Naiara
Guardei as drogas na mochila, antes de entrar.
— Bom dia — Cassia aparece do nada, me fazendo se assustar.
— Eu sou cardíaca — bato nela.
— O que tá escondendo? — suspiro e desvio o olhar — Sabe que não pode mentir pra mim, né? — pior de tudo, é que ela tem razão.
— Te odeio — olho pra ela — Eu tenho que vender algumas drogas pro Nic.
— O Bambi vai te meter em roubada. Pula fora enquanto dá tempo, Naiara.
— Eu posso tirar lucro em cima disso, Ca. Eu preciso pagar o aluguel hoje ou sou expulsa.
— Por que não volta a morar com seus pais?
— Eu não tenho mais paciência pra aturar o meu pai. Agora então que ele só fica em casa reclamando — bufo e fomos andando pra dentro do campus — E outra também, que é muito longe daqui. Você acorda muito cedo, eu já odeio isso.
— Acordar cedo é muito bom — suspira fundo.
— Você não é uma jovem normal — falo.
— Acredita que Rafael ficou falando de ti o dia inteiro ontem — reviro os olhos — Nem adianta revirar os olhos. Até hoje não entendo o porquê de vocês terem terminado.
— Já viu bem de quem estamos falando? Seu irmão, Rafael Monteiro — ela dá de ombros — Ele é meio controlador, e eu não aceito ser controlada por ninguém.
— Vocês pareciam muito gostar um do outro.
— E realmente eu gostava. Eu gostava muito do seu irmão. Só que, você sabe que a última coisa que eu aceito, é ser mandada por uma pessoa que não seja a minha mãe.
— Isso é — concorda.
— Informa esses maconheiros por mim — falo. Nos despedimos e cada uma foi pra sua sala. Sentei bem atrás do Lucas, que estava rindo como um i****a com os amigos — Luquinhas... — cantarolo no seu ouvido.
— Qual é, Nai... — ele me olha de soslaio — Sabe que a minha namorada não me quer te ver contigo — fala baixinho.
— Se liga, porque eu tô pouco me fudendo. Eu só quero te avisar, como a boa colega de beck que sou — ele me olha com cara de deboche — Te trouxe da boa — pisco pra ele. Na hora o i****a bota um sorriso na cara e umedece os lábios — E aí?
— Intervalo das dez, perto da casa abandonada.
— Aquela que tem lá nos fundos do campus? — concorda — Aquela em que... — ele coloca a mão na minha boca, e abafo meu riso nela.
— Você sabe bem onde, Naiara — balanço a cabeça em positivo — Vou avisar — ele vira pra frente e continua a rir feito i****a.
Em uma faculdade divida bastante em classes, - parece até o fundamental essa atitude, né - eu sou a bolsista. Então, muitos não trocam palavra comigo. Sobre a questão da venda, eu já vendi fora da faculdade, e meu cliente fixo é o Lucas. Eu até posso dizer que... ele é fixo demais.
Assim que deu o intervalo das dez, assim como o Lucas já tinha previsto que o professor iria faltar, eu catei minhas coisas e andei bem rápido para os fundos do campus. Mandei mensagem pra Cassia, que disse que iria pra lá também. Entrei na casinha, empurrei a porta emperrada e a encostei, subi as escadas de madeira quase completamente comida, me sentei no parapeito de uma janela que tinha ali que dá uma visão de lá debaixo.
— Toc toc — Lucas bate no batente como se fosse uma porta.
— Bem-vindo ao meu comércio — sorrio — O que o senhor precoce deseja? — toco na ferida dele.
— Isso só foi uma vez — aponta o dedo pra mim.
— Se é o que você diz... — dou de ombros.
— Naiara... — se aproxima de mim e engulo a seco. Ele sabe que ainda mexe comigo — O que trouxe? — senta ao meu lado.
— Tem só a coca dessa vez.
— Tem nada injetável? — n**o.
— Não dessa vez.
— E se... — ele me puxa pela cintura pra mais perto dele — O que você acha? — aproxima a boca da minha e quase perco o fôlego.
— Você namora, Lucas — o afasto de mim.
— Você sabe que é só pra manter a aparência pra minha família. A própria sabe que é por isso que estou com ela.
— Pra que manter a aparência pra família? Você deveria ficar com alguém que você gosta, que seja recíproco e...
— Está falando da gente? — ele franze o cenho.
— Não mesmo — falo a verdade — Eu gosto... ou costumava a gostar, do que tínhamos. Eu gostava de ficar com você vez ou outra, mas não a ponto de te amar e ficarmos juntos.
— Me magoou — bota a mão no peito e rimos.
— Só... pensa bem nisso, ok? Não vale a pena se torturar do que não gosta pra manter aparência.
— Pode deixar — sorrir — Um abraço ao menos? — concordo e ele me abraça — Tu é f**a, Nai — beija minha cabeça.
— Vamos logo, que eu quero ver meus clientes subirem — o solto. Pego três saquinhos e entrego pra ele que me dá cinquenta reais — Que isso?
— Não é só isso?
— Você tem bem mais, Lucas. É cinquenta cada um.
— Tá trabalhando bem, hein, safada — me entrega mais cem — Caso queira gorjeta, já sabe — levanta.
— Aprende nunca — falo, e ele rir saindo dali.
— Cheguei e espero que você não tenha ficado com ele — n**o — Bom mesmo. Já montei a fila na escada.
— E tem fila?
— Não muito grande, mas tem dez cabeças.
— Não é o suficiente. Preciso vender vinte e cinco no mínimo.
— Quanto Bambi te pediu e cobrou?
— Dez em vinte.
— Eles não vão comprar um pacote só, Naiara.
— Eu preciso de mais, Cassia. Eu preciso pagar o meu aluguel hoje ou vou embora.
— Vou ver o que posso fazer — concordo. Cassia foi mandando o povo entrar e tudo seguiu bem rapidinho. Consegui vender vinte na certa, mas ainda preciso do lucro extra.
— Cassia... — a chamo.
— Pode deixar — já entende — Robson — chama o garoto, que foi nosso último cliente.
— Não me esquece, né, Cassia — abraça ela de lado — Manda.
— Me faz um favorzinho...