Capítulo 68

1021 Words
Ricardo respirava aliviado ao sentir as rodas do jato tocarem a pista de pouso. Por sorte, o voo não tinha sido demorado, e, enquanto descia do jato, os seus pensamentos se voltavam para Sofia, no hospital da cidade. Ricardo viu Xavier trazendo Mel nos seus braços; ela ainda dormia de forma tranquila, agarrada a ele. Eles entraram no carro e partiram para o endereço que Yuri havia mandado. Não passou despercebido a Ricardo os carros que os seguiam. Eram homens de Hideo; ele reconhecera o emblema. O japonês gostava de mandar recados quando fazia algum serviço. Quando finalmente chegaram ao hospital, Ricardo ouviu Xavier acordando Mel. Ele os deixou e entrou, os seus pensamentos voltados para sua delicada irmã. No momento em que abriu a porta do quarto de Sofia, ouviu a sua risada e viu Yuri alimentando-a como se fosse uma criança. A princípio, o seu peito se encheu de alívio ao ouvir a risada dela. Ela estava bem. Mas, ao olhar para o russo, a raiva que ele tentara controlar durante o voo veio à tona como uma bomba explodindo. Enquanto caminhava, Ricardo só via Yuri à sua frente. Era como se os sons e tudo o mais tivessem sumido, e o seu único objetivo estivesse à sua frente. Ricardo não sabia o que alertara Yuri da sua presença, mas, no momento em que o russo se virou, encontrou o punho de Ricardo colidindo com o seu rosto e o derrubando do banquinho onde estava sentado. — p***a, Rino! — exclamou Yuri, limpando o canto da boca. — Filho da p**a! Eu vou te matar, Yuri! — Os olhos de Yuri estavam arregalados enquanto observava Ricardo. Ele já tinha visto o seu amigo bravo várias vezes, mas aquilo estava em outro nível; ele estava além de furioso. — Olha, Ricardo, eu... — Não teve tempo de terminar. Ricardo já tinha se jogado sobre ele, desferindo vários golpes no seu rosto. A sua raiva e o medo de perder a sua irmã falavam mais alto. — Tem noção do que eu passei? — gritou enquanto batia em Yuri. Ricardo estava fora de si, e, para sua tristeza, Yuri não reagia aos seus socos. — Me desculpa, Rino! — disse Yuri, desviando de um dos socos de Ricardo. — Desculpa é o caramba! Eu vou arrancar o seu couro com a minha faca! — gritou Ricardo, dando outro soco no rosto de Yuri. Sofia observava a cena em choque. Estava paralisada. Nunca na sua vida tinha visto o seu irmão tão fora de si como naquele momento. Ela via Yuri tentando acalmá-lo, mas sem sucesso, e, para piorar, ele ainda estava permitindo que Ricardo o agredisse. — Para, irmão! — disse ela, em desespero. — Quase perco a minha irmã, russo! Se isso tivesse acontecido, você já estaria morto! — Yuri segurou os punhos de Ricardo e o derrubou no chão, imobilizando-o. — Se isso tivesse acontecido, eu mesmo colocaria uma bala na minha cabeça. Eu a amo, Ricardo. Jamais me perdoarei pelo que houve — disse Yuri, tentando contê-lo. Mas Ricardo, de alguma forma, conseguiu sair do aperto de Yuri e partiu para cima dele novamente. — Ricardo, não é culpa dele! — gritou Sofia, tentando se levantar da cama. — Fica fora disso, Sofia! — Calma, Ricardo, vamos... — O punho de Ricardo acertou Yuri, calando-o. Yuri já sentia o sangue escorrendo pelo rosto, nos lugares onde Ricardo o havia acertado. O seu cunhado tinha uma mão pesada. Do lado de fora do quarto, os soldados ouviam o barulho com olhos arregalados. Sabiam o quanto o líder da Fênix era protetor e, mesmo que Yuri fosse o líder da máfia russa, não escaparia da sua fúria. — Que p***a vocês estão fazendo que ainda não entraram?! — gritou Xavier, entrando no quarto correndo. Quando viu o estado de Yuri, praguejou, enquanto tentava tirar Ricardo de cima do russo. — Me solta, Xavier! Eu vou apertar o seu pescoço até você parar de respirar, Yuri! — gritou Ricardo. Então, deu uma cotovelada nas costelas de Xavier, obrigando-o a soltá-lo. — Merda! — exclamou Xavier, vendo Ricardo voltar a bater em Yuri, que continuava sem reagir. — Para, irmão! — gritou Sofia, desesperada. Quando tentou sair da cama para ajudar, acabou caindo no chão com um grito. — Sofia! — gritou Yuri, desesperado. Ele aproveitou a distração de Ricardo e o empurrou, correndo até onde ela estava. — Calma, querida, vou pegar você. Ricardo viu a cena com um misto de sentimentos. Ele podia perceber a preocupação e o medo nos olhos do russo enquanto pegava Sofia com cuidado nos seus braços e a colocava na cama. Yuri rapidamente apertou um botão para chamar o médico, passando as mãos pelos cabelos em desespero. Ricardo podia querer matar o russo, mas não podia negar que ele amava a sua irmãzinha com tudo o que tinha. Ver a forma como Yuri segurava a mão dela, enquanto a confortava, era a resposta de que precisava para ter certeza de que Yuri era a pessoa certa para ela. — Me deixou preocupado, Sofia — disse Ricardo, aproximando-se da cama dela. Quando os olhos de Sofia encontraram os de Ricardo, ela começou a chorar, estendendo a mão para ele. Aqueles olhos, tão parecidos com os dele e que nunca demonstravam vulnerabilidade, estavam naquele momento vermelhos, enquanto lágrimas desciam por seu rosto. — Eu estou aqui, querida — disse Ricardo, deitando-se ao lado de Sofia e puxando-a para si. Ele sentia o pequeno corpo da sua irmã tremer, agarrado a ele, enquanto ela chorava. Ricardo havia pensado apenas em si e no que tinha sentido com o que acontecera, mas, vendo como aquilo tinha afetado a sua irmã, sempre tão forte, ele se sentiu culpado. Aquilo não era sobre ele; era sobre ela e sobre como Sofia precisava da sua presença e proteção. Da porta, Mel observava a cena, segurando o choro que subia por seu peito. Era a primeira vez que via a sua irmã chorar, e sabia que aquilo era o que Sofia precisava: não bastava apenas cuidar dos outros; ela também precisava ser cuidada.
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