O vento frio da madrugada londrina acertou o rosto de Harry quando ele abriu a porta do carro. Brooks ainda ria de alguma piada m*l contada, meio bêbado, mas Harry estava distante demais para acompanhar.
— Vai direto pra casa, seu i****a, — Brooks avisou, dando dois tapinhas no teto do carro. — E pensa com calma antes de fazer qualquer loucura envolvendo garçonetes gostosas.
Harry apenas assentiu, ligando o motor.
Quando Brooks se afastou pela calçada, ele finalmente se permitiu respirar fundo.
O silêncio dentro do carro era confortável. Pela primeira vez na noite, o peso da discussão com seu pai parecia… menor. Dilúido por outra coisa que não deveria estar ocupando tanto espaço na sua mente, mas estava.
A imagem da garçonete.
Da mulher de olhos castanhos iluminados pelo brilho do bar, do sotaque musical escapando de sua boca quando ela resmungou aquela palavra estranha. Ele nunca tinha ouvido alguém falar daquele jeito ou se ouviu não deu atenção.
Enquanto dirigia pelas ruas quase vazias, a mente dele voltava para detalhes que normalmente nem notaria: o sorriso fácil dela, a forma como ela conversava com os clientes, a leveza com que caminhava apesar de parecer exausta.O vestido floral quando ela saiu do bar, o celular preso entre o ombro e a orelha, a voz suave falando naquele idioma desconhecido…
Harry esfregou a mandíbula com força.
— Uma noiva falsa… — ele murmurou para si mesmo, revirando a ideia na cabeça.
Brooks havia dito aquilo como piada.
Mas para Harry, não era piada nenhuma.
Se ele tivesse alguém ao lado alguém convincente, carismática, que seu pai jamais imaginaria como parte de um plano ,Joseph ficaria sem argumentos. E ele poderia finalmente assumir a empresa do jeito que queria, sem ser controlado, sem ser julgado como um adolescente.
Ele estacionou em frente ao próprio prédio, mas não saiu do carro imediatamente.
Aquele plano era absurdo.
Impulsivo.
Ridículo, até.
Mas… fazia sentido.
E por algum motivo, a primeira imagem que surgia em sua mente quando pensava em “alguém convincente” era exatamente ela.
— Quem é você? — ele murmurou, lembrando-se do sorriso dela ao passar, já sem uniforme.
Harry inclinou a cabeça para trás no banco, fechando os olhos.
Talvez fosse o álcool.
Talvez fosse o cansaço.
Talvez fosse o desespero.
Ou talvez… fosse destino.
E ele percebeu que, se a visse de novo, faria algo completamente insano:
Perguntaria seu nome.
E faria a proposta que nenhum homem em sã consciência faria a uma desconhecida.
— Noiva falsa… — ele repetiu outra vez, com um meio sorriso cansado.
E, pela primeira vez desde a discussão com o pai, sentiu o peso diminuir.
Como se aquela ideia por mais louca que fosse desse a ele uma saída. Uma chance. Um plano.
Algo que seu pai jamais desconfiaria