Yuri estava parado no corredor do hospital, a respiração pesada, como se cada sopro fosse uma luta. E realmente era. Os seus ombros, tensos, pareciam carregar o peso do mundo, e a suas mãos estavam cerradas em punhos tão firmes que os nós dos dedos estavam esbranquiçados. Diante dele, dois policiais mantinham as mãos próximas às armas depois que os seus soldados os soltaram. Uma mistura de cautela e incerteza estampava os seus rostos enquanto observavam Yuri.
Os olhos de Yuri eram como lâminas afiadas, cortando o espaço entre ele e os dois uniformizados. Não era apenas raiva que emanava do seu olhar; era uma fúria primitiva, visceral, que parecia crescer de um poço profundo de injustiça e dor. A suas pupilas estavam dilatadas, e a intensidade daquele olhar era quase insuportável, como se ele pudesse perfurar a alma de quem ousasse encará-lo.
Cada movimento dos policiais parecia alimentar a sua indignação. Ele os encarava com olhos que queimavam de ódio, mas havia algo mais lá dentro: uma dor surda, uma ferida aberta que não havia cicatrizado devido à condição de Sofia. A sua mandíbula estava tensa, os músculos do maxilar se destacando sob a pele como cabos de aço prestes a arrebentar.
— Quem é você? — perguntou um dos policiais, com o suor escorrendo pelo rosto enquanto observava o semblante furioso de Yuri.
— Quem sou eu? — repetiu Yuri, com um sorriso de canto que não chegava aos olhos. — Eu sou aquele que vai colocar uma bala no meio da cabeça de vocês se algo acontecer com a minha noiva.
A raiva o consumia por completo, mas não era descontrolada. Era concentrada, dirigida, como uma arma engatilhada. Os policiais tentavam manter a compostura, mas sentiam o peso daquele olhar. Os seus olhos se arregalaram com as palavras de Yuri, e a ideia da pequena mulher nos braços do homem à sua frente os deixava abismados.
— Sua noiva? — perguntou o outro.
— Vocês são surdos, por acaso? — retrucou Yuri, com os dentes cerrados.
— Olha como fala! Somos policiais e podemos prender você apenas pela ameaça às nossas vidas — respondeu um deles.
A cada segundo que passava, a tensão aumentava. Yuri deu um passo à frente, lento, deliberado, mas não disse nada. Os seus olhos, ainda fixos nos dois, os mantinham em um estado de alerta absoluto. Havia algo de predatório naquele olhar, como o de um animal encurralado, e era exatamente assim que os dois se sentiam.
— Vocês estão com sorte que hoje ela é minha maior preocupação. Caso contrário, a conversa seria diferente — disse ele de forma lenta, fazendo um arrepio subir pela coluna dos policiais.
— Ok, acho que começamos errado — disse um dos policiais. — Eu sou Leo, ele é Ben. Recebemos uma denúncia de que algo estava acontecendo na universidade e de que alguém havia sido levado. Viemos verificar o que houve.
Yuri suspirou, frustrado. Não ganharia nada tirando a vida daqueles dois e não queria que Sofia acordasse e o visse coberto de sangue.
— Ao que parece, ela sofreu um atentado. Tentaram sequestrá-la, mas um dos nossos conseguiu impedir — respondeu Yuri a contragosto.
— Um dos seus? Como assim? — perguntou Ben. Aquilo estava cansando Yuri, então ele simplesmente jogou a verdade para os dois homens à sua frente, sem paciência para lidar com eles.
— Meu nome é Yuri Ivanove — disse ele, encarando os dois homens.
— Espera! Você disse Ivanove? — perguntou Leo, com os olhos arregalados.
— Exatamente — respondeu Yuri, observando o espanto dos homens se transformar em puro pavor.
— Então você é o Don...
— Não vamos querer ter essa conversa aqui — interrompeu Yuri, em um tom mais baixo, encarando os homens.
— Nos desculpe, senhor Ivanove — disse Leo, colocando a mão no ombro de Ben para contê-lo. — Mas precisamos saber como a senhorita Sofia está. Afinal, precisamos lidar com a denúncia.
— Ela está sendo atendida. Estava desacordada, então não acho que terá como falar com ela agora.
— Então retornaremos mais tarde — disse Leo, já se retirando.
Yuri observou os policiais partirem com alívio. Por dentro, sua mente era um turbilhão, e ele não tinha paciência para responder às perguntas intermináveis. Sentia o coração bater rápido à medida que os minutos se passavam e não havia informações sobre Sofia. Quando o médico saiu, Yuri respirou aliviado.
— Como ela está? — perguntou.
— Ela está bem. Foi apenas uma concussão, mas precisará de um pouco de repouso e cuidado. No entanto, ela terá que ficar aqui até amanhã para que eu possa monitorar seu estado de saúde.
— Isso me deixa mais aliviado. Transfira-a para um bom quarto — disse Yuri.
— Farei isso agora mesmo, senhor — respondeu o médico, já se retirando.
Assim que o médico saiu, o telefone de Yuri tocou. Ele já imaginava quem seria e estava surpreso por a ligação não ter vindo antes.
— Fala, Rino — disse ele, suspirando.
— Se algo acontecer com a minha irmã, eu te mato, Yuri! Confiei em você, e agora ela está no hospital! — ouvir aquelas palavras de Ricardo era como cravar uma faca no peito de Yuri. Ele já se sentia culpado pelo que houve, e nada do que Ricardo dissesse o faria sentir-se pior.
— Eu sei, Ricardo. Eu falhei com você e com ela. Jamais me perdoarei por isso — respondeu, deixando-se cair em uma das cadeiras do corredor.
— Estou indo aí. Devo chegar de madrugada e quero a cabeça do infeliz que ousou tocar nela! — Yuri já imaginava o banho de sangue que Ricardo causaria na cidade se o culpado não aparecesse. Nada o tirava mais do sério do que mexer com a sua família, e quem havia tocado em Sofia descobriria isso da pior forma possível.
— Meu pessoal está investigando. Vamos achar o desgraçado que tentou levá-la. — Yuri não mencionou o professor nem suas suspeitas. Precisava ter certeza antes de tomar uma decisão definitiva.
— Te aviso quando chegar — disse Ricardo, desligando o telefone.
Yuri procurou o número de Hideo na agenda e ligou para ele. Jamais em sua vida pensou que faria aquilo, mas as divergências com a Yakuza estavam no passado. Encontrar quem havia machucado Sofia era mais importante, e Yuri torcia para que fosse o professor.