Capítulo 1
O Casamento de Amanda
Sentada no banco da penteadeira, admirando a caixinha de joias aberta, suspirei pensativa. Eu queria dar a Amanda uma peça, mas ela nunca gostou de usar joias; sem contar com os pequenos brincos de diamantes que seu pai deu a ela em um de seus aniversários. Talvez tenha sido o de quinze ou dezesseis anos.
Eu só usava os brincos de esmeralda cravejados que a Sra. Maia deu a mim e a pulseira que herdei da minha avó.
Ouvi Amanda cair na minha cama, eu me virei e disse: “Ah, pare de fazer drama! Seu pai vai ficar feliz em ver você usando-as.”
Com um suspiro pesado, ela respondeu:
“Ugh, eu odeio usar essas joias, parece que as coisas estão me mantando presa; como algemas.”
Fazendo uma careta para ela, assegurei: "Você é estranha."
Com uma risadinha, ela pulou da minha cama e sentou ao meu lado, "Ok, mamãe, o que você tem aí?"
Tirando o colar de diamantes e os brincos que Davi me deu quando nos casamos, respondi: “Estes aqui, o que acha?”.
"Oh meu Deus, eles são muito grandes. São enormes!" ela quase gritou, praticamente arrancando os brincos da minha mão.
"Você quer o anel que acompanha o conjunto?" Eu perguntei, puxando meu anel de noivado.
Assentindo, ela enfiou a mão na caixa de joias, questionando:
"O que é isso?"
Antes que eu pudesse controlar, ela pegou uma caixinha branca que deveria estar escondida. Parei por um momento, olhei para ela, chocada com o que ela tinha em suas mãos. O colar que Natan me deu. Era uma corrente de contas com um pingente de um coração celta com um pássaro empoleirado. Eu costumava retirá-lo e olhar para ele todas as noites, mas fazia anos que eu não tocava naquela caixinha.
Sacudindo-o, Amanda perguntou: — O que tem aqui? É algum tipo de segredo?”
Revirando os olhos, eu respondi:
“Oh meu Deus, Amanda! Não seja tão infantil. É apenas um colar.”
“Posso abrir?” ela perguntou, arqueando a sobrancelha e me dando um sorriso travesso.
Revirando meus olhos novamente, ignorei fingindo que não era grande coisa. Sorridente, ela se sentou na minha cama, parecendo incrivelmente satisfeita consigo mesma. Quando Amanda abriu a caixinha, parecia confusa. Olhou para mim e disse: "Eu já vi aqui isso antes."
"Onde?" Eu falei antes que ela esclarecesse:
"O coração".
Corando um pouco, ela explicou: “Mateus tem uma tatuagem. Seus irmãos o levaram para fazer quando ficamos noivos.”
Franzindo meus lábios, eu perguntei:
"Ainda fazem isso?"
Os homens da família de Natan, do lado materno, tatuavam um coração celta no lado esquerdo do peito quando ficaram noivos.
Ela disse:
“Anna disse que eles são um pouco diferentes, Mateus tem meu nome na tatuagem dele”.
Decidi que deveria apenas mudar de assunto, assegurei:
"Ok, eu realmente não quero pensar nele sem camisa com você."
Inspecionando cuidadosamente meu colar, ela murmurou:
"Eu já lhe disse que estamos esperando o momento certo."
Estendendo minha mão para pegar o colar, eu disse: “Certo. Agora, devolva aqui; temos muito o que fazer”.
Colocou de volta na caixa e me entregou.
Com um suspiro alto, ela falou: "Você é o pássaro!"
Tentando fingir que ela estava apenas sendo louca, eu disse: “O quê? Não seja boba, menina!”
Pegando novamente a caixa de minhas mãos, ela diz:
“Bianca vai ficar impressionada! É um pássaros! Você é o pássaro do Tio Natan! Não acredito que nunca desconfiamos disso.”
"De onde você tirou essa história? Eu tomei a caixinha dela, colocando de volta na minha caixa de joias.
