Ricardo era a imagem da fúria e destruição. Os seus olhos estavam sombrios, e seus ombros, tensos. Ninguém no avião ousava encará-lo. Ele havia tentado ser brando, mas parecia que agir com calma e tranquilidade não adiantava nada. Alguém ousou tocar em sua família e colheria os frutos dessa audácia. Ele não se importava quem estaria na mira da sua arma; a única certeza que tinha era que puxaria o gatilho.
Os seus dias estavam cheios de tensão. Diferente do nascimento da sua filha, Estela estava sofrendo com aquela segunda gestação, e agora a suas preocupações haviam dobrado, já que precisava lidar também com o que havia acontecido a Sofia. Ele estava dividido, mas Estela implorou para que ele fosse ver como a sua irmã estava. Enquanto isso, Vito e Isabel estavam com Estela em casa.
O bebê poderia nascer a qualquer momento. Ao que parecia, o seu garotinho estava lhe pregando uma peça com aquela demora, mas valeria a pena. Assim que Sofia estivesse segura, ele retornaria rapidamente para o lado da sua esposa. Pensar em Sofia, para Ricardo, era como ter um gosto amargo na boca — não por causa dela, mas pelo que haviam ousado fazer com a menina dos seus olhos.
Mel havia feito um escândalo ao descobrir o que houve. Infelizmente, Ricardo não conseguiu mantê-la longe de tudo aquilo. Ele olhava para o rosto inchado dela com pesar. Mel havia chorado até pegar no sono, de tão preocupada que ficou. Aquilo matava Ricardo por dentro. Ele era protetor com a sua família, e vê-los sofrendo naquele momento o deixava profundamente irritado. Alguém pagaria.
Ele observou Xavier pegar Mel e levá-la até o pequeno quarto no fundo do avião. Depois, Xavier voltou e se sentou de frente para Ricardo.
— Eu vou matar esse desgraçado — disse Xavier, com olhos sombrios. Ele lutava para que os dias da sua esposa fossem sempre felizes e cheios de luz, mas alguém havia interrompido essa rotina e pagaria pelas lágrimas que Mel derramou.
— Você não imagina o ódio que eu estou, Xavier. Só quero pôr as mãos nesse infeliz e torcer o seu pescoço — disse Ricardo, apertando as mãos até os nós dos dedos ficarem brancos.
— Precisamos investigar isso direito. Não vejo uma ligação clara desse ataque com ela.
Ricardo já havia pensado nisso. Todos o conheciam e sabiam que Sofia era sua irmã. Ela era praticamente intocável. Ninguém iniciaria uma guerra com ele tocando nela. Algo estava errado nessa história.
— O relatório que Hideo mandou também não diz muita coisa — respondeu ele, pensativo.
— Estamos deixando algo passar, chefe. E é isso que vai nos ajudar a chegar ao fundo desse mistério.
Ricardo suspirou, frustrado. Ele começaria uma busca em todas as organizações atrás de respostas. Encontraria quem havia ferido a sua irmã. Nada ficava escondido dele quando estava atrás de respostas.
— Ela não fica mais lá, Xavier. Não adianta Sofia tentar me convencer. Desta vez, ela vai voltar comigo — disse de forma ríspida. Estava mais que frustrado. O seu corpo era uma arma mortal, acumulando energia naquele momento. Tudo o que Ricardo desejava era liberar essa tensão sobre o responsável pelo que aconteceu com Sofia.
— Vai ser mais seguro ela retornar. Lá, mesmo com os seguranças, ela fica muito exposta — respondeu Xavier.
— Acho que tenho algo mais eficiente — disse Ricardo, pensativo, com os olhos vagos enquanto absorvia o que desejava fazer.
— E o que seria? — perguntou Xavier.
— Vou adiantar o casamento dela com o russo.
Xavier olhou surpreso para Ricardo, mas no seu olhar não havia qualquer traço de dúvida sobre o que ele faria.
— Tem certeza disso? Você estava bem relutante com esse relacionamento deles — disse ele, observando com atenção as reações de Ricardo.
— Odeio pensar naquele russo encostando na minha irmã, tanto quanto odeio pensar em você perto da Mel — respondeu Ricardo, com os dentes trincados.
— Já superamos isso, chefe — disse Xavier, levantando as mãos.
— Eu sei, Xavier. Mas é algo que vai além de mim. Não fico muito racional quando se trata das minhas garotas.
— É por isso que o respeito cada dia mais, chefe. Mesmo estando casado com a Mel, você sempre está lá por ela. É um irmão valioso, e ela o ama muito.
Xavier era possessivo e entendia esse comportamento de Ricardo. Todos andavam na linha perto dele.
— Acho que ele vai cuidar bem dela, Xavier. Se ele não fizer isso, é um homem morto — disse Ricardo, com um brilho diferente nos olhos.
— Incentivo é o que não vai faltar — respondeu Xavier, com um sorriso de canto. Ricardo apenas bufou, e um pequeno sorriso surgiu no seu rosto.
— Ele tem boas conexões, e ninguém quer uma briga com aqueles malditos russos.
— Verdade. E é justamente isso que eu não entendo. Quem está desejando a morte ao mexer com a Sofia? Qualquer um com dois neurônios ficaria longe dela.
Quanto mais investigavam, mais perguntas apareciam e menos respostas encontravam.
— Yuri disse que encontrou algo, mas, como estamos indo, achei melhor conversar pessoalmente.
— Verdade. Mas pega leve com ele. Aposto que ele já está se culpando mais do que deveria.
Os olhos de Xavier eram tranquilos e calmos ao dizer isso. Eles eram como irmãos, e um sempre tomava a dor do outro. Por mais que Ricardo quisesse quebrar alguns ossos do corpo do russo, sabia que Xavier estava certo. Yuri não havia deixado Sofia sozinha por nada nos dias em que esteve lá. Só se ausentou no dia em que ela se machucou porque realmente precisava resolver algo urgente.
— Não vou prometer isso — disse Ricardo, com o maxilar trincado. Eles tinham a sua forma de se entender, e trocar socos entre eles era uma delas. O russo que se preparasse, porque Ricardo estava chegando.