Theo se assustou e soltou o braço de Mary com um empurrão brusco, fazendo-a cair no chão. Ele encarou o rosto dela com uma expressão de ódio, mas sabia que não podia causar mais problemas naquele momento.
Mary caiu sentada, ainda tremendo. A esposa do vizinho caminhou até ela e a ajudou a se levantar.
— Você está bem? — perguntou, olhando para os hematomas nos braços de Mary.
Mary balançou a cabeça, ainda com um pouco de medo.
— Sim, estou bem. É só um hematoma, logo passa.
Theo lançou um olhar cheio de raiva para Mary.
— Nossa conversa ainda não acabou, Mary. Eu vou voltar amanhã e nós vamos conversar direito — disse ele, batendo a porta ao sair.
Mary sentiu um misto de alívio e medo. A vizinha se apresentou.
— Eu me chamo Regina, sou a vizinha do lado, no 302. Se você precisar de qualquer coisa, pode me chamar, tá bom? Estamos aqui do lado, é só avisar.
Ainda com medo, Mary agradeceu aos vizinhos, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto mais uma vez, por estar permitindo que aquela situação acontecesse.
Ela sentou-se no sofá por alguns segundos, pensando em como tinha chegado àquela situação.
Theo era tão bom no começo… Por que ele se tornou esse monstro h******l? Será que eu fiz alguma coisa errada? — pensou.
Levantou-se devagar e caminhou até o banheiro, fechando a porta atrás de si. Entrou no chuveiro e respirou fundo, deixando a água cair pelo corpo na tentativa de acalmar o turbilhão de emoções que a consumia.
Depois do banho, vestiu um pijama e foi até a cozinha preparar algo para comer, pois não tinha se alimentado durante o dia.
Abriu a geladeira, pegou um ovo, leite e manteiga. Vasculhou o armário e encontrou farinha de trigo e açúcar em uma lata. Respirou fundo, pegou uma tigela, preparou a massa, fez panquecas e esquentou o leite.
Após o jantar, Mary sentiu seu corpo exausto — cada parte parecia pesar toneladas. Levantou-se lentamente da cadeira e caminhou até a cama.
Deitou-se, cansada mentalmente, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. As lágrimas que tentou segurar escaparam silenciosamente, molhando o travesseiro, até que finalmente caiu no sono.
Na manhã seguinte, acordou com a luz do sol batendo no rosto. Por um momento, esqueceu tudo que tinha acontecido na noite anterior, mas a dor no braço trouxe-a de volta à realidade.
Levantou-se devagar, foi até o banheiro, lavou o rosto e olhou para o hematoma no braço. A mancha roxa tinha se espalhado, formando uma grande área que parecia pulsar de dor.
Ela fitou o espelho por alguns segundos e percebeu que seus olhos estavam inchados por causa do choro da noite anterior. Decidiu preparar o café da manhã.
Enquanto mexia a comida, seu celular vibrava sobre a mesa. Mary pegou o aparelho e viu duas mensagens novas de Emma:
“Bom dia, Mary! Ontem foi um dia muito especial e hoje será ainda mais. Esperamos você no mesmo lugar para compor a música e decidir o nome do grupo, às 16 horas, tá?”
Mary respondeu:
“Oi, bom dia, Emma! Também gostei muito de ontem. Pode deixar, eu vou sim. A gente se encontra no mesmo lugar, né?”
Emma respondeu rapidamente:
“Sim, no mesmo lugar. Vou levar meu violão e o caderno. Estamos te esperando, tchau, Mary!”
Mary passou o resto da manhã tentando se manter ocupada. Entre uma música e outra, arrumava seu apartamento. Após algumas horas, tudo estava limpo: o chão brilhava, os livros estavam organizados, as almofadas alinhadas no sofá. Cada detalhe colocado no lugar parecia ajudar a afastar seus problemas.
Olhou para o relógio e percebeu que já era meio-dia. Foi até a cozinha, pegou alguns ingredientes na geladeira e decidiu preparar uma comida simples, mas reconfortante: arroz, feijão, frango e uma salada.
Mary sentou-se no sofá com o prato no colo e ligou a TV em sua série favorita, True Beauty. Assistia tentando esquecer os próprios problemas, mas aquela dor intensa a fazia lembrar de tudo o que havia acontecido naquela noite — a sensação de estar presa numa situação que só parecia piorar com o tempo.
Ainda assim, o convite para encontrar suas novas amizades fazia com que ela se sentisse melhor. Era como um brilho de esperança, uma voz suave dizendo que tudo ficaria bem.
Depois de comer, ela limpou os pratos e respirou fundo. Precisava ser forte e acreditar que tudo realmente ia ficar bem.