Naiara
— Naizinha — Marcos me grita.
— Para de gritar, embuste! — grito de volta.
— Ótima maneira para fazer as pessoas pararem de gritar — Nicolas debocha.
— Cala boca — respondo e abro o portão — Pode ir na frente, já tô indo — ele concorda e entra. Vou até ele e o abraço — Fala, João gasolina.
— Já encontrei minha Maria — pisca.
— Iludido mesmo — me encosto na moto — Bora entrar — insinuo com a cabeça.
— Teu pai tá em casa, vou o c*****o — estala a língua.
— Medo dele? — faço bico.
— Tu conhece teu pai, Naiara — reviro os olhos e desvio o olhar — Conhece tão bem, que até saiu de casa.
— Já entendi, Marcos — me viro pra entrar, mas ele me puxa pelo pulso.
— Calma aí — passa a mão no meu rosto — Vai dormir aí?
— Tenho que pagar o aluguel hoje, então vou pra casa daqui a pouco — concorda.
— Daqui à duas horas?
— Mais ou menos.
— Vou buzinar aqui e te levo pra casa. Ok?
— Tá bom — lhe dou um abraço e entro. Fecho o portão e entro na ponta do pé na cozinha — Coroa! — grito a abraçando por trás.
— Naiara com sua mania de dar susto — me bate.
— Também te amo — lhe dou um beijo no rosto.
— Se assustar fosse um emprego, ainda estaria bom — meu pai fala, e só agora percebi sua presença.
— Bença, pai — falo sem dar muita importância, e ele acena com a cabeça.
— Deus te abençoe — volta a comer.
— Ainda não tenho o dinheiro do aluguel, filha — minha mãe fala.
— Sem problemas — vou até a geladeira e abro — Já arrumei o dinheiro — pego um danone e tomo.
— Como, Naiara? — sento na pia — Desce da minha pia, filha da p**a — me bate.
— Calma, mãe — desço da pia e passo o dedo no fundo do danone e boto na boca — O importante é que consegui o dinheiro.
— Tu não venha se meter em encrenca, garota!
— Deve tá fazendo coisa errada — meu pai fala.
— Já foi ver o jornal de hoje? Vai assistir o noticiário c*****o — falo já sem muita paciência.
— Naiara... — minha mãe me repreende.
— Enche o saco — murmuro e vou até o quarto do Nic — O o****o — saí entrando.
— Bater pra que, né — debocha, deitado na sua cama.
— Nessa casa não se tem privacidade, entenda isso.
— Nem me lembra — rimos lembrando de quando eu morava aqui — Venha mimar seu irmão — bate na cama. Fecho a porta do quarto e sento na beirada da cama dele.
Tirei minha mochila das costas e joguei na cama. Cacei o fundo falso da mochila e tirei o dinheiro.
— Isso é seu — lhe entrego 200 reais.
— Só conseguiu vender isso? — reclama — Fraquinha, Nai.
— Eu sou uma ótima vendedora, meu bem — tiro o meu bolinho e lhe mostro.
— Filha da p**a que articula bem — rir — Aqui temos uma vendedora de ouro, meu amigos! — ergue os braços — Quando tem nesse bolinho? — tenta pegar, mas bato em sua mão.
— 1.800 — pisco.
— Qual foi a conta por ti?
— 50 em cada pacotinho — dou de ombros — Vendi uns 40 e pimba!
— Tu não acha que mereço mais que isso, não?
— Você vendendo isso na favela, vende por 5 cada um e ganha o mesmo que estou te pagando.
— Me pagando? — aponta pra si desacreditado.
— Exatamente.
— Olha só — rir — Eu devia ter te cobrado mais — se levanta e vai até a sapateira.
— Você disse pra eu tirar meu lucro em cima das vendas.
— E sou tirar muito bem — fala enquanto esconde o dinheiro em um buraco falso da sapateira.
— Tô muito cansada — bocejo.
— Deita lá na tua cama — começa a procurar algo na gaveta.