“Bianca e eu passamos anos tentando descobrir para quem era a tatuagem do tio Natan. Nós nunca vimos.”, ela informou antes de dizer: “O tio Natan nunca se casou e você também não”.
“Eu fui casada com seu pai, Amanda. Lembra disso?”.
Frustrada por eu não reconhecer aquilo que já estava muito claro, Amanda continuou:
“Mamãe”.
Com um suspiro pesado, eu cedi:
“Ok, ok! Mas não é como você está pensando. Nós nunca fomos noivos e só namoramos por alguma poucas semanas quando ainda estávamos no ensino médio. Ele é seu padrinho, Amanda. Os Maia são a coisa mais próxima de família que temos. Não é apenas sobre amor, é também sobre lealdade, amizade e consideração.”
Desapontada, Amanda continuou: “Quando eu era criança, cheguei a desejar que o tio Natan fosse meu pai”.
Sentei-me ao lado dela, coloquei meu braço em volta de seus ombros e disse:
“Seu pai te ama muito, querida!”.
Deitando sua cabeça no meu ombro, ela disse: “Eu sei. Só que...” Parando-a, antes de começar a chorar, eu disse: “Pense assim, se fosse esse o caso, você estaria se casando com seu primo, e isso seria muito nojento”.
Amanda riu e me abraçou antes de sair correndo para seu quarto.
***
Depois de muitas tentativas, finalmente consegui colocar Amanda no vestido de noiva que a Sra. Maia fez para ela. Ela não parava nunca e se distraía com tudo ao redor. Não que houvesse um problema com isso; por algum motivo Amanda gostava de esperar até o último minuto para fazer tudo.
O vestido era lindo! De cetim branco, tomara que caia e bem longo. Sra. Maia foi gentil e disse que não deveríamos nos preocupar com nada.
Uma vez que ela estava pronta, fui para o meu quarto me arrumar também. De pé na frente do espelho olhando meu vestido, achei engraçado usar a mesma cor rosa claro que usei no dia em que me casei com o pai de Amanda. Mesmo que hoje ele seja bem mais velho que quando casamos, amo Davi muito mais do que o amava naquela época.
Cheguei na cozinha e vi Amanda, debruçada sobre a mesa, com a boca cheia de bolo. Horrorizada com aquela cena, perguntei:
"O que você está fazendo?"
Com a boca cheia de bolo, ela disse: “Estava com muita fome”.
Meneei a cabeça para ela, suspirei, dizendo:
“Por favor, não vá sujar o seu vestido. E calce seus sapatos, precisamos ir. Você vai se atrasar para o seu próprio casamento.”
Ela assentiu. Terminou de limpar seu o rosto assim que o motorista chegou.
***
Davi insistiu em usar limusine e motorista para o casamento de sua filha. Era muito mais elegante, mas eu ainda não estava confortável com isso. O primo de Natan, Getúlio, tinha muito dinheiro, então o casamento seria ao ar livre. Não foi nada fácil, mas a mãe de Mateus, Anna, concordou em deixar o salão aberto para que pudéssemos realizar a recepção lá.
O pai de Mateus, Gustavo, era dono de um piano bar. Ele faleceu repentinamente cerca de seis meses atrás e nenhum dos filhos queria assumir o negócio. Tanto Gustavo quanto o piano bar ocupavam um lugar especial em nossos corações.
Enquanto estávamos sentados no carro a caminho do casamento, notei Amanda sentada à minha frente, parecendo que ela não se importava com nada, nem com o mundo.
"Está nervosa?" Perguntei, lembrando como me senti no dia do meu casamento.
Com um olhar estranho, ela me respondeu com uma pergunta:
"Por que estaria?"
Dando de ombros, respondi: “Ah, não sei... porque você vai se casar?”.
Olhando para mim, como se eu fosse boba, ela garantiu: “Ele é o amor da minha vida, mamãe”.
Assenti para ela e sorri.
***