha discreta.
Hana acelerou a moto e, após alguns minutos, elas já estavam em frente a um pequeno prédio.
— É aqui? — perguntou Hana, olhando pelo retrovisor.
Mary assentiu.
— Sim, obrigada por me trazer, Hana — disse, agradecida.
— De nada. Mas não se acostuma, tá? Eu já vou indo, porque meus pais são meio rígidos com horário. Tchau! — disse Hana, ligando a moto.
Mary entrou no prédio e subiu as escadas lentamente. Ao chegar ao apartamento, tirou os sapatos e deitou-se no sofá.
Percebeu que tinha várias mensagens e ligações do seu namorado, Theo.
Mary decidiu ignorar as mensagens, mas o celular não parava de vibrar.
— Onde você está, Mary? Você some o dia inteiro!
— Está me ignorando? Melhor responder, senão acabamos hoje!
As palavras de Theo eram duras demais e fizeram os olhos de Mary encherem-se de lágrimas.
Theo era um namorado controlador e ciumento, gostava que Mary se humilhasse por ele, pois sabia que ela o amava.
Mary segurou o celular com força e, com o coração apertado, as lágrimas desceram pelo seu rosto.
Ela não aguentava aquele relacionamento tóxico, aquela pressão constante, mas não conseguia terminar com aquele sofrimento.
Deu um suspiro e desligou o celular.
Mary deitou no sofá, seus pensamentos a mil. Por um instante, a vontade era de sumir do mundo, desaparecer e nunca mais voltar.
Mas algo dentro dela a fazia não desistir.
Ela se levantou e caminhou até seu quarto, onde estava seu notebook — seu refúgio secreto.
Trabalhava escrevendo histórias, algo que nem Theo sabia.
Mary abriu o notebook com as mãos trêmulas. O brilho da tela iluminava seu rosto cansado.
Ela abriu um novo arquivo para uma nova história e ficou alguns segundos olhando para a tela, esperando que as palavras viessem sozinhas.
— E se eu escrevesse minha própria história? Sobre o que estou sentindo, sobre meus sentimentos — pensou.
Começou a digitar devagar, como se cada letra pesasse uma tonelada.
— Era um dia como outro qualquer, onde eu me escondia do mundo e de mim mesma. Eu me perguntava por que não podia ser eu mesma, guardava tudo para mim, fingia que estava bem, mas no fundo não estava.
As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Mary novamente, mas dessa vez não era só sofrimento, era também alívio. Parecia que ela tirava um fardo dos ombros.
Mas então...
Ela ouviu a campainha tocar alto e desesperadamente.
O coração de Mary congelou, seu estômago deu um nó e sua respiração ficou ofegante.
Logo depois, ouviu a voz inconfundível de Theo, ecoando pelos corredores do prédio:
— MARY, ABRA ESSA PORTA! EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ!
Mary se levantou assustada e ficou parada no meio do quarto, sem saber o que fazer.
Caminhou até a porta, hesitou alguns segundos antes de abrir, mas decidiu atender.
— Até que enfim abriu essa m***a dessa porta. Por que você não respondeu minhas mensagens? — disse Theo, enfurecido.
— Desculpa, eu não acordei bem hoje. Decidi caminhar um pouco na praia — respondeu Mary, com voz trêmula.
— Você foi com esse short, sua v***a! Você não tem um pingo de respeito — disse ele, segurando o braço dela com força.
— Me solta, você está me machucando! — quase gritou ela, de dor.
Os gritos de Theo ecoavam pelos corredores, e os vizinhos, assustados e preocupados, foram até o apartamento de Mary.
— Theo, por favor, me solta, você está me machucando! — ela implorava.
Theo, enfurecido, puxou o braço dela com mais força ainda.
— Você acha que pode sair assim, usando esse tipo de roupa? Você é minha Mary, minha namorada, não anda desse jeito! — disse, ainda mais furioso.
Naquele momento, a porta do apartamento de Mary foi aberta com força, e uma voz firme ecoou:
— Theo, solta ela agora! Se não, vou chamar a polícia! — era a voz do vizinho, um homem forte, acompanhado da esposa, com expressão de raiva.