Naiara
Marcos pega na minha mão e me arrasta até a sua moto. Subo na garupa, fixo melhor meus sapatos e Marcos vai com toda velocidade.
— Aonde está me levando? — Questiono enquanto reconheço a rua. Vejo seu sorrisinho brotar no retrovisor e balanço a cabeça em negação — Só apronta — Falo alto por conta do movimento e ele levanta os ombros.
— Chegamos — Fala assim que encosta a moto em uma calçada e descemos da moto.
— O que você quer dessa vez, Marcos? — Cruzo os braços em frente as portas do shopping.
— Te alimentar — Beija minha cabeça — Vem — Me puxa até o Parmê. Me julgue, mas troco qualquer refeição por pizza. E disso o Marcos sabe bem.
— Se pensa que vai me comprar com comida... — Aponto o garfo em sua direção enquanto termino de mastigar.
— Eu ganhei — Sorrir convencido e dou de ombros.
— Agora fala sério, Marcos — Me ajeito no assento.
— Só queria te trazer pra comer antes de ir trabalhar, Nai — Arqueo a sobrancelha — Sério — Concordo com a cabeça.
Nos enchemos de bastante pizza e sorvete. Marcos me levou até o trabalho e me despeço dele com um abraço, mesmo ele insistindo por um beijo.
— Não vai me dar um beijinho, Nai? — Bato em sua testa — Crueldade com um nenê desses — Estala a língua com divertimento.
— Nenê enviado pelo capeta, só se for — Rimos.
— Se precisar, não pense duas vezes em me ligar — Pisca e sorrio — Tchau — Me abraça e sobe na moto. Entro pelos fundos na lanchonete e já vejo a loira aguada me fuzilar com o olhar.
— Acha bonito ficar de pegação na hora de trabalho, Naiara? — Começa a me atacar.
— Boa tarde, gerente minha que tanto amo — Sorrio forçada com ironía na voz — Cheguei dez minutos antes. Então não estava em hora de trabalho, e mesmo se estivesse, você não tem nada haver com a minha vida — Pisco pra mesma que fica em silêncio. Troco de blusa, visto meu avental e vou pro balcão ajudar a outra funcionária.
— Naiara — Milena me chama e a olho — Pode me ajudar?
— Manda — Sorrio.
— Atende aquele cara por mim? — Aponta pra um rosto meio familiar com corte baixo.
— Você recusando homem? Algo de estranho tem — Brinco com ela que faz momice — Eu atendo — Me abraça e agradece. Caminho até a mesa do mesmo e tiro meu bloquinho pra fora — Boa tarde. Vai querer alguma coisa?
— Se estou aqui, óbvio que irei querer algo — Suspiro bem fundo. Calma, Naiara. Você só tem esse emprego.
— Entendi. O que vai querer? — Forço um enorme sorriso.
— Porção de batata da grande e uma coca — Anoto.
— Mais alguma coisa? — Me olha com desdém — Entendi — Pisco e saio na maior pressa entregando o pedido.
— Como foi? — Milena me pergunta.
— Tá falando sério? Qual é a desse cara?
— Ele é um cliente péssimo.
— Agora que notou isso?
— Mas é um gostoso do c*****o que eu sento e ninguém me tira.
— Um ignorante desse, não sei quem é a doida de sair com ele — Aponto.
— Muitas pagam p*u pro gostoso do Caio, Nai.
— Tem que ter muita coragem. Ele é um ignorante desprezível.
— Estilo badboy americano, que garota não quer? Ele parece ser agressivo, imagina na cama — Rir maliciosa e balanço a cabeça em negação. Pego o pedido assim que fica pronto e levo até a mesa do mesmo e saio sem dizer uma palavra.
Termino o meu turno, troco a roupa e me despeço de todos. Ajeito minha mochila nas costas e saio pelos fundos. Vejo um carro estacionado e o dono dele sentado no capô fumando. Ignoro o cliente de mais cedo e passo direto até sentir uma mão gelada no meu braço.
— Aonde está indo? — Me pergunta e arqueo uma sobrancelha.
— Deve estar me confundindo — Ele rir e me solta — Não tem graça — Apresso meus passos e sou puxada pra seus braços — O que você quer? — Me solto dele.
— Eu vi como me olhou. Você se interessou e resolvi te dar essa oportunidade — Sorrir convencido.
— Outras meninas te querem, e eu não faço parte do grupo dessas malucas.
— Você não quer ficar comigo? — n**o com a cabeça — É o que vamos ver — Me da as costas e sigo meu caminho sem entender nada.
Naiara
Acordo me arrastando, tomo um banho gelado pra tentar despertar, visto uma calça jeans preta e um cropped qualquer. Arrumo a mochila no ombro enquanto prendo meu cabelo em um coque desarrumado. Corro pelas escadas e na recepção dou de cara com quem menos queria.
— Já arrumou o dinheiro, Naiara?
— Bom dia pra senhora também. Mais tarde arrumo o seu dinheiro.
— Se não me pagar hoje, é rua na certa. Tudo que te pertence, estará fora daqui.
— Tá,tá entendi — saio do condomínio e vou para o ponto pegar minha Mercedes-Benz. Aturo como qualquer outro dia com a lotação com brinde de cheirinho de cachorro molhado. Acho que até os cachorros cheiram melhor do que trabalhador às sete horas da manhã. Desço no ponto da faculdade e ando até a entrada.
— Garota, vai aonde? — me puxa pelo braço e fecho a cara.
— O que tá fazendo aqui, Nicolas? Devia estar na escola.
— Escola o c*****o. Bandido não vai pra escola — estala a língua.
— Bandido sabe ler e escrever. Mas no teu caso é bandido burro mesmo.
— Me ajuda com umas coisas ai.
— O que ganho em troca?
— Quer verde ou branco? — sorrir de canto.
— Dessa vez eu quero o branco — ele me entrega disfarçadamente o pino — O que tenho que fazer pra cumprir nosso acordo?
— Vende vinte pra mim e tá feito — me entrega uma sacola preta. A abro vendo ser drogas e olho pra ele.
— Tá querendo me fuder, Nicolas? — me aproximo dele e arregalo os olhos — Se eu sou pega vendendo essas porras aqui...
— Dá em nada, Naiara. Nessa faculdade está cheio de filhinhos de papais que pagam pra usar essas porras. Você vende, me da o dinheiro e tudo fica tilindo.
— Por que não vende na favela?
— Tenho que vender isso pra pagar uma dívida do outro lado.
— Só se envolve em furadas. Por que eu te ajudo mesmo?
— Porque você ama demais o seu irmãozinho — pisca e balanço a cabeça em negação.
— Por quanto?
— Iria por dez, mas pode aumentar pra você tirar um lucro em cima.
— Melhor irmão do mundo — o abraço — Na hora da saída vem aqui?
— Claro. Te deixo me passar a perna não, vagabunda — brinca e lhe dou um soco no ombro — Bruta do c*****o.
— Se eu for pega, enfio essa p***a no teu cu — o ameaço.
— Tu é esperta. Não vai cair no bueiro — beija minha testa — Vou indo, tenho muito o que fazer.
— Fumar maconha e jogar vídeo game é muita coisa — debocho e Nicolas fecha a cara virando as costas pra mim — Também te amo, Bambi — grito e ele vira pra me dar dedo do meio e segue seu caminho. Rio e entro na faculdade.
Como vou fazer pra vender sem ser descoberta?