O despertar das emoções

1379 Words
Naquele momento, duas garotas se aproximaram, interrompendo a conversa. — Aí, Emma! Adivinha? Consegui os instrumentos com meu amigo! — disse uma delas, de cabelo ondulado, olhos castanhos e sorriso radiante. Ao seu lado estava uma garota de cabelo preto liso, aparência asiática, com fones de ouvido no pescoço e um olhar observador. Emma se levantou animada. — Gente, essa é a Mary. Acabei de conhecê-la. Talvez ela possa nos ajudar com a música. As duas garotas sorriram para Mary. — Oi, eu sou Aurora, e essa que parece que está julgando até alma é a Hana. — Estamos formando um grupo musical… ou tentando, pelo menos — disse Aurora, empolgada. Mary sorriu timidamente e apertou a mão de Aurora. — Oi, prazer. Eu sou Mary — disse com voz calma, mas firme. — Emma comentou que você está aqui para buscar inspiração. Parece que deu certo. Emma riu. — Mais ou menos… Estou com um bloqueio criativo e não consigo encontrar as palavras certas — explicou. Hana cruzou os braços e olhou para Aurora. — Aí, eu não estou julgando ninguém, essa é minha cara — disse Hana, indignada. — Mas e aí, Mary? Você escreve? — perguntou ela, com voz séria. Mary hesitou por um segundo. — Às vezes… sim. Nada demais. Só alguns textos mesmo. Emma sorriu. — Isso é perfeito! Exatamente o que precisamos: letras com sentimentos reais, que toquem o público com nossa música. — E se a música fosse sobre reencontrar a si mesma e sobre liberdade? — disse Mary, voltando a falar firme. — Assim, o mar traz paz e conforto, e a maré leva embora tudo que machuca, né? A gente cria uma música com todos esses elementos. Emma levantou-se rapidamente, surpresa. — Isso é incrível! Exatamente o que eu estava precisando para escrever essa música. Hana se sentou ao lado, tirando os fones do pescoço. — Parece que encontramos a última que faltava para a nossa música. Ai, gente, acho que a Mary deveria entrar no nosso grupo. Mary sorriu timidamente, e seu coração encheu-se de alegria ao saber que viveria uma experiência nova, com novas pessoas e novas amizades. Emma e Aurora concordaram com a ideia de Hana. — Então está decidido! Mary vai entrar no nosso grupo. Agora só precisamos escrever a música e pensar em um nome para o grupo — disse Aurora, empolgada. Aurora tirou o celular do bolso. — Nossa, já está ficando tarde. Bom, gente, acho que já vou indo. Encontro vocês amanhã às 16 horas, aqui mesmo. — Eu também já vou indo. Aí, Mary, você mora longe daqui? Se quiser, a Hana pode te levar até sua casa, né, Hana? Hana deu de ombros e sorriu leve. — Tudo bem, eu posso levar você. Estou de moto mesmo, mas é melhor você ser segura. Mary agradeceu com um aceno tímido. — Valeu, Hana. As quatro começaram a se despedir, enquanto Hana só observava. Aurora deu um abraço apertado em Mary. — Foi um prazer te conhecer hoje. m*l posso esperar para ver o que vamos criar juntas. Até amanhã, Mary! Enquanto Hana e Mary caminhavam até a moto, o céu já estava laranja e rosado. Mary lembrou-se de quando era criança, sempre vindo com os pais caminhar no fim do dia. Mas logo voltou à realidade com a fala de Hana: — Aí, Mary, pega o capacete. Parece que está no mundo da lua. Me fala o bairro onde você mora. Mary pegou o capacete, um pouco envergonhada. — Desculpa, só estava perdida em pensamentos. Eu moro no bairro Vila Isabel. Enquanto Hana colocava o capacete, Mary tentou puxar assunto: — Então, Hana, você e as meninas costumam vir muito à praia? — disse, curiosa. — Não muito, só a Emma, quando quer procurar inspiração para escrever música. Eu prefiro ficar no meu quarto ouvindo música — disse Hana, ligando a moto. Mary deu um sorriso leve e ajeitou o capacete, ainda sem saber onde colocar as mãos. — É melhor você ser segura, se não quiser cair no chão. Pode segurar na alça de segurança da moto, mas se você cair, eu não me responsabilizo — disse Hana, despreocupada. Mary sorriu discretamente e assentiu