Yuri fica surpreso por um segundo antes de retribuir o abraço de Sofia. A pista de gelo era iluminada por luzes suaves, refletindo no chão cristalino que parecia um espelho mágico. O frio da noite era amenizado pela música ao fundo. Sofia, ainda com os braços ao redor de Yuri, sentiu-se estranhamente protegida e vulnerável ao mesmo tempo. O calor do corpo dele parecia uma contradição à imponência fria da sua personalidade.
— Gostou? — perguntou Yuri, com um sorriso que parecia genuinamente esperançoso.
Sofia afastou-se levemente, corando por se perceber tão próxima dele, o que não faria sentido já que tinham compartilhado um momento íntimo antes. Olhou em volta, absorvendo cada detalhe daquele momento.
— É lindo... Não sabia que gostava de patinar no gelo. — Sua voz tinha um tom misto de surpresa e curiosidade.
— Nem tudo sobre mim é óbvio, Sofia. — Ele deu um passo para trás, abrindo espaço para que ela o seguisse em direção ao balcão onde estavam os patins. — E hoje, quero que descubra algo novo.
Enquanto Yuri pegava os patins e ajudava Sofia a ajustá-los, ela o observava de soslaio. Ali estava o homem mais temido pelos seus inimigos, agachado à sua frente, ajustando os cadarços com uma delicadeza que destoava da sua figura imponente. Era difícil conciliar as duas facetas: o líder da máfia e o homem que agora se preocupava em garantir que os seus patins estivessem perfeitamente confortáveis.
— Você parece... diferente hoje. — Sofia falou quase sem pensar, e imediatamente se arrependeu ao ver a expressão curiosa de Yuri.
— Diferente? — Ele ergueu uma sobrancelha, um sorriso divertido brincando nos seus lábios. — Espero que seja para melhor.
— Talvez. — Ela tentou soar desinteressada, mas o sorriso que ele lhe lançou mostrou que não havia conseguido enganá-lo.
Assim que os dois estavam prontos, Yuri conduziu Sofia até a beira da pista. Ele entrou primeiro, deslizando com uma facilidade que a surpreendeu.
— Você sabe mesmo fazer isso, hein? — Sofia comentou, cruzando os braços enquanto hesitava em pisar no gelo. Yuri virou-se para ela, estendendo a mão.
— Confie em mim. Vou te ensinar.
Sofia mordeu o lábio, ponderando. Aceitar a ajuda dele significava admitir que precisava dele, pelo menos naquele momento. Era uma vulnerabilidade que ela relutava em mostrar, mas algo na expressão serena de Yuri a encorajou. Ela segurou a sua mão.
Assim que pisou no gelo, Sofia sentiu o mundo girar. Era escorregadio e instável, e ela imediatamente agarrou o braço de Yuri.
— Isso é uma péssima ideia! — exclamou, os olhos arregalados. Yuri riu, uma risada genuína que fez o seu rosto parecer anos mais jovem, e para ela era encantador por que sabia que ele estava sendo cem por sento verdadeiro.
— Relaxa, pequena. Estou aqui.
Com paciência, ele começou a guiá-la, um passo de cada vez. A proximidade entre os dois fez com que Sofia notasse detalhes que antes escapavam a seus olhos: a leveza nos movimentos de Yuri, os sorrisos que surgiam quando ela tropeçava e se segurava nele, o jeito como ele a encorajava com palavras calmas. Era como se aquele homem, tão acostumado a comandar com pulso firme, tivesse encontrado uma nova forma de liderar: com gentileza.
— Você está indo bem. — Yuri disse após alguns minutos.
— Mentiroso. — Sofia respondeu, rindo nervosamente. — Acho que sou uma péssima aluna.
— Não é verdade. — Ele parou, segurando-a pelos ombros. Os seus olhos encontraram os dela, mais profundos do que ela lembrava. — Sofia, você só precisa confiar mais em si mesma. Não tenha medo de cair, eu estou aqui com você.
