Capítulo 53

1203 Words
Yuri acompanhava cada pequeno gesto de Sofia com uma intensidade quase hipnótica. Ele gostava de vê-la envergonhada, o rubor subindo pelas suas bochechas sempre que os seus olhares se encontravam. No carro, a tensão era palpável. Apesar das palavras gentis e o tom leve que ela insistia em usar, Yuri percebia cada nuance. Sabia que Sofia se sentia desconfortável com a sua insistência em acompanhá-la até a universidade, mas ele tinha as suas razões. Queria garantir, acima de tudo, que ela estava segura. No fundo, Yuri sabia que o seu zelo ultrapassava o limite da preocupação. Era possessividade. Assim que estacionaram e ele viu o homem vindo em direção a Sofia, um calor desagradável subiu pelo peito de Yuri. O sorriso aberto do homem, combinado com a familiaridade com que ele se aproximava, fez o sangue de Yuri ferver. Ele sentiu os seus punhos se fecharem, a tensão percorrendo os seus ombros. Antes que Sofia pudesse reagir, o professor abriu a porta do carro, dirigindo-se a ela com um cumprimento casual, como se Yuri fosse invisível. A intervenção de Yuri foi rápida, quase instintiva. Ele puxou a mão de Sofia para si, com firmeza, quase como se dissesse ao mundo que ela era dele. O tom de voz que usou com o homem era frio, cortante, carregado de uma ameaça velada. Apesar da expressão amigável do professor, Yuri não podia ignorar o desconforto que a postura altiva dele lhe causava. — Agradeceria se não tocasse na minha noiva. — diz ele fuzilando o homem com o olhar. Ele percebe o professor vacilar diante da sua expressão. Sofia, por sua vez, parecia desconcertada. Tentava aplacar a tensão evidente entre os dois homens, mas o olhar de Yuri nunca deixou o outro por um segundo. Ele era como um predador avaliando a ameaça de um intruso no seu território. Quando o professor pediu desculpas, tentando desviar o clima, Yuri apenas soltou um pequeno som de aprovação, mas não relaxou. Enquanto caminhavam para dentro da universidade, Sofia parou e virou-se para Yuri, visivelmente aborrecida. — Não precisava ter sido tão grosseiro, Yuri. Ele é só um colega de trabalho. — Ele parou também, seus olhos fixos nela, sua expressão impenetrável. — Não confio em homens que olham para você como se quisessem mais do que amizade. — A voz de Yuri era firme, quase desafiadora. — Eu vi o jeito que ele te olhou, Sofia. — Você está exagerando! — Ela cruzou os braços, exasperada. — Ele é um professor respeitável, não tem segundas intenções. Yuri inclinou-se levemente em direção a ela, a voz mais baixa agora, mas ainda tensa. Ao que parecia a sua noiva não estava atenta ao olhar de desejo que ele havia visto nos olhos do homem. — Você pode não perceber, mas eu percebo. Não gosto disso. E não vou fingir que gosto. Sofia suspirou, tentando conter o nervosismo. Sabia que discutir com Yuri quando ele estava nesse estado era inútil. Ele tinha um jeito de transformar qualquer argumento a seu favor, um jeito de fazer a suas inseguranças parecerem proteção. Enquanto Sofia trabalhava, Yuri permaneceu em uma sala próxima, sob o pretexto de que precisava aguardar para levá-la de volta para casa. Na verdade, ele estava inquieto. O pensamento do professor voltava à sua mente repetidamente. Quem era aquele homem para se aproximar dela com tanta familiaridade? E se Sofia não percebesse as intenções escondidas? Esses pensamentos o fizeram verificar como estava a investigação, precisava saber quem era aquele homem. Ele tentou se concentrar em outra coisa, mas a cada risada distante que ouvia, a sua imaginação corria solta. Será que Sofia estava conversando com aquele homem de novo? Será que ela também ria com ele daquele jeito? Yuri odiava sentir-se fora de controle. O seu amor por Sofia era como uma chama ardente que, às vezes, ameaçava consumi-lo. Ele sabia que o seu comportamento beirava o irracional, mas simplesmente não conseguia evitar. A ideia de perdê-la para outro era insuportável. Quando o relógio marcava o horário de término da aula, Yuri levantou-se de imediato, saindo ao encontro de Sofia. A visão dela sorrindo enquanto se despedia de um grupo de colegas o acalmou por um breve momento, mas ele percebeu que o professor estava entre eles. Era o mesmo homem de antes, ainda sorrindo com aquela maldita expressão amistosa. — Sofia, estamos atrasados. — Yuri disse assim que se aproximou, ignorando completamente o grupo ao redor dela, tudo o que ele queria era a tirar do meio daquelas pessoas. O sorriso de Sofia sumiu por um instante, mas ela rapidamente disfarçou. Os colegas de Sofia olhavam para Yuri com olhos arregalados, quem não olharia. O russo tinha o poder de intimidar qualquer um até mesmo quando não queria, mas naquele momento ele estava feliz por ver os olhos assustados daquelas pessoas, isso significava que eles pensariam bem antes de se aproximar dela novamente. — Só mais um minuto, Yuri. Estou terminando aqui. — A voz de Sofia era suave e seu olhar era tranquilo enquanto o encarava, mas Yuri não estava gostando daquilo. Ele estreitou os olhos, a mandíbula apertada. Mesmo com o seu temperamento fervendo, ele sabia que precisava conter-se em público. Ainda assim, a sua mão foi até a cintura de Sofia, marcando território, como se precisasse lembrar aos outros que ela não estava disponível. O professor percebeu o gesto e deu um passo para trás, mantendo a expressão neutra. Contudo, isso não foi suficiente para Yuri. Ele lançou-lhe um último olhar de advertência antes de guiar Sofia para fora do prédio. No caminho para casa, o silêncio entre os dois era pesado. Sofia olhava pela janela, claramente incomodada, enquanto Yuri mantinha os olhos fixos na estrada. Ele sabia que ela queria dizer algo, mas também sabia que estava tentando evitar outra discussão. Finalmente, ela quebrou o silêncio. — Por que você faz isso, Yuri? — A voz dela era suave, mas carregada de tristeza. Ele apertou o volante, as palavras dela atingindo um ponto sensível. — Porque eu te amo, Sofia. E porque eu sei como o mundo é. — Ele virou-se para encará-la rapidamente antes de voltar a sua atenção para a estrada. — Eu só quero te proteger. — Proteger ou controlar? — Ela rebateu, os olhos fixando-se nele. Yuri sentiu um nó se formar na sua garganta. Não era controle, era medo. Medo de que ela percebesse que poderia ser feliz sem ele. Medo de que outra pessoa visse o quão especial ela era e a roubasse da sua vida. Ele não conseguia encontrar as palavras certas para explicar isso a ela. Ao invés disso, ele simplesmente sussurrou: — Você é tudo para mim, Sofia. O silêncio caiu sobre eles novamente, mas dessa vez era diferente. Não era apenas um silêncio desconfortável; era cheio de perguntas não respondidas, de emoções não ditas. Enquanto os dois navegavam pela tensão entre eles, Yuri percebeu que precisava encontrar uma maneira de lidar com os seus sentimentos. Mas a ideia de mudar, de abrir mão do controle, parecia impossível para ele. Para Yuri, a única certeza era que ele faria qualquer coisa para manter Sofia ao seu lado, mesmo que isso significasse enfrentar os seus próprios demônios.
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