Harry respirou fundo, organizando as palavras na mente.
Mas antes que pudesse falar, Yara levantou o olhar para ele com expectativa e isso o deixou mais nervoso do que deveria.
— Yara… — começou — eu tenho uma proposta pra você.
Ela congelou.
O sorriso sumiu.
Os olhos se arregalaram.
A postura mudou de leve.
E antes que Harry entendesse o que estava acontecendo, ela cruzou os braços, franzindo o cenho.
— Ah, não. Não mesmo. — ela o cortou. — Se você veio aqui achando que eu vou aceitar esse tipo de coisa só porque eu trabalho num bar, você tá muito enganado, tá?
Harry ficou boquiaberto, incrédulo por meio segundo.
Então… riu.
Não conseguiu evitar. A indignação dela era tão viva, tão espontânea, tão… brasileira.
— Você tá rindo? Tá louco? — ela perguntou, ofendida.
— Não, não! — ele levantou as mãos rapidamente, contendo o riso. — Não é isso que você está pensando. De jeito nenhum.
— Aham, claro. — ela resmungou em português, algo como “até parece”, que Harry obviamente não entendeu, mas achou adorável.
Ele se inclinou um pouco para frente, tentando recuperar o controle da situação.
— Yara… eu prometo, não é nada impróprio.
É… uma proposta de trabalho.
Ela piscou.
Duas vezes.
— Trabalho? — repetiu, claramente desconfiada. — Eu trabalho num bar, Harry. Que tipo de trabalho você acha que eu posso fazer fora daqui?
Ele hesitou por um instante, escolhendo as palavras com cuidado.
— Como… atriz, talvez.
Yara o encarou como se ele tivesse acabado de dizer que queria contratá-la para pilotar um foguete.
— Atriz? Eu?
Ela riu um riso curto, incrédulo, nervoso. — Moço, você bebeu o quê hoje hein ?
Harry sustentou o olhar dela, sério.
— Eu não estou brincando.
Ela continuou perdida, sem conseguir entender para onde aquela conversa estava indo.
No rosto dela, ele viu confusão, receio… e curiosidade.
Harry percebeu que, se continuasse ali, no meio da rua, do nada, explicando aquilo… só pioraria.
Então respirou fundo e tentou outra abordagem.
— Yara… deixa eu explicar tudo direitinho.
Não agora, não aqui, não no seu intervalo.
Eu gostaria de te convidar para jantar esta noite.
Para conversarmos com calma.
Para eu te apresentar a proposta completa.
Yara arregalou ainda mais os olhos.
— Jantar? — ela repetiu, desconfiada. — Você quer que eu saia pra jantar com você e ainda quer que eu acredite que é algo sério?
— Sim.
Prometo que não é… da forma que você está imaginando. — acrescentou rapidamente, percebendo o olhar dela. — É apenas para conversarmos sobre trabalho. Eu prometo.
Ela mordiscou o lábio inferior, claramente dividida entre dizer sim ou sair correndo.
— Eu não sei… — murmurou. — Eu nem te conheço.
Harry assentiu, compreensivo.
— E eu entendo isso.
Mas eu posso garantir que você não está em perigo, nem sendo enganada.
É só uma conversa.
Se você não gostar do que ouvir, você levanta e vai embora. Simples assim.
Yara baixou o olhar, pensativa.
Seus dedos brincavam com o guardanapo vazio.
Ela precisava de dinheiro.
Precisava desesperadamente.
Mas aquilo tudo era estranho demais.
Então ela voltou a encará-lo.
— Que tipo de “atriz”… eu teria que ser então?
A pergunta deixou claro que ela ainda desconfiava e com razão.
Harry inspirou fundo, firme.
— A atriz… que interpretaria minha noiva.
Yara empalideceu.
Harry manteve a voz baixa:
— Só te peço o jantar. Para eu explicar. Nada mais.
O coração dela bateu forte.
E, sem perceber, ela começou a considerar.
Yara piscou, ainda meio desconfiada, mas pegou o celular do bolso do avental. A tela estava toda rachada, mas funcionava e era o que importava.
— Tá… fala aí o número. — disse ela, franzindo o cenho, pronta para anotar, mas ainda olhando para ele como quem espera um golpe.
Harry sorriu, achando aquela expressão deliciosamente genuína.
— Anota: +44… — ele falou devagar, observando ela digitar com cuidado. — Me manda mensagem se decidir aceitar o jantar.
Yara ergueu os olhos na mesma hora.
— Mensagem? — ela apertou os olhos, de novo achando que aquilo era estranho demais. — Eu não sei nem se eu devia ter parado pra te ouvir… vai que você some depois que eu aparecer num restaurante chique devendo até a cadeira que sentei.
Harry soltou uma risada curta, e isso só fez Yara ficar mais desconcertada.
— Prometo que não vou te deixar devendo cadeira nenhuma. — disse ele. — E o jantar é só pra conversarmos sobre… o possível trabalho.Nada mais.
Ela continuou olhando desconfiada, mas a ponta do lábio subiu, quase sem querer.
— Você fala bonito, hein? Parece até que eu sou obrigada a acreditar.
— Não é. — ele respondeu, sincero. — Mas eu adoraria que acreditasse. E, se decidir não ir, tudo bem. Pode só me mandar uma mensagem dizendo “não, obrigada”.
Yara guardou o celular de novo.
— Tá. Vou pensar. — disse ela, dando um meio sorriso, antes de acrescentar com ironia leve: — Mas não espera muito não, porque eu não demoro pra desistir das coisas que parecem confusão.
Harry inclinou levemente a cabeça, divertido.
— Confusão seria se eu não estivesse te propondo algo sério.
Ela arqueou uma sobrancelha, cética.
— Veremos.
Um chamado do gerente fez Yara se virar de repente.
— Preciso voltar. — disse ela. — Se eu mandar mensagem… você responde rápido?
— Na hora. — Harry garantiu.
Yara assentiu, deu um último sorriso curto e desapareceu de volta para dentro do bar, enquanto Harry a seguia com os olhos por mais tempo do que deveria