Sofia ficou em silêncio, processando aquelas palavras que pareciam ter um significado maior do que apenas patinação. O vento gelado tocava o seu rosto, mas ela m*l sentia. A sua atenção estava completamente focada no homem à sua frente. A ideia de que Yuri pudesse ser algo além do que ela sempre acreditou começava a tomar forma na sua mente.
— Vou tentar. — Ela respondeu baixinho.
Yuri sorriu, e havia algo de infantil e puro naquele gesto que desarmou completamente Sofia. Era como se, por um breve momento, ele não fosse o poderoso Don, mas apenas um homem tentando fazer algo especial por alguém que lhe importava.
O tempo passou rápido. Sofia começou a se soltar mais, arriscando deslizar sozinha enquanto Yuri a observava de perto, pronto para segurá-la caso caísse. Ela riu das suas próprias trapalhadas e, para sua surpresa, sentiu-se leve, quase como uma criança brincando sem preocupações, e aquele sentimento era maravilhoso, a liberdade que ela desfrutava assim como o fato de não ter ninguém para a julgar caso errasse.
— Você está melhorando. — Yuri comentou quando Sofia conseguiu completar uma pequena volta sem cair.
— Não sei se posso chamar isso de "melhorar", mas obrigada pelo incentivo. — Sofia respondeu, divertida. Yuri aproximou-se, segurando as suas mãos.
— Estou falando sério. Você é mais capaz do que imagina.
Sofia desviou o olhar, sentindo o coração acelerar. A intensidade nos olhos de Yuri fazia algo no seu interior se agitar. Como era possível que ele, o homem que tantas vezes a irritou com a sua arrogância, pudesse ser tão... inspirador? Talvez não chegasse a tanto, mas havia algo mais ali, algo que ela ainda não enchergava totalmente.
— E você? — Ela perguntou, tentando mudar o foco. — Quem diria que um homem como você sabe patinar no gelo.
Yuri riu, soltando as suas mãos e deslizando para trás com a habilidade de alguém que fazia aquilo há anos.
— Oksana me ensinou. — Ele disse, referindo-se à irmã. A sua voz tornou-se mais suave, cheia de saudade. — Era uma das poucas coisas que fazíamos juntos, longe do caos do nosso mundo.
Sofia sentiu uma pontada no peito ao ver a vulnerabilidade nos olhos dele. Era raro que Yuri deixasse transparecer os seus sentimentos, mas quando o fazia, havia algo incrivelmente humano e tocante nele.
— Ela deve ter sido uma pessoa incrível. — Sofia disse com sinceridade.
— Ela é. — Yuri concordou, antes de mudar de assunto. — Agora, vamos ver se consegue me seguir. Aposto que não consegue me alcançar.
Sofia ergueu as sobrancelhas, aceitando o desafio.
— Não subestime uma dama da sociedade. — Ela respondeu, divertida.
Os dois começaram a patinar, rindo e provocando um ao outro. Por alguns momentos, as tensões e os papéis que desempenhavam na vida real foram esquecidos. Ali, no gelo, eram apenas Yuri e Sofia, descobrindo mais um sobre o outro. Quando finalmente pararam para descansar, Sofia sentiu uma sensação de plenitude que não experimentava há muito tempo. Yuri sentou-se ao seu lado no banco, e por um momento o silêncio foi confortável.
— Obrigada por isso. — Sofia disse, olhando para ele. — Acho que precisava de algo assim.
— Eu também. — Yuri respondeu, sua voz baixa e honesta.
Sofia desviou o olhar, sentindo um calor no peito que não tinha a ver com o frio. Aos poucos, ela começava a enxergar Yuri de uma forma diferente. E, talvez, ele também estivesse descobrindo que Sofia era muito mais do que a dama reservada que todos imaginavam.
Enquanto as luzes da pista brilhavam ao fundo, os dois permaneceram ali, compartilhando um momento que era só deles. Um momento de aprendizado, de vulnerabilidade e, acima de tudo, de conexão. Em breve eles estariam casados, pertenceriam um ao outro e Sofia desejava descobrir mais da pessoa que a cada dia cativava o seu coração.