Capítulo 56

1113 Words
Após o momento na pista de gelo, Yuri e Sofia retornaram ao carro. A noite parecia ter tomado um rumo inesperado, mais leve do que Sofia jamais imaginou possível depois da discussão que haviam tido. Enquanto Yuri dirigia, o silêncio entre eles não era desconfortável, mas cheio de algo novo: uma quietude carregada de possibilidades. Ela gostava daquilo, de poderem ter alguns minutos apenas os dois sem a presença constantes dos seguranças. No interior do carro tudo o que ela sentia era aquele cheiro gostoso, masculino que vinha de Yuri sentado ao seu lado. — Isso não é o caminho de casa, Yuri. — Sofia observou, quebrando o silêncio. Yuri lançou-lhe um breve olhar, um sorriso brincando nos lábios. — Você é esperta como sempre. Ainda não terminamos a nossa noite, Sofia. Ela arqueou uma sobrancelha, curiosa, mas não insistiu. Estava cansada demais para discutir, mas, ao mesmo tempo, intrigada demais para recusar. A cidade parecia mágica sob a luz dos postes e o brilho suave da neve que começava a cobrir as ruas. Quando finalmente chegaram, Sofia ficou sem palavras. Diante deles, havia um pequeno restaurante à beira de um lago parcialmente congelado. Luzes de fadas pendiam das árvores ao redor, iluminando suavemente o ambiente com um brilho dourado. O restaurante, embora discreto, tinha uma atmosfera acolhedora e intima. — Pensei que seria melhor jantar em um lugar tranquilo. — Yuri explicou enquanto saía do carro e abria a porta para ela. Sofia aceitou a sua mão para descer, ainda surpresa. Aquele lado de Yuri, atencioso e até romântico, era algo que ela não estava acostumada a ver. — Parece... encantador. — Admitiu ela, olhando em volta. Ela já morava naquela cidade a um bom tempo, mas nunca tinha saido realemnte para conhece-la, e o que Yuri estava lhe mosntrando a deixava fascinada. — Espere até ver o menu. — Ele piscou, oferecendo-lhe o braço. Sofia hesitou por um momento antes de aceitar o gesto. Enquanto caminhavam até o restaurante, sentiu um calor reconfortante no braço de Yuri. Era estranho, mas não desagradável. Eles foram conduzidos a uma mesa próxima a uma grande janela, de onde podiam ver o lago e a neve caindo. A música suave tocava ao fundo, criando um ambiente perfeito para a noite que Yuri parecia estar planejando. — Espero que goste do nosso jantar. — Disse ele, entregando-lhe o menu. — Sei que vou adorar. — Sofia respondeu, mas estava mais focada nele do que no cardápio. — Por que está fazendo tudo isso, Yuri? A pergunta saiu antes que ela pudesse se conter. Yuri olhou para ela por um momento, a sua expressão suavizando. — Eu queria compensar pelo que aconteceu mais cedo. — Ele admitiu. — Fui irracional, e não quero que você pense que não valorizo o que você faz. Sofia ficou em silêncio, surpresa com a honestidade dele. Aquilo não era típico de Yuri. Ele parecia desconfortável, como se aquelas palavras não fossem fáceis de dizer, e isso apenas tornava tudo mais genuíno. Sofia sabia que ele tinha uma veia possessiva e dominadora, mas naquele momento ele tentava deixar tudo de lado para estar com ela. — Obrigada por dizer isso. — Disse ela, finalmente. — E... por tudo isso. — Ela gesticulou para o restaurante ao redor. — É lindo. Yuri apenas assentiu, parecendo satisfeito. O garçom chegou com os pedidos, e a conversa mudou para assuntos mais leves. Eles falaram sobre o restaurante, sobre o inverno e, eventualmente, sobre memórias de infância. — Nunca imaginei você em uma pista de patinação, sabia? — Sofia comentou, rindo. — Por que não? — Yuri perguntou, fingindo estar ofendido. — Porque você sempre parece tão... sério. — Ela respondeu, sorrindo. — Não sou sério o tempo todo. — Ele disse, cruzando os braços. — Acho que você está começando a descobrir isso, mas entenda Sofia, esse meu lado apenas você o verá. — Eu entendo. — Sofia admitiu, o tom brincalhão dando lugar a algo mais suave. — É estranho, mas, às vezes, parece que você é duas pessoas diferentes. — Talvez eu seja. — Yuri respondeu, sua voz mais baixa agora. — O homem que você vê na maior parte do tempo é o que eu precisei me tornar. Mas, com você, Sofia, eu... — Ele hesitou, procurando as palavras. — Não preciso ser tão rígido. Você me faz querer ser... melhor. Sofia ficou sem palavras. Havia uma vulnerabilidade nas palavras dele que ela nunca tinha visto antes. Era desconcertante, mas também comovente. — Eu não sei o que dizer. — Ela admitiu, olhando para o vinho no seu copo. — Não precisa dizer nada. — Yuri respondeu, pegando a sua mão sobre a mesa. — Só quero que saiba que estou tentando. Por você. O toque dele era quente, firme, mas também surpreendentemente delicado. Sofia olhou para a mão de Yuri sobre a sua e gostava da forma que a mão dele cobria totalmente a sua. Havia um novo peso naquela relação que ela começava a entender, um peso que não era opressivo, mas transformador. Depois do jantar, Yuri a levou para uma pequena caminhada ao redor do lago. O ar estava frio, mas ele insistiu em lhe oferecer o casaco, o que a fez sorrir. O russo era como um cavalheiro de armadura brilhante, mas ao inves de usar uma espada ele usava uma pistola carregada. — Você está me surpreendendo muito hoje, sabia? — Sofia disse enquanto eles caminhavam. — Espero que para melhor. — Ele respondeu, segurando a sua mão. — Sim, para melhor. — Ela admitiu, olhando para ele. Yuri parou de andar, virando-se para encará-la. Por um momento, nenhum dos dois disse nada. O mundo parecia silenciar ao redor, deixando-os sozinhos sob a neve que caía suavemente. — Eu sei que ainda temos muito para resolver. — Disse ele, finalmente. — Mas, Sofia, quero que saiba que estou disposto a fazer o que for preciso para fazer isso dar certo. Sofia sentiu uma onda de emoções a inundar. Não sabia o que o futuro reservava para eles, mas, naquele momento, queria acreditar que poderiam encontrar uma maneira de fazer aquilo funcionar. Ela havia prometido a Yuri que tentaria e faria aquilo. — Também quero tentar. — Ela respondeu, sua voz quase um sussurro. O sorriso que Yuri lhe deu foi diferente de qualquer outro que ela já tinha visto. Era suave, quase tímido, e fez o coração dela bater mais rápido. Ele se aproximou lentamente, como se temesse assustá-la, e, quando finalmente os seus lábios se encontraram, Sofia soube que aquele era o início de algo que ela ainda não compreendia completamente, mas estava disposta a descobrir.
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