Entre luzes e Sombras

1050 Words
Mary caminhou até o seu quarto e escolheu uma blusa de manga longa para esconder os hematomas no braço. Não queria que as meninas perguntassem ou se preocupassem, porque não queria explicar tudo o que tinha acontecido... pelo menos, não agora. Pegou também um short jeans simples, calçou suas rasteirinhas e prendeu o cabelo em um coque solto. Olhou para o espelho, como se estivesse tentando se convencer de que estava tudo bem. Ao sair do quarto, pegou sua bolsa, onde estava o caderno no qual escrevia suas ideias, além do celular. Verificou se tinha tudo de que precisava. Ao olhar pela janela da sala, percebeu que o sol brilhava forte — o dia prometia ser quente. Suspirou. Sabia que o trajeto até a praia era longo a pé, e ela não estava disposta a enfrentá-lo naquela tarde. Pegou o celular, abriu o aplicativo de corridas e chamou um táxi. O motorista aceitou rapidamente e não demoraria a chegar. Mary ficou parada por alguns minutos, observando o movimento da rua. Alguns minutos depois, o táxi estacionou em frente ao portão. Ela entrou silenciosamente e deu um leve “boa tarde”. O motorista sorriu de forma simpática, mas ela não puxou assunto. Encostou a cabeça no vidro e ficou observando as casas passarem depressa do lado de fora, enquanto seus pensamentos corriam mais rápido que o próprio carro. Aos poucos, o mar se aproximava. Assim que desceu do táxi, foi recebida por uma brisa do mar que bagunçou seus cachos. O som das ondas e o cheiro de sal no ar a envolveram. O céu azul fazia seus olhos brilharem de novo. Havia poucas pessoas andando pela praia. Mary observou com atenção o movimento ao redor, procurando por algum rosto conhecido. Crianças corriam pela areia, casais caminhavam próximo ao mar, e um grupo de amigos ria, sentado sobre as cangas. Ela franziu a testa, começando a se perguntar se estava no lugar certo. Após alguns segundos, um garoto de traços asiáticos, cabelo escuro caindo sobre os olhos e sorriso tranquilo se aproximou, acenando levemente. — Oi, é a Mary, né? — perguntou ele, simpático. — Sim, sou eu — respondeu, um pouco surpresa. — Ah, que bom! Eu sou o Yuri. As meninas pediram para eu vir buscar você. — Ah, sim... Aconteceu alguma coisa com elas? — Meio que a Aurora acabou quebrando o teclado num acidente. Nada grave, mas elas estão tentando resolver isso lá na casa dela. Mary assentiu com um sorriso tímido, aliviada por finalmente encontrar alguém conhecido. — Obrigada… Eu estava procurando por elas — disse, ainda olhando ao redor, tentando entender tudo. Yuri riu de leve, jogando o cabelo escuro de lado. — Relaxa, elas estão ali perto. Vem, vou te levar lá, é bem aqui. Após alguns minutos andando, eles estavam próximos da casa de Aurora. Hana já os aguardava em frente ao portão. — A casa da Aurora é aqui perto, olha lá — disse Yuri — a Hana já está esperando por nós. Mary sorriu ao ver Hana acenando animada para ela, mas percebeu algo diferente no olhar da garota. Não era como o de Aurora e Emma. O sorriso não parecia caloroso. Era educado, mas ao mesmo tempo frio, como se estivesse ali por obrigação. — Finalmente... — disse Hana, sem muita empolgação. — Já estávamos esperando por vocês. Mary apenas sorriu, mas sentiu um leve desconforto crescendo por dentro. Aquela recepção parecia ter dois tons, e ela não sabia exatamente o motivo. — Oi, Mary! — chamou Aurora, vindo da porta, com um pano nas mãos. — Desculpa te receber assim. O teclado meio que... entrou em coma. — Ah, tudo bem — respondeu Mary, sorrindo. — Essas coisas acontecem mesmo. — Então vamos entrar, gente! — disse Aurora, animada. — Temos muita coisa pra fazer hoje. Elas entraram na casa, e Mary ficou encantada ao ver o ambiente acolhedor. — Nossa, sua casa é muito linda, Aurora — disse, olhando tudo com admiração e curiosidade. — Ah, muito obrigada — respondeu Aurora, sorrindo com orgulho. — Minha mãe ama decoração. Ela e meu pai deram muito duro pra conseguir tudo isso. Mary sorriu, ainda observando tudo. Havia livros empilhados em estantes, algumas plantas nos cantos da sala, quadros nas paredes. — Dá pra ver que sua mãe tem um ótimo gosto — comentou Mary, com brilho nos olhos. Naquele momento, Emma chegou com os cabos nas mãos e um sorriso no rosto. — Oi, Mary! Tudo bem? — disse ela, se aproximando para um abraço. — Oi, Emma. Estou bem sim. Estou muito animada por estar aqui — respondeu Mary, retribuindo o abraço com um sorriso. Emma colocou os cabos sobre a mesa de centro que estava no meio da sala. — Ai, Mary, espero que esteja se sentindo bem à vontade. A gente está muito feliz por você ter topado entrar no nosso grupo. — Sim... Estou me sentindo muito bem com vocês. Vocês são bem legais mesmo — respondeu Mary, um pouco tímida. Aurora se levantou para ajudar Yuri com os cabos, enquanto Hana puxava um banquinho para perto do teclado. — E aí, o teclado ainda está em coma? — perguntou Emma, olhando para Yuri. — É... mais ou menos — disse ele, com um leve suspiro. — Ele liga, mas o som está saindo bem estranho. Talvez sejam os cabos mesmo. Vou testar esses aqui. Hana se aproximou para ajudar, enquanto Emma afinava o violão. Mary ficou observando por um instante, absorvendo o ambiente. Tudo parecia diferente, como se ela estivesse entrando em um novo mundo. Foi quando Aurora apareceu com uma bandeja nas mãos, trazendo cinco copos altos. — Gente, trouxe vitamina de abacate que minha mãe fez. Alguém vai querer? — Eita, que delícia — disse Yuri, pegando um copo da bandeja. As outras meninas sorriram enquanto pegavam seus copos com cuidado. O cheiro era doce e familiar, como tardes de verão na infância. Mary sentou-se no sofá, bebendo sua vitamina. Estava gostosa, bem gelada. Ela ficou observando os outros ajeitando os instrumentos. Yuri ainda tentava resolver o problema no teclado, Hana mexia nos cabos, e Emma testava o violão. O clima estava tranquilo. Até que ouviu seu celular vibrar dentro da bolsa. Pegou-o e olhou para a tela. Theo ligando.
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