com a cabeça. — Tudo bem, vou tentar não cair — disse, com uma risadinha discreta. Hana acelerou a moto e, após alguns minutos, elas já estavam em frente a um pequeno prédio. — É aqui? — perguntou Hana, olhando pelo retrovisor. Mary assentiu. — Sim, obrigada por me trazer, Hana — disse, agradecida. — De nada. Mas não se acostuma, tá? Eu já vou indo, porque meus pais são meio rígidos com horário. Tchau! — disse Hana, ligando a moto. Mary entrou no prédio e subiu as escadas lentamente. Ao chegar ao apartamento, tirou os sapatos e deitou-se no sofá. Percebeu que tinha várias mensagens e ligações do seu namorado, Theo. Mary decidiu ignorar as mensagens, mas o celular não parava de vibrar. — Onde você está, Mary? Você some o dia inteiro! — Está me ignorando? Melhor responder, senão acabamos hoje! As palavras de Theo eram duras demais e fizeram os olhos de Mary encherem-se de lágrimas. Theo era um namorado controlador e ciumento, gostava que Mary se humilhasse por ele, pois sabia que ela o amava. Mary segurou o celular com força e, com o coração apertado, as lágrimas desceram pelo seu rosto. Ela não aguentava aquele relacionamento tóxico, aquela pressão constante, mas não conseguia terminar com aquele sofrimento. Deu um suspiro e desligou o celular. Mary deitou no sofá, seus pensamentos a mil. Por um instante, a vontade era de sumir do mundo, desaparecer e nunca mais voltar. Mas algo dentro dela a fazia não desistir. Ela se levantou e caminhou até seu quarto, onde estava seu notebook — seu refúgio secreto. Trabalhava escrevendo histórias, algo que nem Theo sabia. Mary abriu o notebook com as mãos trêmulas. O brilho da tela iluminava seu rosto cansado. Ela abriu um novo arquivo para uma nova história e ficou alguns segundos olhando para a tela, esperando que as palavras viessem sozinhas. — E se eu escrevesse minha própria história? Sobre o que estou sentindo, sobre meus sentimentos — pensou. Começou a digitar devagar, como se cada letra pesasse uma tonelada. — Era um dia como outro qualquer, onde eu me escondia do mundo e de mim mesma. Eu me perguntava por que não podia ser eu mesma, guardava tudo para mim, fingia que estava bem, mas no fundo não estava. As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Mary novamente, mas dessa vez não era só sofrimento, era também alívio. Parecia que ela tirava um fardo dos ombros. Mas então... Ela ouviu a campainha tocar alto e desesperadamente. O coração de Mary congelou, seu estômago deu um nó e sua respiração ficou ofegante. Logo depois, ouviu a voz inconfundível de Theo, ecoando pelos corredores do prédio: — MARY, ABRA ESSA PORTA! EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ! Mary se levantou assustada e ficou parada no meio do quarto, sem saber o que fazer. Caminhou até a porta, hesitou alguns segundos antes de abrir, mas decidiu atender. — Até que enfim abriu essa m***a dessa porta. Por que você não respondeu minhas mensagens? — disse Theo, enfurecido. — Desculpa, eu não acordei bem hoje. Decidi caminhar um pouco na praia — respondeu Mary, com voz trêmula. — Você foi com esse short, sua v***a! Você não tem um pingo de respeito — disse ele, segurando o braço dela com força. — Me solta, você está me machucando! — quase gritou ela, de dor. Os gritos de Theo ecoavam pelos corredores, e os vizinhos, assustados e preocupados, foram até o apartamento de Mary. — Theo, por favor, me solta, você está me machucando! — ela implorava. Theo, enfurecido, puxou o braço dela com mais força ainda. — Você acha que pode sair assim, usando esse tipo de roupa? Você é minha Mary, minha namorada, não anda desse jeito! — disse, ainda mais furioso. Naquele momento, a porta do apartamento de Mary foi aberta com força, e uma voz firme ecoou: — Theo, solta ela agora! Se não, vou chamar a polícia! — era a voz do vizinho, um homem forte, acompanhado da esposa, com expressão de raiva.
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