— Minha mãe deve ter arrumado tudo bonitinho — sorrio quase fechando os olhos de tanto sono.
— Por isso mesmo — me joga algo e caí na minha barriga — Tu esqueceu nas tuas coisas, quase que mãe pega.
Vejo ser a minha latinha com baseados dentro e sorrio — Como você sabia que estava lá?
— Talvez eu tenha ido mexer nas suas coisas? Talvez — dá de ombros — Mas vamos lembrar que te salvei dessa — tenho que concordar .
Minha mãe bem sabe tudo que fazemos. Ela não é de acordo, mas também não escondemos nada dela. Assim, evitamos fofocas do povo, e ela sempre sabendo em que os filhos estão se metendo.
— Eu tenho que voltar pra boca — fala vestindo uma camisa — Quer que eu te leve?
— Marcos vai vir me buscar daqui umas duas horas — bocejo.
— Dorme aí mesmo então — fazemos um toque e ele saí do quarto. Coloco meu celular pra despertar e descansei um pouco.
- Nai... - me balançam.
- Deixa eu dormir mais um pouco - viro para o outro canto.
- Marquinhos está te esperando pra te levar pra casa, filha - passa a mão no meu cabelo.
- Tô cansadona - sento na cama e bocejo.
- Vai descansar melhor em casa, amor - calço meu tênis, boto a mochila nas costas e dou um abraço nela.
- Bença mãe - beijo sua cabeça.
- Deus te abençoe - bate na minha b***a - Se despede do teu pai - faço ouvido de mercador e vou até o portão e fecho.
- Demorou, Bela Adormecida - reclama. Prendo meu cabelo em um coque alto e bocejo outra vez - Olha a preguiça.
- Nem fala... - estico meu corpo.
- Tá toda babada - faz momice e rir de mim.
- Para - bato nele e limpo minha boca - Se eu subir na moto, tenho certeza que caio.
- Ainda bem que vamos de carro, né - pega na minha mão e me puxa pra perto dele.
- Já disse que às vezes você é um anjo na minha vida? - estreito os olhos.
- Sempre - me dá um selinho - Quer comer alguma coisa antes de ir pra casa? - concordo.
- Tô cheia de fome - reclamo - Bora comer na tua casa mesmo.
- Na minha? - concordo - Tem tanta lanchonete por aí, garota.
- Tô afim de um Ifood enquanto estou deitada. Nada de sentar em barraquinha ou Mc.
- Você trocando o banquinho do Mc por Ifood ,é porque o bagulho tá sério - ri - Quero ficar subindo e descendo com carro não, Nai.
- Deixa o carro aqui mesmo, é só atravessar a rua mesmo.
- Vamos lembrar da ladeira.
- É pouca coisa, para de reclamar - puxo ele pra casa dele. Subimos o último pedaço da ladeira, Marcos destrancou a porta e entramos. Me joguei logo no sofá.
- Folgada é pouco - se joga no outro sofá.
- Eu já sou de casa, bebê - levanto - Cadê a tia?
- Coroa tá no trabalho - resmungo um 'hm' e vou até o quarto dele - Vai querer o quê? - grita da sala.
- McDonald's - grito de volta - O de sempre - vou até a cômoda dele e abro na gaveta de blusas, pego uma verde que eu já estava de olho tem séculos.
- Vai querer qual bebida? - chega na porta do quarto e pergunta.
- Fanta como sempre - olho pra ele e coloco a blusa ma frente do meu corpo - Vai ficar perfeito em mim, fala tu.
- Só vem aqui em casa pra comer e roubar minhas camisas - rir.
- Venho pra outras coisas também... - me aproximo dele e cruzo meus braços em seu pescoço.
- Sei disso... - morde o lóbulo da minha orelha - Saudades desse corpinho - desce as mãos até a minha b***a e aperta com força. Te falar, dei um gemidinho querendo mais contato.
- Vai pedir a minha comida, seu tarado - o afasto de mim.
- Acabou com minhas expectativas - brinca e sai dali.